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Renovado, catolicismo recua no Brasil
MARINA DELLA VALLE
DA REDAÇÃO
Nos últimos anos, o catolicismo
brasileiro viu sua base de fiéis encolher de maneira significativa:
segundo levantamento feito pelo
Datafolha, o percentual dos que se
declaram católicos caiu de 75%,
em 1997, para 70%, em 2002. Já de
acordo com dados do Censo 2000
do IBGE, o percentual da população brasileira que se declara católica caiu de 83,8% em 1991 para
73,8% em 2000, o que representa
um encolhimento de 11,9%.
No entanto, segundo analistas, a
religião experimenta agora mais
entusiasmo por parte de seus fiéis,
conquistados por meio de movimentos como a Renovação Carismática e a maior presença nos
meios de comunicação.
Paralelamente, foi registrado
um aumento significativo do percentual da população que se declara evangélica: de 9,1%, em 1991,
para 15,5%, em 2000, um crescimento de 70,7%. Outro dado relevante foi o aumento dos que se
declararam sem religião. Eles
eram 4,8% em 1991. Chegaram a
7,3% em 2000, aumento de 52%.
O alto número dos que se declaram sem religião, para a antropóloga Regina Novaes, secretária-adjunta da Secretaria Nacional da
Juventude e membro do Iser (Instituto de Estudos da Religião), é o
que trouxe o maior desafio para a
Igreja Católica nesse período.
"Sem religião não significa ser
ateu; significa que é alguém dentro desse mesmo espírito buscador que fez o final do século 20 e o
começo do século 21, em que ninguém mais é obrigado a se dizer
católico por tradição", diz. Ou seja, além de fiéis, a Igreja Católica
perdeu sua aura tradicional de religião "obrigatória".
"Era natural que uma pessoa
que nascesse dentro da Igreja Católica continuasse a se considerar
católica, ainda que freqüentasse
outras religiões, como as afro-brasileiras e o espiritismo. Hoje
há uma busca por respostas, por
espiritualidade, uma maior mobilidade", diz Novaes.
Para Luiz Alberto Gómez de
Souza, diretor-executivo do Ceris
(Centro de Estatística Religiosa e
Investigações Sociais), ligado à
CNBB (Conferência Nacional dos
Bispos do Brasil) e à CRB (Conferência dos Religiosos do Brasil), a
diminuição de fiéis católicos registrada pelo Censo não é novidade. "É preciso relativizar o Censo,
porque os pesquisados que se declaram católicos não são necessariamente os que participam da
prática de maneira ativa. Os católicos praticantes sempre representaram um número menor do
que os que se declaram católicos."
Pesquisa do Ceris realizada em
1999 em seis regiões metropolitanas (São Paulo, Rio de Janeiro,
Belo Horizonte, Porto Alegre, Salvador e Recife) entre adultos das
classes mais pobres constatou que
67% se declararam católicos e,
desses, só 51% disseram acreditar
em Jesus, Maria e nos ensinamentos da Igreja Católica.
"Eu acho que é um fenômeno
interessante entre os jovens, que
procuram várias expressões religiosas, circulam e não mais se
prendem a uma religião. Esse é o
desafio da Igreja Católica hoje, e
também das outras religiões: saber acolher essa população", diz.
Vitalidade
Com a maior pluralidade religiosa, a Igreja Católica, na opinião
de Souza, atrai "quem busca algo". "Hoje temos um pluralismo
religioso, e a Igreja Católica tem
de saber lidar com isso. É um ganho, porque as pessoas estão mais
livres sobre suas opções religiosas", diz. Mas, num momento em
que a "busca por algo" é predominante, como o catolicismo respondeu a essa diminuição de fiéis
e à "concorrência"?
"Não importa o tamanho da
igreja, mas sim sua vitalidade",
diz Souza. "D. Hélder [Câmara,
arcebispo emérito de Olinda e do
Recife, morto em 1999] sempre
falava em minorias "abraâmicas",
de Abraão, que as renovações são
feitas por minorias. Os adeptos
das comunidades eclesiais de base
sempre foram minoria, os carismáticos são minoria, mas são minorias dinâmicas. Não me assusta
o quantitativo, mas a força do que
o que a gente na igreja chama de
testemunho ou de profecia, saber
dizer alguma coisa própria", diz.
Para Novaes, a resposta da igreja ao novo cenário, além da Renovação Carismática, é o uso dos
meios de comunicação. Sob João
Paulo 2º, o papa "midiático", a
Igreja Católica começou a usar
mais a mídia no Brasil. "A igreja
vai tentando usar recursos culturais, científicos e tecnológicos
dentro do catolicismo. Aí tem a
Rede Vida, as campanhas de
evangelização, as "showmissas" e
os padres cantores. A sociedade
do espetáculo chegou à igreja."
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