UOL


São Paulo, quinta-feira, 10 de abril de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

REAÇÃO

Chefes de Estado no Oriente Médio dizem querer fim de ocupação dos EUA "o quanto antes"

Árabes pedem governo de iraquianos

DA REDAÇÃO

Enquanto as tropas americanas tomavam o controle de Bagdá, os países árabes pediam ontem que os próprios iraquianos elejam seu governo, opondo-se à vontade de Washington de instalar uma administração provisória.
O primeiro chefe de Estado árabe a reagir à derrubada do regime de Saddam Hussein, o presidente egípcio, Hosni Mubarak, pediu que a população iraquiana "se encarregue do governo e da administração o mais rápido possível".
"[Garantir] que o Iraque seja governado por seus filhos o quanto antes é o meio mais rápido de garantir a estabilidade para o povo iraquiano", disse Mubarak
Washington pretende confiar, ao menos em uma primeira etapa, a administração do "novo" Iraque a um general americano aposentado, Jay Garner.
Em Riad, o ministro das Relações Exteriores saudita, Saud al Faisal, também afirmou que a população iraquiana deveria formar seu próprio governo e pediu um fim rápido para a ocupação anglo-americana do Iraque.
"O governo de Bagdá com o qual manteremos relações será o que o povo iraquiano eleger. Não nos anteciparemos aos acontecimentos, aceitaremos tudo o que o povo iraquiano decidir", disse Faisal. "Deve-se abrir caminho ao povo iraquiano para que escolha os meios pelos quais quer administrar seus assuntos, e a ocupação deve acabar o quanto antes."
Saud afirmou ainda que o novo governo iraquiano teria de ser reconhecido pela ONU, que, segundo ele, deveria se envolver na reconstrução do Iraque.
Em Amã, o ministro jordaniano de Relações Exteriores, Marwan Moasher, também afirmou que a população iraquiana teria de decidir seu futuro e escolher seus dirigentes. "O povo iraquiano deve decidir o futuro do Iraque e quem serão seus dirigentes no atual estado" das coisas, disse Moasher. Não cabe a "ninguém" fazê-lo em seu lugar, afirmou, enfatizando a importância de "preservar a segurança doméstica do Iraque e não permitir que se deteriore, pois isso teria graves repercussões".
A posição dos países árabes é compartilhada pelo Irã. "O futuro governo iraquiano terá de refletir a vontade da população e a ONU deve desempenhar um papel", disse o chanceler iraniano Kamal Kharazi.

Mídia
Redes de TV por satélite faladas em árabe levaram as imagens da simbólica derrubada de uma estátua gigante do ditador iraquiano em uma praça no centro de Bagdá a casas e cafés do Marrocos aos Emirados Árabes Unidos.
Um âncora kuaitiano repetiu diversas vezes a frase "Allahu Akbar" (Deus é maior, em árabe) enquanto um veículo blindado americano derrubava a estátua de Saddam em Bagdá. "Este é o destino de todos os ditadores que são duros com seu povo", disse.
Em uma atitude pouco comum, as TVs estatais de Marrocos, Arábia Saudita, Egito, Sudão, Jordânia, Omã, Kuait, Iêmen, Bahrein e Emirados Árabes Unidos mostraram as imagens ao vivo. A maior parte desses governos condenaram oficialmente a invasão do Iraque liderada pelos EUA, apesar de alguns deles terem discretamente apoiado os americanos.
A TV estatal da Síria, que é governada por uma facção rival do partido Baath, mostrou programas de poesia e arte enquanto a estátua de Saddam, que, simbolicamente, aponta para Jerusalém, caía por terra.
Um canal de notícias sírio privado mostrou tanques americanos e saques na capital iraquiana, mas não exibiu comemorações, e sim a falta de remédios e água em hospitais superlotados.
As reações do público foram variadas. Enquanto alguns árabes paravam defronte a vitrines para observar as imagens na TV, outros desligaram seus televisores, enojados, diante das cenas de multidões em Bagdá celebrando a chegada das tropas americanas.


Com agências internacionais


Texto Anterior: Queda de estátua é o símbolo da invasão dos EUA
Próximo Texto: Frases
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.