São Paulo, sexta-feira, 10 de maio de 2002

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TERRORISMO

Entre os mortos no Daguestão há 12 crianças; ninguém assume ataque, mas governo suspeita de separatistas islâmicos

Bomba mata 34 em desfile no sul da Rússia

Reuters
Soldados e investigadores observam o local do atentado de ontem contra banda militar em Kapiisk, no Daguestão (sul da Rússia)


DA REDAÇÃO

Uma parada em comemoração à vitória soviética sobre os nazistas na Segunda Guerra terminou em banho de sangue ontem no sul da Rússia. Um atentado no momento em que uma banda da Marinha passava pelo centro de Kapiisk, na República do Daguestão, matou ao menos 34 pessoas -12 das quais crianças- e feriu 150.
Nenhum grupo assumiu a responsabilidade pela ação, realizada aparentemente com explosivos detonados por controle remoto. Autoridades locais e o governo de Moscou suspeitam de militantes separatistas islâmicos.
"Hoje é o feriado mais querido de nosso povo", disse o presidente russo, Vladimir Putin. "O ato de hoje foi cometido por uma corja para a qual nada é sagrado", declarou, prometendo prender os terroristas. "Temos todo o direito de tratá-los como nazistas, cujo único objetivo é espalhar morte, semear medo e assassinar."
Desde 1999, Moscou e cidades do sul do país são alvo de uma onda terrorista ligada a movimentos separatistas islâmicos do Cáucaso que já deixou centenas de mortos.
A bomba continha pregos, nozes e fragmentos metálicos, para ferir o maior número possível de pessoas. Foi acionada quando os músicos tocavam a canção "Dia da Vitória". À frente da banda caminhava um grupo de crianças.
Dezenas de veteranos de guerra e transeuntes da cidade portuária do mar Cáspio se aglomeravam para ver a parada passar. "Quando cheguei lá, vi um monte de corpos, pessoas em pânico", disse o professor Magomad Akhmedov, 35. "Algumas pessoas começaram a prestar os primeiros socorros, tentavam tapar as feridas com qualquer coisa que encontrassem para estancar o sangue."
Imagens de TV feitas momentos após o atentado mostraram corpos em trajes camuflados espalhados no chão, em meio a instrumentos musicais danificados e flores, que seriam colocadas em túmulos de veteranos de guerra.
Putin apontou o chefe do Serviço de Segurança Federal, Nikolai Patrushev, para comandar as investigações. Diferentemente de ataques anteriores, as autoridades não condenaram imediatamente rebeldes tchetchenos. Promotores do Daguestão dizem haver a possibilidade de a ação ter sido obra de uma seita extremista wahhabista (versão rígida do islamismo usada na Arábia Saudita).
A Rússia acusa separatistas da vizinha República da Tchetchênia de apoiar rebeldes daguestaneses que sonham em construir um Estado islâmico independente de Moscou. "Esse ato terrorista foi feito para desestabilizar a situação no Daguestão", disse Abdul Musayev, porta-voz do Ministério do Interior regional.
Imam Yaraliyev, procurador-geral do Daguestão, espera que um suposto terrorista baseado na Tchetchênia preso esta semana, Zaur Akabov, possa revelar pistas sobre a autoria do crime.
Em Grozni, capital tchetchena, rebeldes abriram fogo com lança-granadas contra militares e civis que celebravam a vitória sobre os nazistas num estádio da cidade. Os disparos, que partiram de um prédio ao lado, não atingiram o alvo desejado e apenas feriram um policial. A tragédia, porém, poderia ter sido maior, já que centenas de pessoas, entre elas crianças em idade escolar, participavam da cerimônia.

Com agências internacionais

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