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ELEIÇÕES
Serão renovadas as 268 cadeiras do Congresso; fim do processo de paz e ameaças põem em dúvida segurança para o pleito
Colômbia vota hoje em clima de tensão
ROGERIO WASSERMANN
DA REDAÇÃO
Cerca de 23,8 milhões de colombianos irão hoje às urnas para renovar as 102 cadeiras do Senado e
as 166 da Câmara dos Deputados,
em meio a um clima de tensão pelo fim do processo de paz com as
Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), no último
dia 20, e por causa das constantes
pressões de grupos armados contra eleitores e candidatos.
A votação será também um teste de segurança prévio à eleição
presidencial, cujo primeiro turno
está marcado para o dia 26 de
maio. Muitos candidatos reclamam da falta de garantias para a
realização das eleições.
"As eleições não podem estar
isoladas da situação difícil em que
se encontra o país. Logicamente
isso afeta as votações, porque há
candidatos sequestrados, candidatos que foram mortos e regiões
do país nas quais não se pode chegar por ameaças de paramilitares
ou das guerrilhas", disse à Folha o
deputado esquerdista Antonio
Navarro Wolff, favorito nas pesquisas para uma vaga ao Senado.
Por medo, muitos candidatos limitaram suas campanhas, evitando deslocamentos e comícios em
locais abertos. O contato direto
com potenciais eleitores foi em
muitos casos substituído por
mensagens gravadas em vídeo.
Para tentar garantir a segurança
da eleição de hoje, o governo
anunciou na última semana uma
série de medidas, batizadas de
"Plano Democracia". Além do reforço no efetivo policial (mais de
180 mil membros das Forças de
Segurança estarão trabalhando),
o plano prevê a transferência de
pelo menos 142 seções eleitorais
localizadas em zonas rurais consideradas de alto risco para as áreas
urbanas mais próximas.
"As eleições serão realizadas
com normalidade em todos os
1.097 municípios do país", disse à
Folha Iván Duque Escobar, chefe
da Registradora Nacional de Estado Civil, órgão responsável pela
organização das eleições.
Segundo Duque, o transporte
dos eleitores poderá ser feito pelas
prefeituras ou pelos próprios partidos ou candidatos, o que, segundo ele, não configura crime eleitoral pelas leis colombianas.
Segundo o comandante das
Forças Armadas da Colômbia, general Fernando Tápias, o Exército
estará presente na maior parte do
país hoje.
"Essa é a maior cobertura de todos os processos eleitorais que já
aconteceram: 95,9% das zonas urbanas, 89,3% das mesas de votação e 90,3% dos potenciais eleitores", disse.
Como medida de última hora, o
órgão eleitoral convidou uma
missão preliminar de observação
da OEA (Organização dos Estados Americanos), com funções limitadas, e membros dos organismos eleitorais dos países vizinhos,
para atuarem como observadores
informais.
Lisura ameaçada
Os acontecimentos dos últimos
dias mostram que a tarefa de garantir a lisura das eleições não será fácil. Na quarta-feira, o procurador-geral da Colômbia, Edgardo Maya Villazón, denunciou casos de subornos pagos a membros das mesas de votação.
No dia seguinte, as Farc foram
acusadas de sequestrar o responsável pelas eleições e de incendiar
o material de votação no município de Puerto Concordia, a cerca
de 400 km de Bogotá. Na sexta-feira, o responsável pelas eleições
no Departamento (Estado) de
Cundinamarca, que abrange Bogotá, foi suspenso por fazer campanha para um candidato cujo
nome não foi divulgado.
Também têm sido frequentes as
denúncias de ameaças a candidatos e constrangimentos a eleitores
por parte dos grupos paramilitares de extrema direita.
No final de fevereiro, Salvatore
Mancuso, um dos líderes das
AUC (Autodefesas Unidas da Colômbia), principal grupo paramilitar do país, disse num comunicado que pretende eleger até 30%
do novo Congresso. No mesmo
comunicado, Mancuso afirmou
que as AUC não apóiam nenhum
candidato à Presidência, mas disse que a eleição do direitista Alvaro Uribe Vélez, favorito absoluto
nas pesquisas, "beneficiará a
maioria dos colombianos, entre
eles a base social das AUC".
O principal adversário de Uribe,
o liberal Horacio Serpa, o acusa de
fomentar o paramilitarismo no
país. Em entrevista à Folha, há
dez dias, Serpa disse que a ação
dos paramilitares trazia dúvidas à
lisura do processo eleitoral e que
poderia questionar o resultado da
eleição de hoje se considerar que a
situação permaneceu inalterada.
Para o analista político e consultor militar Alfredo Rangel, apesar
de todas as pressões, sequestros e
assassinatos durante a campanha,
os resultados do pleito poderão
ser considerados legítimos.
"Nos últimos anos, na Colômbia, tradicionalmente há pressões
de grupos armados para interferir
no processo eleitoral, mas não há
costume desses grupos de sabotar
as eleições em si", diz Rangel.
Para o analista, o objetivo desses
grupos é "complementar o controle territorial de certas zonas do
país, com a eleição de candidatos
que têm algum tipo de ligação
com eles". "Mas são pressões
muito localizadas, em certas regiões do país."
A ação militar para a retomada
da área de 42 mil km2 (do tamanho da Suíça), cedida às Farc em
1998 como condição para o início
do processo de paz, não deve interferir no pleito, para Rangel.
"Aquela região tem apenas cinco municípios e é uma zona despovoada, com apenas dois habitantes por km2. As ações militares
não terão nenhuma incidência
sobre a realização das eleições",
afirma Rangel.
Segundo a Registradora Nacional de Estado Civil, 5 dos 32 Departamentos (Estados) do país
devem receber uma atenção especial hoje, por causa da presença de
grupos guerrilheiros ou paramilitares: Putumayo, Caquetá, Magdalena, Arauca e Vaupés.
Desde o rompimento do processo de paz, há 18 dias, as Farc
vêm mantendo uma forte ofensiva contra a infra-estrutura do
país, dinamitando pontes, oleodutos, torres de transmissão de
energia e centrais telefônicas. Dezenas de municípios do país continuam isolados, sem acesso por
terra, sem luz, água ou telefone.
A violência pós-rompimento já
provocou pelo menos 144 mortes,
entre membros das Forças Armadas (48), guerrilheiros (87) e paramilitares (9).
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