|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
AMÉRICA DO SUL
Às vésperas dos 30 anos do golpe, chefe cita pela primeira vez "atos contra a dignidade humana" na ditadura
Força Aérea da Argentina faz mea-culpa
DE BUENOS AIRES
Às vésperas do 30º aniversário
do golpe que instalou a ditadura
militar na Argentina (1976-1983),
a Força Aérea do país admitiu e
"repudiou" ontem, pela primeira
vez, "atos contra a dignidade do
homem cometidos por integrantes da instituição" no período.
A declaração foi feita em discurso pelo brigadeiro-geral Eduardo
Schiaffino, o primeiro na linha
hierárquica da Força Aérea, durante a abertura do ano militar.
"A Força Área que hoje conduzo
assume a obrigação moral diante
da nação de reconhecer os feitos
contra a dignidade do homem cometidos por integrantes de nossa
instituição naqueles dias", disse.
No ato, a ministra da Defesa,
Nilda Garré, ex-militante de entidades de direitos humanos, se
disse "muito satisfeita" com a autocrítica. Ao ler o discurso, porém, Schiaffino não pronunciou a
palavra "repúdio", presente no
texto distribuído à imprensa. Depois, o próprio brigadeiro teve de
afirmar que se tratou de um "lapso" não mencionar a palavra.
O cuidado com os termos e a intenção de marcar, sem gerar dúvidas, o mea-culpa militar no episódio ilustram o clima na Argentina
a 15 dias da efeméride.
O evento de ontem foi o primeiro do vasto calendário preparado
pelo governo de Néstor Kirchner
para marcar o aniversário do golpe, consumado com a ascensão
ao poder do general Jorge Videla
-hoje sob prisão domiciliar e
acusado, entre outros crimes, de
roubar bebês de militantes.
A punição dos crimes da ditadura argentina, responsável pelo
desaparecimento de 30 mil pessoas, segundo entidade de direitos humanos, é uma das bandeiras políticas de Kirchner e deve
ser explorada eleitoralmente.
Ontem, a Casa Rosada enviou
projeto ao Senado para transformar 24 de março em feriado nacional (deslocado para segunda
ou sexta, para que seja final de semana prolongado). Desde 2003, a
data já é o "Dia Nacional da Memória pela Verdade e Justiça".
Nesta semana, centros culturais
oficiais e privados inauguram
mostras artísticas sobre o período, e o material didático das escolas públicas foi reforçado com livros que mostram as violações
cometidas pelos militares.
Kirchner deve fazer um discurso histórico no dia 24, quando haverá passeata nas ruas de Buenos
Aires e shows convocados por entidades como as Mães e Avós da
Praça de Maio. Segundo o Centro
de Estudos Legais e Sociais, atualmente há 207 pessoas presas e
aguardando julgamento por violações cometidas no período.
Texto Anterior: Oriente Médio: Israel definirá fronteiras até 2010, diz Olmert Próximo Texto: Ambiente: Má administração tira acesso de mais de 1 bilhão a água potável Índice
|