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São Paulo, sábado, 10 de maio de 2003

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ELEIÇÕES NA ARGENTINA

Mas analistas contestam o valor declarado pelo governista, que ainda é ajudado por propaganda de Duhalde

Gasto de Menem é 9 vezes o de Kirchner

ELAINE COTTA
DE BUENOS AIRES

O ex-presidente Carlos Menem (1989-99) foi, até agora, quem mais gastou com publicidade na eleição presidencial argentina. No primeiro turno, o candidato investiu 7,3 milhões de pesos (R$ 7,3 milhões), segundo um relatório do Poder Ciudadano, braço argentino da organização Transparência Internacional, e obtido pela Folha.
O adversário de Menem, Néstor Kirchner, apoiado pelo presidente Eduardo Duhalde, declarou ter gastado 794,8 mil pesos. O valor, porém, é contestado por analistas de marketing eleitoral -eles estimam que o investimento de Kirchner na campanha tenha superado os 4,5 milhões de pesos.
Para o segundo turno, a previsão é que cada um gaste, no mínimo, 1,5 milhão de pesos. Menem, de acordo com analistas, foi financiado por empresas ligadas ao capital externo e ao mercado financeiro. Kirchner, além de contar com o aparato governamental, tem apoio de empresários locais. Mas há também quem afirme que o candidato governista recebeu ajuda de Wall Street no primeiro turno, em 27 de abril.
"Essa eleição passa por um fenômeno complexo e muito particular. Evidentemente, Kirchner teria maior apoio do empresariado nacional e Menem, do internacional. Mas, diante das pesquisas que apontam para uma vitória quase certa de Kirchner, nenhum empresário ousaria declarar abertamente apoio a Menem", diz Roberto Bacman, do Ceop (Centro de Estudos de Opinião Pública).
As últimas pesquisas de intenção de voto apontam grande vantagem para Kirchner no segundo turno, no dia 18. Menem, que teve 25,3% dos votos no primeiro turno, contra 23% de Kirchner, agora aparece com até 40 pontos percentuais de desvantagem.
O levantamento do Poder Ciudadano mostra que os investimentos dos 19 presidenciáveis no primeiro turno somaram 16 milhões de pesos. Esse valor, no entanto, é menor que o gasto nas eleições de 1999, quando Duhalde, Fernando de la Rúa e Domingo Cavallo, juntos, desembolsaram 48 milhões de pesos.
"Os candidatos realmente fizeram uma campanha tímida neste ano. A população, desanimada com os políticos, poderia sentir a publicidade como uma provocação", afirma Mario Farah, vice-presidente do Poder Ciudadano.
Farah disse que Kirchner teve uma exposição menor em comerciais de TV -que são mais caros-, o que justifica ter gastado menos que Menem. "Menem foi o que fez mais publicidade televisiva", afirma Virgínia Lencina, coordenadora da área de ação política do Poder Ciudadano.

Apoio de Duhalde
Para especialistas, Kirchner, embora tenha gastado menos que Menem, pode ter sido beneficiado pela propaganda do governo de Duhalde, que o apóia.
Dados da pesquisa do Poder Ciudadano mostram que, entre janeiro e março, os gastos mensais do governo Duhalde com publicidade praticamente dobraram em relação a 2002. Em 2002, foram 48,5 milhões de pesos, ou 4 milhões de pesos por mês. Neste ano, só no primeiro trimestre, foram gastos 23,3 milhões, ou 7,7 milhões por mês -48% a mais.
"Candidatos apoiados por governos podem ser sim beneficiados pela publicidade oficial", diz Mario Farah. Segundo ele, o governo pode não ter investido diretamente em campanhas a favor de Kirchner, mas fez comerciais defendendo a continuidade das atuais políticas. "E Kirchner é a continuidade", disse.


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