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DIPLOMACIA
Após dedicar-se exclusivamente à ação antiterror, presidente decide voltar ao tema que já foi prioritário em seu governo
Bush retoma agenda política para a América Latina
MARCIO AITH
DE WASHINGTON
Passados cinco meses dos atentados terroristas nos EUA e depois de dedicar todos os seus esforços internacionais à guerra
contra o terrorismo no Afeganistão, o presidente americano,
George W. Bush, retoma sua
agenda política para a América
Latina.
A Casa Branca anunciou que o
presidente fará no mês que vem
uma viagem ao México, a El Salvador e ao Peru. A Folha apurou
que, ao decidir por esse itinerário,
a Casa Branca resolveu postergar
uma viagem que Bush faria ao
Brasil e a outros países do Cone
Sul. O motivo foi a turbulência social e a instabilidade política na
Argentina.
Segundo disse à Folha Sean
McCormack, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da
Casa Branca, "assessores do presidente decidiram que esse seria o
melhor itinerário no momento."
O assessor disse ainda que a opção não exclui viagens a outros
países da região no futuro.
Desenvolvimento
A visita ao Peru, no dia 23 de
março, marcará sua primeira viagem à América do Sul. Em Lima, o
presidente americano se encontrará com os líderes da Colômbia,
do Equador e da Bolívia, países
que integram o Tratado de Preferências Comerciais Andinas.
No México, onde fez no ano
passado sua primeira viagem internacional depois de empossado
na Casa Branca, Bush participará
de uma conferência internacional
sobre o financiamento do desenvolvimento.
O anúncio foi feito pela Casa
Branca em meio a um alerta da
CIA (agência de inteligência dos
EUA) sobre o agravamento das
crises política na Venezuela, militar na Colômbia e econômica na
Argentina.
Na quinta-feira, o diretor da
CIA, George Tenet, disse ontem
que a situação política e econômica na América Latina está "cada
vez mais volátil" e "instável".
Tenet afirmou que os atentados
de 11 de setembro pioraram o desempenho das economias e aumentaram a insatisfação da população da região.
Alca
Sob o ponto de vista comercial,
a ocasião também é marcada por
dificuldades intensas do presidente para fazer aprovar no Congresso seu projeto de TPA (Autoridade de Promoção Comercial,
ou "fast track").
Esse projeto é essencial para que
os países do hemisfério avancem
as negociações da Alca (Área de
Livre Comércio das Américas).
"O Brasil considera muito positiva a viagem de Bush à região",
disse o embaixador brasileiro em
Washington, Rubens Barbosa.
"Estamos preocupados com a situação na Argentina e já conversamos com os americanos sobre a
necessidade de eles se engajarem
na solução do problema", disse
ele.
As palavras usadas pela Casa
Branca para anunciar a viagem e a
escolha dos países revelam uma
ênfase muito mais política do que
econômica (ou comercial) para as
visitas.
Segundo a Casa Branca, Bush
discutirá com o presidente do Peru, Alejandro Toledo, "esforços
mútuos para fortalecer a democracia, o livre comércio e o primado da lei no hemisfério".
Espera-se que o narcotráfico e a
guerrilha na Colômbia sejam temas prioritários em suas conversas no Peru.
Novo rumo
"Os atentados de 11 de setembro
mudaram completamente o rumo do governo Bush", disse Joel
Velasco, vice-presidente da Stonebridge International, uma consultoria internacional formada
por Sandy Berger, ex-assessor de
segurança nacional do governo de
Bill Clinton, e Anthony Harrington, ex-embaixador dos EUA no
Brasil.
"A guerra contra o terrorismo
tomou conta da agenda de Washington. Mas agora, quase cinco
meses depois daquela tragédia e
de uma execução espetacular na
guerra no Afeganistão, Bush tenta
novamente focalizar na América
Latina, tentando talvez recuperar
um pouco do tempo perdido."
Velasco lembrou que Bush indicou, durante sua campanha presidencial, que a América Latina seria uma prioridade do seu governo e que dedicou um discurso inteiro ao assunto.
Engajamento
"Durante os primeiros nove
meses de seu governo, Bush articulou uma política de engajamento com a América Latina baseada
na negociação da Alca. Apesar de
alguns tropeços, tinha tudo para
fazer o que o seu pai queria mas
pôde: um hemisfério unido e livre
barreiras comercias", afirmou
Velasco.
O Conselho de Segurança Nacional admite que o combate ao
terrorismo terá ênfase especial
nessa viagem. Segundo McCormack, o presidente dirá aos colegas com quem se encontrará que
a integração comercial e a guerra
contra o terror "caminham juntos".
De Lima, o presidente viajará
para El Salvador, onde pretende
dar um impulso à sua proposta de
um acordo de livre comércio entre os EUA e os países da América
Central.
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