São Paulo, sexta-feira, 10 de abril de 2009

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Acossados, EUA rejeitam reatar com Cuba

Em debate, assessor de Obama sofre pressão por aproximação, chama ilha de "estranho no ninho" e ataca líderes "espalhafatosos" da região

Pressão latino-americana deve ser reforçada durante Cúpula das Américas, em meio a fortes lobbies contra e pró-ilha dentro dos EUA

FLÁVIA MARREIRO
DA REPORTAGEM LOCAL

A despeito do esforço de dissuasão dos EUA, Cuba instalou-se como um tema de pressão sobre o presidente Barack Obama na Cúpula das Américas, na próxima semana, em Trinidad e Tobago. Ontem, David Davidow, o assessor da Casa Branca para o evento, defendeu-se do clamor pela normalização das relações americanas com Havana e disse que o antidemocrático regime comunista é "o estranho no ninho" nas Américas, não Washington.
Davidow falou em uma teleconferência promovida pelo Council on Foreign Relations (CFR), desde Nova York, e fez referência à ilha e à Venezuela de Hugo Chávez, que promete lançar o tema de Cuba, excluída do encontro, na cúpula. "Outra questão é como ou se o tema de Cuba vai aparecer, ou como alguns dos mais espalhafatosos atores da América Latina vão agir", disse o assessor.
Ele defendeu que Cuba não deve ofuscar a chance de os países da região estabelecerem uma agenda com os EUA em torno da crise econômica, das parcerias em energia e em segurança. Não deu, porém, cifras de ajuda financeira e foi vago sobre os dois últimos aspectos.
Além da pressão latino-americana, a Cúpula das Américas ocorre em meio a intenso movimento de lobbies contra e pró-ilha nos EUA -esses com apoio de associações de comércio e agricultura. Enquanto isso, em Havana, Fidel Castro, pelo terceiro dia consecutivo, voltou a elogiar o Obama por sua "mente ágil", mas de ação limitada por presidir o "império".
Ao defender que a Casa Branca deve seguir exigindo de Cuba uma transição democrática, Davidow citou editorial do jornal "Washington Post" criticando a visita nesta semana de congressistas negros a Havana. Já o "New York Times" publicou que a influente anticastrista Fundação Nacional Cubano-Americana (FNCA) agora quer mudança na política para a ilha.
"A noção de que a democracia deve ser o único critério para definir a relação com Cuba não para em pé. O único país que tem sido isolado por esses 50 anos de embargo é os EUA", disse David Rothkopf, consultor e ex-assessor de Bill Clinton (1993-2001), na teleconferência do CFR.
Isolado no evento, Davidow teve de ouvir Luís Alberto Moreno, colombiano presidente do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), repetir que a nova relação dos EUA com a região neste século passa pela aproximação com Cuba.
Rothkopf cobrou compromisso dos EUA no financiamento do BID -o país é o maior acionista do banco- e previu que a área que vai da Colômbia ao México, verdadeira "fronteira" dos EUA com o crime organizado, deve ser o eixo das discussões de segurança na cúpula. Para Rothkopf, o resto da região ficará sob a influência do Brasil nesta questão, já que Washington não terá dinheiro nem meios para se envolver nisso no futuro próximo.


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