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MÉXICO
Marcha liderada pelo subcomandante Marcos chega amanhã à Cidade do México, após angariar apoio durante o caminho
Fox convida líder zapatista ao palácio
France Presse
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Líderes zapatistas e simpatizantes para diante de estátua de Zapata em Cuautlay, no Estado de Morelos, a caminho da capital |
JAN McGIRK
DO "THE INDEPENDENT"
Dois dias antes da chegada da
marcha zapatista à capital mexicana, o presidente do país, Vicente Fox, convidou o líder da guerrilha, o subcomandante Marcos,
para uma conversa no palácio
presidencial de Los Pinos. Mas
advertiu que ambos pagarão um
preço alto se não pacificarem o
Estado de Chiapas (sul), onde a
guerrilha nasceu e atua.
"Marcos está convidado a Los
Pinos no dia que quiser para que
possamos falar dos indígenas, sobre o México, os pobres... Há muito para conversar", disse Fox, que
ontem completou cem dias no
posto de presidente.
O enigmático líder do Exército
Zapatista de Libertação Nacional
(EZLN), que lançou uma luta armada pela melhoria da situação
das populações nativas de Chiapas, em janeiro de 1994, está à
frente de um comboio de caminhões, picapes e ônibus que partiu do Estado mais pobre do México em 25 de fevereiro último e
percorrerá cerca de 3.000 km.
O clima de ansiedade está crescendo, agora que os zapatistas
emergiram, após sete anos escondidos na selva. Nas rodovias e nos
povoados, a população se reúne
para olhar e aplaudir os ativistas
verdes e revolucionários new age
que pegaram carona no comboio
zapatista. A marcha percorreu
uma complexa teia de rodovias e
estradas vicinais para passar por
redutos indígenas e bolsões históricos de resistência contra o governo central mexicano. Oficialmente os zapatistas ainda estão
em guerra com o governo, mas,
apesar disso, viaturas policiais escoltam os revolucionários em todo o caminho.
O subcomandante Marcos é o
anti-herói do momento e está
sendo visto como um Che Guevara nacional por estudantes radicais, acadêmicos esquerdistas e,
cada vez mais, cerca de 62 tribos
miseráveis que vivem na selva de
Lacandón, em Chiapas. Resta ver
se Marcos conseguirá colaborar
com Fox sem comprometer sua
postura anticapitalista e desagradar a suas maiores fontes de financiamento.
Seus defensores estrangeiros,
cujos representantes mais evidentes no comboio integram um bando de 280 anarquistas italianos,
prefeririam que ele mantivesse a
guerra de guerrilha. Quatro ônibus repletos do contingente italiano da marcha "Ya Basta!", todos
usando macacões brancos, passaram a formar a segurança de Marcos desde que os zapatistas desconfiaram que uma colisão ocorrida no caminho, deixando um
policial morto, tivesse sido provocada por sabotadores.
Amanhã, o bando de guerrilheiros e seus defensores de esquerda
pretende marchar até as portas do
Congresso e reivindicar direitos e
autonomia para os 10 milhões de
indígenas mexicanos marginalizados. Eles prometem acampar
na capital por tempo indefinido,
até que seja iniciado um diálogo
de paz que satisfaça as exigências
previamente formuladas de libertação de prisioneiros e fechamento de bases militares. A viúva do
ex-presidente francês François
Mitterrand, Danielle, prometeu
juntar-se à marcha quando ela
chegar à capital.
Todos os dias, pouco após o
nascer do sol, milhares de curiosos e simpatizantes se aglomeram
ao longo de estradas e viadutos
para tentar ver o subcomandante
Marcos acenando da janela de seu
ônibus. Eles enfrentam garoa e
chuva para verem os guerrilheiros
por trás de vidros. Os organizadores da marcha disseram que Marcos considerou e rejeitou cinco
cavalos antes de desistir da idéia
de fazer a marcha a cavalo, como
fez em 1914 o homem que deu nome a seu movimento, Emiliano
Zapata. Os veículos do "Zapatour" são coloridos, repletos de
grafites e bandeiras.
Centenas de famílias lotam as
praças públicas para ouvir os discursos de Marcos, mesmo abafados por seu capuz de tricô e o cachimbo que ele segura entre os
dentes. O grito da multidão é
constante: "Viva Marcos! Viva
Zapata!". A figura magra do líder
guerrilheiro é inconfundível, com
suas calças de camuflagem, máscara de esqui e boina mantida no
lugar com fones de ouvido e microfone. Ele discursa com paixão:
"Os poderosos tentaram nos exterminar cinco séculos atrás e
chamaram sua guerra de destruição e pilhagem de "civilização".
Mas os poderosos esquecem que
aqueles que queriam nos exterminar não existem mais, e que nós
estamos aqui. Os povos indígenas
em todo o México vivem -não,
sobrevivem- na miséria mais
chocante".
O subcomandante Marcos é o
ativista antiglobalista pós-moderno original e continua a inspirar
os veteranos dos protestos contra
o Banco Mundial em Seattle, Praga, Davos e Cancún. A revolta zapatista foi lançada antes do nascer
do sol no dia 1º de janeiro de 1994,
exatamente quando o Nafta (tratado de livre comércio da América do Norte) estava entrando em
vigor. Marcos viu o neoliberalismo como promessa falsa, algo
que prolongaria o racismo que vitima os maias explorados que
perderam suas terras ancestrais
para os fazendeiros e cafeicultores
de Chiapas. Suas prioridades
eram obter o direito comunitário
à terra e a autonomia cultural, e
não tentar atrair investimentos do
exterior.
O EZLN verteu sangue pela primeira vez quando lutou pelas tribos maias do sudeste do México,
numa rebelião que durou tanto
quanto a marcha atual. Não demorou a mudar de tática e, desde
as profundezas da selva, Marcos
começou a disparar uma enxurrada de propaganda política por
fax e pela Internet, expressa em
mensagens poéticas. Estudantes
universitários fascinados com o
carismático revolucionário de
laptop levavam seus disquetes para fora da floresta e os distribuíam
por e-mail.
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