São Paulo, domingo, 10 de fevereiro de 2008

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Exército americano revisa doutrina após lição iraquiana

Novo manual eleva missão de "construção de nações" no pós-guerra ao nível de importância das frentes de batalha

Oficiais dizem que falta muito para levar o discurso ao terreno e dizem haver incoerências entre práticas atuais e a nova doutrina

MICHAEL R. GORDON
DO "NEW YORK TIMES", EM WASHINGTON

O Exército americano redigiu um novo manual de operações que eleva a missão de estabilizar países dilacerados por guerras para o mesmo nível de importância que derrotar adversários no campo de batalha. Autoridades militares descreveram o documento como avanço importante que se inspira nas lições duras aprendidas no Iraque e no Afeganistão.
O manual ilustra até que ponto o Pentágono já ultrapassou a relutância inicial da gestão Bush em usar as Forças Armadas para apoiar os esforços de "construção de nações".
Mas alguns oficiais influentes argumentam que ainda falta ao Exército colocar seu novo discurso em prática. Eles questionam se a estrutura militar do Exército, suas políticas de pessoal e seus programas de armas são coerentes com a doutrina.
O manual diz que os EUA enfrentam uma era de "conflitos persistentes", em que as Forças Armadas vão freqüentemente operar entre civis em países onde instituições locais são frágeis, e que os esforços para conquistar a adesão de populações pouco amistosas serão cruciais.
Ao mesmo tempo em que saudaram a nova doutrina, outros oficiais disseram que existem incoerências entre ela e as práticas atuais. As brigadas no Iraque não têm engenheiros de combate suficientes para dar apoio a programas civis, e o Exército, afirmam, não promove tão prontamente os oficiais que prestam assessoria às forças de segurança locais quanto faz com os oficiais de batalhões.
Alguns questionam se o desenvolvimento do Sistema de Combate Futuro do Exército, programa multibilionário no qual sensores não-tripulados serão ligados em rede com veículos blindados, para que soldados possam atacar desde uma distância segura, é coerente com a nova visão da guerra. A expectativa é que o novo manual seja lançado formalmente este mês. O "New York Times" recebeu uma versão preliminar recente do texto.
Autocrítica
Quando os EUA invadiram o Iraque, o então secretário da Defesa, Donald Rumsfeld, e vários líderes militares elogiaram os sistemas de alta tecnologia, afirmando que permitiriam que um número menor de soldados derrotasse os adversários em pouco tempo.
A dificuldade em garantir a segurança do Iraque levou a muitas autocríticas no interior das Forças Armadas. O coronel H.R. McMaster, que comandou em 2005 a operação bem-sucedida para conquistar a cidade de Tal Afar, afirma em novo artigo que uma fé exagerada na tecnologia e a subestimação das medidas necessárias para garantir a paz solaparam os esforços dos EUA no Iraque.
No Pentágono, o secretário de Defesa, Robert Gates, disse em outubro que "as guerras não-convencionais são as que mais provavelmente serão travadas nos próximos anos".
O general William Caldwell 4º afirma que o manual vai influenciar a formação e o treinamento do Exército, ao destacar o tipo de habilidades necessárias para levar estabilidade a Estados divididos por conflitos e regidos por governos fracos.
"Haverá pessoas que naturalmente dirão: "Se eu sou capaz de fazer operações ofensivas e defensivas de alto nível, posso fazer qualquer tipo de operação menor". O que constatamos, ao longo de sete anos de atuação, é que isso não é verdade."


Tradução de CLARA ALLAIN

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