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Pai escondeu filho em mochila
da Reportagem Local
Como o garoto Giosué, de "A Vida É Bela", o judeu David Shidlovsky escapou dos nazistas graças à presença de espírito do pai.
Em 1939, quando a Segunda
Guerra estourou, tinha 4 anos.
Morava na cidade polonesa de
Lodz e corria sérios riscos porque
o Exército de Hitler matava as
crianças judias que, muito pequenas, não podiam engrossar as frentes de trabalho escravo.
Leon, o pai, sustentava a mulher
e quatro filhos vendendo produtos
químicos. A guerra os arrancou de
casa e os confinou num bairro pobre, transformado em gueto.
Mesmo sob vigilância constante,
a família deu um jeito de fugir. No
inverno de 1940, chegou a Piotrkow, também na Polônia, mas logo
a enclausuraram em outro gueto.
Dois anos depois, os nazistas decidiram transportar parte dos judeus de Piotrkow para Auschwitz,
o temível campo de concentração e
extermínio. Só não iriam transferir
os que, como Leon e o filho mais
velho (Moshe, 13), estivessem trabalhando nas fábricas do gueto.
Embora tentassem se ocultar, a
mãe e as duas irmãs de David acabaram descobertas e morreram a
tiros. O caçula da família se safou
porque Leon teve a idéia de enfiá-lo dentro de uma mochila.
"Carregando-me nas costas", relatou David à Folha, "meu pai me
levou para uma das fábricas, onde
me escondi por meses". Àquela altura, os alemães permitiam que os
prisioneiros conservassem alguns
pertences; daí a mochila passar
despercebida durante o trajeto.
Leon usou de outros artifícios
para proteger David e Moshe até o
fim da guerra, quando os americanos os libertaram no campo de Buchenwald (Alemanha). Hoje, os irmãos vivem em Tel Aviv (Israel).
Dizem não se lembrar muito daquele período. Mas guardam "nitidamente" a história da mochila
-que o pai, morto na década de
70, nunca cansou de contar. "Era
um homem bastante religioso",
enfatizou Moshe. "Creio que sua fé
nos salvou."
(ARMANDO ANTENORE)
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