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Exército americano revisa doutrina após lição iraquiana
Novo manual eleva missão de "construção de nações" no pós-guerra ao nível de importância das frentes de batalha
Oficiais dizem que falta muito para levar o discurso ao terreno e dizem haver incoerências entre práticas atuais e a nova doutrina
MICHAEL R. GORDON
DO "NEW YORK TIMES", EM
WASHINGTON
O Exército americano redigiu um novo manual de operações que eleva a missão de estabilizar países dilacerados por guerras para o mesmo nível de
importância que derrotar adversários no campo de batalha.
Autoridades militares descreveram o documento como
avanço importante que se inspira nas lições duras aprendidas no Iraque e no Afeganistão.
O manual ilustra até que ponto
o Pentágono já ultrapassou a
relutância inicial da gestão
Bush em usar as Forças Armadas para apoiar os esforços de
"construção de nações".
Mas alguns oficiais influentes argumentam que ainda falta
ao Exército colocar seu novo
discurso em prática. Eles questionam se a estrutura militar do
Exército, suas políticas de pessoal e seus programas de armas
são coerentes com a doutrina.
O manual diz que os EUA enfrentam uma era de "conflitos
persistentes", em que as Forças
Armadas vão freqüentemente
operar entre civis em países onde instituições locais são frágeis, e que os esforços para conquistar a adesão de populações
pouco amistosas serão cruciais.
Ao mesmo tempo em que
saudaram a nova doutrina, outros oficiais disseram que existem incoerências entre ela e as
práticas atuais. As brigadas no
Iraque não têm engenheiros de
combate suficientes para dar
apoio a programas civis, e o
Exército, afirmam, não promove tão prontamente os oficiais
que prestam assessoria às forças de segurança locais quanto
faz com os oficiais de batalhões.
Alguns questionam se o desenvolvimento do Sistema de
Combate Futuro do Exército,
programa multibilionário no
qual sensores não-tripulados
serão ligados em rede com veículos blindados, para que soldados possam atacar desde
uma distância segura, é coerente com a nova visão da guerra.
A expectativa é que o novo
manual seja lançado formalmente este mês. O "New York
Times" recebeu uma versão
preliminar recente do texto.
Autocrítica
Quando os EUA invadiram o
Iraque, o então secretário da
Defesa, Donald Rumsfeld, e vários líderes militares elogiaram
os sistemas de alta tecnologia,
afirmando que permitiriam
que um número menor de soldados derrotasse os adversários em pouco tempo.
A dificuldade em garantir a
segurança do Iraque levou a
muitas autocríticas no interior
das Forças Armadas. O coronel
H.R. McMaster, que comandou
em 2005 a operação bem-sucedida para conquistar a cidade
de Tal Afar, afirma em novo artigo que uma fé exagerada na
tecnologia e a subestimação
das medidas necessárias para
garantir a paz solaparam os esforços dos EUA no Iraque.
No Pentágono, o secretário
de Defesa, Robert Gates, disse
em outubro que "as guerras
não-convencionais são as que
mais provavelmente serão travadas nos próximos anos".
O general William Caldwell
4º afirma que o manual vai influenciar a formação e o treinamento do Exército, ao destacar
o tipo de habilidades necessárias para levar estabilidade a
Estados divididos por conflitos
e regidos por governos fracos.
"Haverá pessoas que naturalmente dirão: "Se eu sou capaz
de fazer operações ofensivas e
defensivas de alto nível, posso
fazer qualquer tipo de operação
menor". O que constatamos, ao
longo de sete anos de atuação, é
que isso não é verdade."
Tradução de CLARA ALLAIN
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