São Paulo, sexta-feira, 10 de maio de 2002

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Combate ao terror deve incluir ação política, diz estudo

MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO

Os atentados suicidas de 11 de setembro passado e todas as suas consequências transformaram não apenas as estratégias das grandes potências geopolíticas do planeta e as alianças por elas constituídas mas também a própria natureza das relações internacionais, de acordo com a "Pesquisa Estratégica 2001-2002" (anual), do Instituto Internacional para Estudos Estratégicos (IISS, sigla em inglês), publicada ontem.
"É indiscutível que vivemos hoje num outro quadro geopolítico internacional. Primeiro, a única superpotência do mundo percebeu, de modo trágico, que não era invulnerável. Segundo, muitas das alianças estratégicas ou das disputas internacionais que existiam anteriormente são vistas de outra maneira agora", declarou à Folha Jonathan Stevenson, um dos autores do estudo do IISS.
Analisando as consequências dos ataques de 11 de setembro, o documento conclui que operações militares, coleta e análise de informações, esforços para conter a proliferação de armas e leis mais severas podem dificultar ou impedir ações terroristas, mas não atingem as verdadeiras causas do terrorismo -"a incapacidade ou a falta de vontade de regimes muçulmanos não-liberais de cuidar de seus próprios cidadãos".
Para o IISS, se pretendem vencer a guerra ao terrorismo global que declararam após os atentados suicidas, os EUA devem dar mais atenção à reconstrução da sociedade civil e à da economia de Estados que atravessaram situações de conflito ou que abrigaram terroristas, como o Afeganistão. Afinal, de acordo com o instituto, "em alguns casos, não se engajar na reconstrução das nações pode constituir um caso grave de negligência estratégica".
"Na campanha internacional contra o terrorismo, a vitória significa levar os frutos do sistema democrático capitalista às pessoas que ainda não tiveram a oportunidade de tirar proveito dele totalmente", afirma o texto do IISS. Em alguns casos, para Stevenson, mesmo que o terrorismo seja um componente do debate, a solução política não deve ser descartada.
"Para os EUA, a solução militar não é uma opção viável no que se refere ao Oriente Médio, por exemplo. Assim, em vários lugares, Washington tem de esforçar-se para alcançar acordos políticos que possam pôr fim a problemas locais ou regionais de terrorismo. Ademais, no caso dos palestinos, um maciço esforço de reconstrução econômica é indispensável, e isso só existirá se os EUA pagarem a conta", analisou Stevenson.
Outro efeito do 11 de setembro na cena geoestratégica internacional diz respeito à Otan (aliança militar ocidental), segundo o relatório do IISS. Emperrada por causa de sua possível expansão para novos países e relegada a segundo plano durante a ofensiva militar no Afeganistão, a Otan atravessa uma crise de identidade, que poderia transformá-la num órgão sem influência, segundo o IISS.
"Desde os atentados, Washington privilegia a formação de coalizões informais, o que acabou esvaziando a Otan. Ademais, os EUA pressionam seus aliados europeus a criar uma identidade própria e a colaborar no combate ao terrorismo individualmente. Com isso, a Otan fica ainda mais enfraquecida. A França e a Alemanha já expressaram descontentamento com essa situação", apontou Stevenson.

América Latina
A crise econômica argentina teve efeitos externos limitados, contudo ela poderia gerar uma tomada de consciência regional -com a liderança do Brasil- no sentido de posicionar a América do Sul em relação aos EUA e ao FMI (Fundo Monetário Internacional), segundo o relatório do IISS.
O presidente Fernando Henrique Cardoso deu "um forte apoio moral" aos argentinos, chegando até a expressar descontentamento com o FMI", de acordo com o IISS. "No que se refere ao terrorismo, há um potencial na região da tríplice fronteira, mas nada de concreto", apontou Stevenson.


Com agências internacionais


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