São Paulo, segunda-feira, 10 de maio de 2004

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IRAQUE OCUPADO

Exército dos EUA levará à Corte Marcial acusado de maus-tratos a iraquianos; Blair pede desculpas por abusos

Bagdá verá 1º julgamento por caso de tortura

RAFAEL CARIELLO
DE NOVA YORK

O Exército dos Estados Unidos anunciou ontem o primeiro julgamento pela Corte Marcial de um dos acusados de participar dos atos de tortura na prisão de Abu Ghraib, no Iraque.
Acusado de conspiração para maltratar prisioneiros e falha no cumprimento da função por não impedir abusos, Jeremy Sivits, 24, será julgado a partir do próximo dia 19 de maio, em Bagdá.
A corte será aberta ao público. A pena prevista para as acusações é de um ano de prisão, redução da patente e multa. O militar poderá ainda ser desligado do Exército.
Uma fonte militar disse à agência de notícias Reuters que Sivits teria tirado várias das fotos que revelaram os maus-tratos em Abu Ghraib e que vieram a público há duas semanas.
O pai de Sivits, Daniel, defendeu o filho afirmando que ele foi enviado ao Iraque sem ter sido treinado para a função que cumpria. Disse ainda que Sivits é um mecânico de caminhões, não um carcereiro, e que apenas seguia ordens ao tirar as fotos dos abusos.
O escândalo atingiu na semana passada o topo da hierarquia militar dos EUA, com congressistas e o jornal "New York Times" pedindo a saída do secretário da Defesa, Donald Rumsfeld.

"New Yorker"
Na edição desta semana, a revista "New Yorker" apresenta uma foto de um prisioneiro iraquiano sendo ameaçados por cachorros.
Na imagem reproduzida, um prisioneiro nu aparece caído no chão em primeiro plano. Em sua coxa e perna aparecem feridas cobertas de sangue que parecem ter sido feitas por mordidas. A revista afirma que Rumsfeld tentou acobertar o escândalo por meses.
O senador republicano Chuck Hagel também sugeriu, no fim de semana, que o secretário da Defesa pode ter que deixar o cargo.
"Está em questão se o secretário Rumsfeld e, bem francamente, o general [Richard] Myers [chefe do Estado Maior das Forças Armadas] podem ter o respeito e a confiança dos militares e do povo americano para liderar esse país", disse o senador. "Nas próximas semanas o presidente terá que fazer algumas escolhas difíceis."
O jornal "Washington Post" publicou ontem a notícia de que o Departamento da Defesa dos EUA aprovou, em abril de 2003, técnicas de interrogatório que permitem dificultar o sono do prisioneiro, expô-lo ao calor, ao frio e a outros desconfortos sensoriais (luzes fortes e música alta).
A lista de cerca de 20 procedimentos foi aprovada, segundo o "Post", pelo topo da hierarquia militar americana e representa -no momento em que se questiona a tortura praticada no Iraque- o primeiro documento a vir a público registrando uma política oficial dos EUA de permitir certo grau de maus-tratos físicos e psicológicos.
Segundo um porta-voz do Pentágono, os procedimentos -aprovados para uso na base de Guantánamo, em Cuba, onde estão detidos acusados de ligação com grupos terroristas- "são minuciosamente controlados, limitados na freqüência e duração e aprovados caso a caso".

Reino Unido
O premiê Tony Blair pediu desculpas pelos abusos cometidos por soldados britânicos no Iraque e disse que todos os responsáveis serão punidos. Mas acrescentou, em entrevista a uma TV francesa, que "as atividades de uns poucos não devem desacreditar o trabalho feito pela grande maioria".
Hoje, o ministro da Defesa do Reino Unido, Geoff Hoon, fará um depoimento no Parlamento sobre as acusações de abusos. Deputados estão exigindo que o governo torne público o relatório em que a Cruz Vermelha dá detalhes sobre os excessos cometidos. A Anistia Internacional afirmou que avisou há um ano autoridades sobre casos de tortura cometidos por britânicos.


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