São Paulo, sexta-feira, 10 de março de 2006

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EUA

Emirado quis ajudar presidente Bush

Dubai recua e desiste dos portos americanos

DAVID KIRKPATRICK
DO "NEW YORK TIMES", EM WASHINGTON

A empresa Dubai Ports World, de propriedade do governo dos Emirados Árabes Unidos e que havia concordado em comprar portos marítimos nos Estados Unidos, anunciou ontem que iria transferir essas propriedades a uma empresa pertencente a americanos. Com isso desarmou uma crise entre a Casa Branca e o Congresso, sobretudo com os deputados e senadores republicanos.
A decisão árabe foi anunciada poucas horas depois que representantes da bancada republicana visitaram o presidente George W. Bush na Casa Branca e declararam que iriam vetar o fechamento definitivo do negócio, por acreditarem que ele contrariava os interesses da segurança interna.
"Fomos muito claros a respeito", disse Bill Frist, líder no Senado. Os Emirados Árabes Unidos são um fiel aliado de Washington no Golfo. Mas os congressistas temiam que mudanças políticas abruptas na região pudessem transferir a grupos hostis um equipamento estratégico para a economia americana.
O recuo da empresa estatal árabe foi tornado público por meio de um comunicado que outro senador republicano, John Warner, leu à tarde em plenário.
"Em razão do estreito relacionamento entre os Emirados Árabes Unidos e os Estados Unidos, e para preservar esse relacionamento, a DP World tomou a decisão de transferir integralmente suas operações da P&O North America a uma empresa americana."
Em Dubai, capital dos Emirados, a desistência foi qualificada de "decisão política", para ajudar "nossos amigos americanos", declarou à France Presse um porta-voz do governo local.
Dubai é também um dos sete emirados que formam a federação existente no Golfo. A empresa que assumiria o controle dos portos pertence a esse emirado.
A Casa Branca reagiu com alívio à decisão. Seu porta-voz, Scott McClellan, afirmou que os EUA "mantêm uma relação muito boa com os Emirados e uma boa parceria com seu governo no combate global ao terrorismo".
O anúncio da decisão dos árabes não desarmou a oposição democrata. O senador Charles Schumer, um dos principais críticos da transação, disse que nada indicava que a estatal de Dubai havia aberto mão da operação dos portos. "Precisamos ainda estudar esses contratos", afirmou. A mesma cautela foi demonstrada pelo líder da bancada democrata, senador Harry Reid.
Mas, do lado republicano, um dos mais duros críticos da transação, o deputado Peter King, disse se dar por satisfeito com a nota da DP World. A seu ver, ela se afastou das operações dos portos, e o problema deixou de existir.
King é o presidente da Comissão de Segurança Interna da Câmara dos Deputados. Diante do desgaste que o episódio gerou na relação entre sua bancada e a Casa Branca, ele afirmou confiar, agora, nas iniciativas de Bush na área da segurança.
Anteontem, uma outra comissão da Câmara havia rejeitado por 62 votos a 2 a conclusão definitiva do negócio, sem ao menos esperar o prazo de 45 dias para a conclusão do estudo que havia encomendado sobre a existência de riscos potenciais.
O resultado dessa votação demonstrou o tamanho do obstáculo que Bush deveria transpor, caso insistisse em fechar o negócio.


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