São Paulo, domingo, 10 de abril de 2005

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Renovado, catolicismo recua no Brasil

MARINA DELLA VALLE
DA REDAÇÃO

Nos últimos anos, o catolicismo brasileiro viu sua base de fiéis encolher de maneira significativa: segundo levantamento feito pelo Datafolha, o percentual dos que se declaram católicos caiu de 75%, em 1997, para 70%, em 2002. Já de acordo com dados do Censo 2000 do IBGE, o percentual da população brasileira que se declara católica caiu de 83,8% em 1991 para 73,8% em 2000, o que representa um encolhimento de 11,9%.
No entanto, segundo analistas, a religião experimenta agora mais entusiasmo por parte de seus fiéis, conquistados por meio de movimentos como a Renovação Carismática e a maior presença nos meios de comunicação.
Paralelamente, foi registrado um aumento significativo do percentual da população que se declara evangélica: de 9,1%, em 1991, para 15,5%, em 2000, um crescimento de 70,7%. Outro dado relevante foi o aumento dos que se declararam sem religião. Eles eram 4,8% em 1991. Chegaram a 7,3% em 2000, aumento de 52%.
O alto número dos que se declaram sem religião, para a antropóloga Regina Novaes, secretária-adjunta da Secretaria Nacional da Juventude e membro do Iser (Instituto de Estudos da Religião), é o que trouxe o maior desafio para a Igreja Católica nesse período.
"Sem religião não significa ser ateu; significa que é alguém dentro desse mesmo espírito buscador que fez o final do século 20 e o começo do século 21, em que ninguém mais é obrigado a se dizer católico por tradição", diz. Ou seja, além de fiéis, a Igreja Católica perdeu sua aura tradicional de religião "obrigatória".
"Era natural que uma pessoa que nascesse dentro da Igreja Católica continuasse a se considerar católica, ainda que freqüentasse outras religiões, como as afro-brasileiras e o espiritismo. Hoje há uma busca por respostas, por espiritualidade, uma maior mobilidade", diz Novaes.
Para Luiz Alberto Gómez de Souza, diretor-executivo do Ceris (Centro de Estatística Religiosa e Investigações Sociais), ligado à CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) e à CRB (Conferência dos Religiosos do Brasil), a diminuição de fiéis católicos registrada pelo Censo não é novidade. "É preciso relativizar o Censo, porque os pesquisados que se declaram católicos não são necessariamente os que participam da prática de maneira ativa. Os católicos praticantes sempre representaram um número menor do que os que se declaram católicos."
Pesquisa do Ceris realizada em 1999 em seis regiões metropolitanas (São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Salvador e Recife) entre adultos das classes mais pobres constatou que 67% se declararam católicos e, desses, só 51% disseram acreditar em Jesus, Maria e nos ensinamentos da Igreja Católica.
"Eu acho que é um fenômeno interessante entre os jovens, que procuram várias expressões religiosas, circulam e não mais se prendem a uma religião. Esse é o desafio da Igreja Católica hoje, e também das outras religiões: saber acolher essa população", diz.

Vitalidade
Com a maior pluralidade religiosa, a Igreja Católica, na opinião de Souza, atrai "quem busca algo". "Hoje temos um pluralismo religioso, e a Igreja Católica tem de saber lidar com isso. É um ganho, porque as pessoas estão mais livres sobre suas opções religiosas", diz. Mas, num momento em que a "busca por algo" é predominante, como o catolicismo respondeu a essa diminuição de fiéis e à "concorrência"?
"Não importa o tamanho da igreja, mas sim sua vitalidade", diz Souza. "D. Hélder [Câmara, arcebispo emérito de Olinda e do Recife, morto em 1999] sempre falava em minorias "abraâmicas", de Abraão, que as renovações são feitas por minorias. Os adeptos das comunidades eclesiais de base sempre foram minoria, os carismáticos são minoria, mas são minorias dinâmicas. Não me assusta o quantitativo, mas a força do que o que a gente na igreja chama de testemunho ou de profecia, saber dizer alguma coisa própria", diz.
Para Novaes, a resposta da igreja ao novo cenário, além da Renovação Carismática, é o uso dos meios de comunicação. Sob João Paulo 2º, o papa "midiático", a Igreja Católica começou a usar mais a mídia no Brasil. "A igreja vai tentando usar recursos culturais, científicos e tecnológicos dentro do catolicismo. Aí tem a Rede Vida, as campanhas de evangelização, as "showmissas" e os padres cantores. A sociedade do espetáculo chegou à igreja."

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