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ELEIÇÕES NA ARGENTINA
Mas analistas contestam o valor declarado pelo governista, que ainda é ajudado por propaganda de Duhalde
Gasto de Menem é 9 vezes o de Kirchner
ELAINE COTTA
DE BUENOS AIRES
O ex-presidente Carlos Menem
(1989-99) foi, até agora, quem
mais gastou com publicidade na
eleição presidencial argentina. No
primeiro turno, o candidato investiu 7,3 milhões de pesos (R$
7,3 milhões), segundo um relatório do Poder Ciudadano, braço
argentino da organização Transparência Internacional, e obtido
pela Folha.
O adversário de Menem, Néstor
Kirchner, apoiado pelo presidente Eduardo Duhalde, declarou ter
gastado 794,8 mil pesos. O valor,
porém, é contestado por analistas
de marketing eleitoral -eles estimam que o investimento de
Kirchner na campanha tenha superado os 4,5 milhões de pesos.
Para o segundo turno, a previsão é que cada um gaste, no mínimo, 1,5 milhão de pesos. Menem,
de acordo com analistas, foi financiado por empresas ligadas ao
capital externo e ao mercado financeiro. Kirchner, além de contar com o aparato governamental,
tem apoio de empresários locais.
Mas há também quem afirme que
o candidato governista recebeu
ajuda de Wall Street no primeiro
turno, em 27 de abril.
"Essa eleição passa por um fenômeno complexo e muito particular. Evidentemente, Kirchner
teria maior apoio do empresariado nacional e Menem, do internacional. Mas, diante das pesquisas
que apontam para uma vitória
quase certa de Kirchner, nenhum
empresário ousaria declarar abertamente apoio a Menem", diz Roberto Bacman, do Ceop (Centro
de Estudos de Opinião Pública).
As últimas pesquisas de intenção de voto apontam grande vantagem para Kirchner no segundo
turno, no dia 18. Menem, que teve
25,3% dos votos no primeiro turno, contra 23% de Kirchner, agora aparece com até 40 pontos percentuais de desvantagem.
O levantamento do Poder Ciudadano mostra que os investimentos dos 19 presidenciáveis no
primeiro turno somaram 16 milhões de pesos. Esse valor, no entanto, é menor que o gasto nas
eleições de 1999, quando Duhalde, Fernando de la Rúa e Domingo Cavallo, juntos, desembolsaram 48 milhões de pesos.
"Os candidatos realmente fizeram uma campanha tímida neste
ano. A população, desanimada
com os políticos, poderia sentir a
publicidade como uma provocação", afirma Mario Farah, vice-presidente do Poder Ciudadano.
Farah disse que Kirchner teve
uma exposição menor em comerciais de TV -que são mais caros-, o que justifica ter gastado
menos que Menem. "Menem foi o
que fez mais publicidade televisiva", afirma Virgínia Lencina,
coordenadora da área de ação política do Poder Ciudadano.
Apoio de Duhalde
Para especialistas, Kirchner,
embora tenha gastado menos que
Menem, pode ter sido beneficiado
pela propaganda do governo de
Duhalde, que o apóia.
Dados da pesquisa do Poder
Ciudadano mostram que, entre
janeiro e março, os gastos mensais do governo Duhalde com publicidade praticamente dobraram
em relação a 2002. Em 2002, foram 48,5 milhões de pesos, ou 4
milhões de pesos por mês. Neste
ano, só no primeiro trimestre, foram gastos 23,3 milhões, ou 7,7
milhões por mês -48% a mais.
"Candidatos apoiados por governos podem ser sim beneficiados pela publicidade oficial", diz
Mario Farah. Segundo ele, o governo pode não ter investido diretamente em campanhas a favor de
Kirchner, mas fez comerciais defendendo a continuidade das
atuais políticas. "E Kirchner é a
continuidade", disse.
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