São Paulo, terça-feira, 10 de fevereiro de 2004

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CARIBE

Washington critica presidente

Rebeldes haitianos já controlam 11 cidades

DA REDAÇÃO

A revolta armada contra o presidente Jean-Bertrand Aristide continuou ganhando força ontem após rebeldes avançarem ainda mais em direção à capital, Porto Príncipe. Até ontem, o governo havia perdido o controle de 11 cidades -ao menos 40 pessoas morreram em combates desde a última quinta-feira.
Usando árvores, pneus em chamas e carros, moradores bloquearam a entrada de diversos povoados do país caribenho. Os rebeldes bloquearam a rodovia que liga a capital à estratégica cidade portuária de Saint Marc, distante 70 km de Porto Príncipe.
"Aristide foi abandonado internacionalmente e chegou a um ponto sem retorno", disse à Folha o haitiano Marc Brou, presidente da Associação de Estudos Haitianos e professor da Universidade de Massachusetts (EUA).
Os rebeldes iniciaram o levante na última quinta-feira, em Gonaives, a quarta maior cidade do país, provocando a fuga de policiais, de parte dos moradores e de funcionários do governo.
No último domingo, 150 policiais tentaram retomar Gonaives, mas foram repelidos pelos rebeldes. Ao menos sete policiais e dois civis foram mortos no confronto.

Ex-aliados
O principal grupo rebelde é a Frente de Resistência de Gonaives, ex-aliada de Aristide que passou para a oposição em setembro passado. Os rebeldes contam com apoio de ex-soldados do Exército e de parte da população.
A oposição a Aristide está cada vez mais forte depois que os governistas foram acusados de fraudar as eleições legislativas de 2000, que acabaram canceladas. Desde então, o país mais pobre das Américas deixou de receber milhões de dólares em ajuda internacional.
Apesar da crise, Aristide promete cumprir seu mandato, que vai até 2006.
Ex-padre, em 1990 Aristide foi o primeiro presidente eleito desde a independência do país, em 1804. Meses depois, no entanto, ele foi deposto por um golpe militar.

"Fadiga haitiana"
Em 1994, durante o governo do democrata Bill Clinton (1993-2001), Aristide foi levado de volta ao poder após a invasão de cerca de 20 mil militares americanos. Aristide deixou o poder em 1996, mas em 2000 tornou a ser eleito.
Sob o republicano George W. Bush, no entanto, Washington tem dado sinais de que não voltará a intervir a favor de Aristide.
Ontem, os EUA condenaram a onda de violência e exigiram que o governo de Aristide "respeite os direitos humanos de todos os cidadãos e residentes no Haiti".
Para Brou, Washington está com uma "fadiga haitiana" por causa dos problemas recorrentes e acredita que um novo socorro a Aristide esteja fora de cogitação. (FABIANO MAISONNAVE)


Com agências internacionais


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