São Paulo, segunda-feira, 10 de maio de 2004

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ANÁLISE

Ataque abala política de Putin

JIM HEINTZ
DA ASSOCIATED PRESS

A bomba que matou ontem em Grozni o presidente tchetcheno, Akhmad Kadyrov, parece também ter causado um dano mortal na estratégia do Kremlin para o confronto na região, que já passou por duas guerras desde 1994.
Incapaz de deter os separatistas rebeldes e contrário a qualquer forma de negociação com eles, o presidente russo, Vladimir Putin, prometeu que a estabilidade seria restaurada com a cessão de autonomia aos tchetchenos, incluindo a eleição do líder da república.
Após o atentado de ontem, no entanto, políticos e analistas russos pediram a intervenção direta de Moscou na Tchetchênia, o que levaria o Kremlin ao centro de um conflito do qual ele tenta manter distância. "Considero necessário estabelecer o controle presidencial direto na Tchetchênia e possivelmente declarar estado de emergência nos territórios fronteiriços", disse Lyubov Sliska, vice-líder da coalizão pró-Putin no Parlamento russo.
Seu discurso foi endossado pelo parlamentar nacionalista Dmitri Rogozin, que defendeu a "destruição" dos responsáveis pelo ataque de ontem.
"A morte de Kadyrov apresenta um sério dilema para as autoridades federais", opinou o analista Nikolai Ulyanov. "O estabelecimento de um estado de emergência brutal e direto da Presidência não pode ser excluído."
Apesar dos apelos, o governo central não indicou ontem qualquer sinal de alteração em sua estratégia. "Nosso trabalho na república não será interrompido", disse Sergei Abramov, 32, premiê tchetcheno que assumiu interinamente a Presidência.

Discurso duro
O discurso de Rogozin lembra as duras promessas de caça aos separatistas tchetchenos feitas por Putin em 1999, quando o então premiê ordenou uma ofensiva militar na região. Após a morte de dezenas de milhares de pessoas no confronto, a destruição quase completa de Grozni e denúncias de abusos e maus tratos contra prisioneiros por militares russos, o Kremlin alterou sua estratégia, já que não conseguirá conter totalmente os rebeldes.
O plano adotado a partir de 2002 incluiu um plebiscito na Tchetchênia em que 95% dos votantes optaram pela permanência da república na Rússia e a eleição de Kadyrov -processos boicotados e considerados fraudulentos pelos separatistas.


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