São Paulo, domingo, 10 de fevereiro de 2002

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DIPLOMACIA

Após dedicar-se exclusivamente à ação antiterror, presidente decide voltar ao tema que já foi prioritário em seu governo

Bush retoma agenda política para a América Latina

MARCIO AITH
DE WASHINGTON

Passados cinco meses dos atentados terroristas nos EUA e depois de dedicar todos os seus esforços internacionais à guerra contra o terrorismo no Afeganistão, o presidente americano, George W. Bush, retoma sua agenda política para a América Latina.
A Casa Branca anunciou que o presidente fará no mês que vem uma viagem ao México, a El Salvador e ao Peru. A Folha apurou que, ao decidir por esse itinerário, a Casa Branca resolveu postergar uma viagem que Bush faria ao Brasil e a outros países do Cone Sul. O motivo foi a turbulência social e a instabilidade política na Argentina.
Segundo disse à Folha Sean McCormack, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, "assessores do presidente decidiram que esse seria o melhor itinerário no momento." O assessor disse ainda que a opção não exclui viagens a outros países da região no futuro.

Desenvolvimento
A visita ao Peru, no dia 23 de março, marcará sua primeira viagem à América do Sul. Em Lima, o presidente americano se encontrará com os líderes da Colômbia, do Equador e da Bolívia, países que integram o Tratado de Preferências Comerciais Andinas.
No México, onde fez no ano passado sua primeira viagem internacional depois de empossado na Casa Branca, Bush participará de uma conferência internacional sobre o financiamento do desenvolvimento.
O anúncio foi feito pela Casa Branca em meio a um alerta da CIA (agência de inteligência dos EUA) sobre o agravamento das crises política na Venezuela, militar na Colômbia e econômica na Argentina.
Na quinta-feira, o diretor da CIA, George Tenet, disse ontem que a situação política e econômica na América Latina está "cada vez mais volátil" e "instável".
Tenet afirmou que os atentados de 11 de setembro pioraram o desempenho das economias e aumentaram a insatisfação da população da região.

Alca
Sob o ponto de vista comercial, a ocasião também é marcada por dificuldades intensas do presidente para fazer aprovar no Congresso seu projeto de TPA (Autoridade de Promoção Comercial, ou "fast track").
Esse projeto é essencial para que os países do hemisfério avancem as negociações da Alca (Área de Livre Comércio das Américas).
"O Brasil considera muito positiva a viagem de Bush à região", disse o embaixador brasileiro em Washington, Rubens Barbosa. "Estamos preocupados com a situação na Argentina e já conversamos com os americanos sobre a necessidade de eles se engajarem na solução do problema", disse ele.
As palavras usadas pela Casa Branca para anunciar a viagem e a escolha dos países revelam uma ênfase muito mais política do que econômica (ou comercial) para as visitas.
Segundo a Casa Branca, Bush discutirá com o presidente do Peru, Alejandro Toledo, "esforços mútuos para fortalecer a democracia, o livre comércio e o primado da lei no hemisfério".
Espera-se que o narcotráfico e a guerrilha na Colômbia sejam temas prioritários em suas conversas no Peru.

Novo rumo
"Os atentados de 11 de setembro mudaram completamente o rumo do governo Bush", disse Joel Velasco, vice-presidente da Stonebridge International, uma consultoria internacional formada por Sandy Berger, ex-assessor de segurança nacional do governo de Bill Clinton, e Anthony Harrington, ex-embaixador dos EUA no Brasil.
"A guerra contra o terrorismo tomou conta da agenda de Washington. Mas agora, quase cinco meses depois daquela tragédia e de uma execução espetacular na guerra no Afeganistão, Bush tenta novamente focalizar na América Latina, tentando talvez recuperar um pouco do tempo perdido."
Velasco lembrou que Bush indicou, durante sua campanha presidencial, que a América Latina seria uma prioridade do seu governo e que dedicou um discurso inteiro ao assunto.

Engajamento
"Durante os primeiros nove meses de seu governo, Bush articulou uma política de engajamento com a América Latina baseada na negociação da Alca. Apesar de alguns tropeços, tinha tudo para fazer o que o seu pai queria mas pôde: um hemisfério unido e livre barreiras comercias", afirmou Velasco.
O Conselho de Segurança Nacional admite que o combate ao terrorismo terá ênfase especial nessa viagem. Segundo McCormack, o presidente dirá aos colegas com quem se encontrará que a integração comercial e a guerra contra o terror "caminham juntos".
De Lima, o presidente viajará para El Salvador, onde pretende dar um impulso à sua proposta de um acordo de livre comércio entre os EUA e os países da América Central.



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