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IRAQUE OCUPADO
Exército dos EUA levará à Corte Marcial acusado de maus-tratos a iraquianos; Blair pede desculpas por abusos
Bagdá verá 1º julgamento por caso de tortura
RAFAEL CARIELLO
DE NOVA YORK
O Exército dos Estados Unidos
anunciou ontem o primeiro julgamento pela Corte Marcial de um
dos acusados de participar dos
atos de tortura na prisão de Abu
Ghraib, no Iraque.
Acusado de conspiração para
maltratar prisioneiros e falha no
cumprimento da função por não
impedir abusos, Jeremy Sivits, 24,
será julgado a partir do próximo
dia 19 de maio, em Bagdá.
A corte será aberta ao público. A
pena prevista para as acusações é
de um ano de prisão, redução da
patente e multa. O militar poderá
ainda ser desligado do Exército.
Uma fonte militar disse à agência de notícias Reuters que Sivits
teria tirado várias das fotos que
revelaram os maus-tratos em Abu
Ghraib e que vieram a público há
duas semanas.
O pai de Sivits, Daniel, defendeu
o filho afirmando que ele foi enviado ao Iraque sem ter sido treinado para a função que cumpria.
Disse ainda que Sivits é um mecânico de caminhões, não um carcereiro, e que apenas seguia ordens
ao tirar as fotos dos abusos.
O escândalo atingiu na semana
passada o topo da hierarquia militar dos EUA, com congressistas e
o jornal "New York Times" pedindo a saída do secretário da Defesa, Donald Rumsfeld.
"New Yorker"
Na edição desta semana, a revista "New Yorker" apresenta uma
foto de um prisioneiro iraquiano
sendo ameaçados por cachorros.
Na imagem reproduzida, um
prisioneiro nu aparece caído no
chão em primeiro plano. Em sua
coxa e perna aparecem feridas cobertas de sangue que parecem ter
sido feitas por mordidas. A revista
afirma que Rumsfeld tentou acobertar o escândalo por meses.
O senador republicano Chuck
Hagel também sugeriu, no fim de
semana, que o secretário da Defesa pode ter que deixar o cargo.
"Está em questão se o secretário
Rumsfeld e, bem francamente, o
general [Richard] Myers [chefe
do Estado Maior das Forças Armadas] podem ter o respeito e a
confiança dos militares e do povo
americano para liderar esse país",
disse o senador. "Nas próximas
semanas o presidente terá que fazer algumas escolhas difíceis."
O jornal "Washington Post" publicou ontem a notícia de que o
Departamento da Defesa dos
EUA aprovou, em abril de 2003,
técnicas de interrogatório que
permitem dificultar o sono do
prisioneiro, expô-lo ao calor, ao
frio e a outros desconfortos sensoriais (luzes fortes e música alta).
A lista de cerca de 20 procedimentos foi aprovada, segundo o
"Post", pelo topo da hierarquia
militar americana e representa
-no momento em que se questiona a tortura praticada no Iraque- o primeiro documento a
vir a público registrando uma política oficial dos EUA de permitir
certo grau de maus-tratos físicos e
psicológicos.
Segundo um porta-voz do Pentágono, os procedimentos
-aprovados para uso na base de
Guantánamo, em Cuba, onde estão detidos acusados de ligação
com grupos terroristas- "são
minuciosamente controlados, limitados na freqüência e duração e
aprovados caso a caso".
Reino Unido
O premiê Tony Blair pediu desculpas pelos abusos cometidos
por soldados britânicos no Iraque
e disse que todos os responsáveis
serão punidos. Mas acrescentou,
em entrevista a uma TV francesa,
que "as atividades de uns poucos
não devem desacreditar o trabalho feito pela grande maioria".
Hoje, o ministro da Defesa do
Reino Unido, Geoff Hoon, fará
um depoimento no Parlamento
sobre as acusações de abusos. Deputados estão exigindo que o governo torne público o relatório
em que a Cruz Vermelha dá detalhes sobre os excessos cometidos.
A Anistia Internacional afirmou
que avisou há um ano autoridades sobre casos de tortura cometidos por britânicos.
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