|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Combate ao terror deve incluir ação política, diz estudo
MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO
Os atentados suicidas de 11 de
setembro passado e todas as suas
consequências transformaram
não apenas as estratégias das
grandes potências geopolíticas do
planeta e as alianças por elas constituídas mas também a própria
natureza das relações internacionais, de acordo com a "Pesquisa
Estratégica 2001-2002" (anual),
do Instituto Internacional para
Estudos Estratégicos (IISS, sigla
em inglês), publicada ontem.
"É indiscutível que vivemos hoje num outro quadro geopolítico
internacional. Primeiro, a única
superpotência do mundo percebeu, de modo trágico, que não era
invulnerável. Segundo, muitas
das alianças estratégicas ou das
disputas internacionais que existiam anteriormente são vistas de
outra maneira agora", declarou à
Folha Jonathan Stevenson, um
dos autores do estudo do IISS.
Analisando as consequências
dos ataques de 11 de setembro, o
documento conclui que operações militares, coleta e análise de
informações, esforços para conter
a proliferação de armas e leis mais
severas podem dificultar ou impedir ações terroristas, mas não
atingem as verdadeiras causas do
terrorismo -"a incapacidade ou
a falta de vontade de regimes muçulmanos não-liberais de cuidar
de seus próprios cidadãos".
Para o IISS, se pretendem vencer a guerra ao terrorismo global
que declararam após os atentados suicidas, os EUA devem dar mais atenção à reconstrução da sociedade civil e à da economia de Estados que atravessaram situações de conflito ou que abrigaram terroristas, como o Afeganistão. Afinal, de acordo com o instituto, "em alguns casos, não se engajar na reconstrução das nações pode constituir um caso grave de negligência estratégica".
"Na campanha internacional contra o terrorismo, a vitória significa levar os frutos do sistema democrático capitalista às pessoas que ainda não tiveram a oportunidade de tirar proveito dele totalmente", afirma o texto do IISS.
Em alguns casos, para Stevenson, mesmo que o terrorismo seja um componente do debate, a solução política não deve ser descartada.
"Para os EUA, a solução militar não é uma opção viável no que se refere ao Oriente Médio, por exemplo. Assim, em vários lugares, Washington tem de esforçar-se para alcançar acordos políticos que possam pôr fim a problemas locais ou regionais de terrorismo.
Ademais, no caso dos palestinos, um maciço esforço de reconstrução econômica é indispensável, e isso só existirá se os EUA pagarem a conta", analisou Stevenson.
Outro efeito do 11 de setembro na cena geoestratégica internacional diz respeito à Otan (aliança militar ocidental), segundo o relatório do IISS. Emperrada por causa de sua possível expansão para novos países e relegada a segundo
plano durante a ofensiva militar no Afeganistão, a Otan atravessa
uma crise de identidade, que poderia transformá-la num órgão
sem influência, segundo o IISS.
"Desde os atentados, Washington privilegia a formação de coalizões informais, o que acabou esvaziando a Otan. Ademais, os
EUA pressionam seus aliados europeus a criar uma identidade
própria e a colaborar no combate ao terrorismo individualmente.
Com isso, a Otan fica ainda mais enfraquecida. A França e a Alemanha já expressaram descontentamento com essa situação", apontou Stevenson.
América Latina
A crise econômica argentina teve efeitos externos limitados, contudo ela poderia gerar uma tomada de consciência regional -com a liderança do Brasil- no sentido de posicionar a América do Sul em relação aos EUA e ao FMI (Fundo Monetário Internacional), segundo o relatório do IISS.
O presidente Fernando Henrique Cardoso deu "um forte apoio
moral" aos argentinos, chegando até a expressar descontentamento
com o FMI", de acordo com o IISS. "No que se refere ao terrorismo, há um potencial na região da tríplice fronteira, mas nada de concreto", apontou Stevenson.
Com agências internacionais
Texto Anterior: Terrorismo: Bomba mata 34 em desfile no sul da Rússia Próximo Texto: Para analista, inação pode agravar terror Índice
|