São Paulo, terça, 10 de março de 1998 |
Próximo Texto | Índice AINDA NO PODER O ex-ditador chileno vai assumir cargo de senador vitalício e deve continuar a influenciar os rumos do país Pinochet deixa hoje chefia do Exército
OTÁVIO DIAS enviado especial a Santiago Após 25 anos como líder absoluto dos militares chilenos, o general Augusto Pinochet, 82, deixa hoje o cargo de comandante-chefe do Exército, completando outra etapa do longo processo de transição para a democracia que vive o país. Mas o fato de Pinochet abandonar o cargo que lhe serviu de ponto de partida para o golpe de Estado de 1973, e foi a base de sustentação para que permanecesse no poder como presidente até 1990, não quer dizer que ele deixará de ter influência nos rumos da política e da economia do Chile. Cerca de 24 horas depois de transferir o comando do Exército para seu sucessor, o general Ricardo Izurieta, Pinochet assumirá uma cadeira de senador vitalício no Parlamento chileno. O cargo de senador é um direito reservado a Pinochet pela Constituição de 1980, elaborada durante o seu governo. De acordo com a Constituição, os presidentes que tiverem ficado mais de seis anos no cargo têm direito a uma vaga no Senado até o fim da vida, sem necessidade de disputar eleições. O único presidente chileno nessas condições é Pinochet. Do Senado, Pinochet poderá impedir, ou ao menos dificultar, mudanças profundas no modelo político e econômico definido para o Chile em seu governo. Qualquer alteração fundamental depende de reforma na Constituição, e, consequentemente, de aprovação por maioria absoluta dos senadores. Para os adversários de Pinochet, sua ida para o Senado representa uma contradição, já que o general governou o país durante 17 anos com o Parlamento fechado. "É uma contradição tê-lo sentado num espaço institucional democrático que ele fechou com a força brutal das armas", afirmou o vice-presidente do Senado, Ricardo Nuñes, do Partido Socialista. Pinochet foi nomeado comandante-chefe do Exército em agosto de 1973 pelo então presidente do Chile, Salvador Allende, do Partido Socialista. Menos de um mês depois, em 11 de setembro, o general liderou um golpe de Estado, sob o argumento de que era preciso salvar o país do comunismo. Em dezembro de 74, Pinochet promulgou um decreto que o converteu em presidente da República, função que ocupou até 1990. Nesse ano, transferiu o cargo para Patricio Aylwin, do Partido Democrata Cristão, eleito pelo voto direto. Mas, segundo a Constituição, Pinochet continuaria comandante-chefe do Exército até hoje. A cerimônia de transferência de comando acontecerá na Escola Militar de Santiago (capital do país), a partir das 10h (mesmo horário em Brasília). Ontem, o comandante-chefe do Exército se despediu oficialmente do presidente Eduardo Frei, em uma cerimônia protocolar no Palácio La Moneda, sede do governo. Próximo Texto | Índice |
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