São Paulo, quarta-feira, 10 de março de 2004

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Oposição vai à Suprema Corte por referendo

ANDY WEBB-VIDAL
DO "FINANCIAL TIMES", EM CARACAS

Opositores venezuelanos pediram ontem que a Suprema Corte do país anulasse a decisão do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) que, segundo eles, inviabilizou a convocação de um referendo para abreviar ou não o mandato do presidente Hugo Chávez.
Há uma semana, o CNE decidiu exigir a confirmação de mais de 1 milhão de um total de 3 milhões de assinaturas recolhidas pelos opositores para que fosse convocada a consulta popular.
O número mínimo necessário de firmas é de 2,4 milhões, 600 mil a mais do que o total considerado válido.

Tortura
A iniciativa da oposição ocorre em meio a acusações de que forças leais a Chávez estão usando tortura e intimidação na repressão a opositores.
Um dos casos citados é o do violoncelista Carlos Izcaray, da Orquestra Sinfônica da Venezuela. Com dificuldade para andar, Izcaray está tratando os ferimentos que ele afirma ter adquirido durante 21 horas de tortura cometida pela Guarda Nacional -predominantemente chavista- no quartel-general de El Paraíso.
Izcaray, 26, afirma que os guardas o jogaram em uma van. "Colocaram uma revólver na minha boca, forçando-me a cantar músicas pró-Chávez. Juro que ia morrer. Eles diziam ter a esperança de que fosse declarado estado de emergência para que, assim, pudessem me matar", disse o músico, acrescentando que apenas assistia a um protesto da oposição.
Para os opositores, a suposta experiência de Izcaray e de dezenas de outros é uma indicação da repressão que pode ocorrer a partir de agora, porque, segundo eles, Chávez parece pronto para usar a força no momento em que a oposição acusa o governo de minar a iniciativa pró-referendo.

"Regime autoritário"
Diplomatas, como Milos Alcalay, que renunciou na semana passada ao cargo de embaixador da Venezuela na ONU em protesto contra a política chavista, dizem que o governo cada vez mais se parece com o tipo de regime autoritário que não é visto na América Latina há mais de duas décadas.
Como Chávez limpou as Forças Armadas de oficiais contrários a seu governo, ele estaria mais disposto a utilizar os militares contra os opositores sem correr o risco de ser deposto por descontentes no Exército, segundo analistas.
O presidente venezuelano também tem elevado o tom de seus ataques contra os EUA e o presidente George W. Bush. Ele chegou a dizer que, se os americanos levarem adiante um plano de invadir a Venezuela -autoridades americanas negam a existência desse projeto-, os EUA enfrentarão "cem anos de guerra".


Com agências internacionais


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