São Paulo, terça-feira, 10 de maio de 2005

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O FIM DO NAZISMO

Diante de líderes estrangeiros, entre eles Bush, dirigente russo afirma que URSS foi crucial na Segunda Guerra

Exército soviético libertou Europa, diz Putin

MÁRCIO SENNE DE MORAES
ENVIADO ESPECIAL A MOSCOU

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, declarou ontem, na praça Vermelha, diante de mais de 50 líderes estrangeiros que comemoravam o 60º aniversário da vitória sobre os nazistas na Segunda Guerra, que os principais responsáveis pelo triunfo foram os soviéticos.
Em discurso, ele mencionou a "coragem de todos os europeus que combateram o nazismo", mas ressaltou que "os mais cruéis e decisivos eventos ocorreram em território soviético". E declarou: "O Exército Vermelho pôs um glorioso fim à guerra com a libertação da Europa e a batalha por Berlim".
"Todos os que combateram o nazismo venceram a guerra, mas dezenas de milhões de soviéticos morreram no conflito... A história nos ensina que não podemos permitir a ocorrência de outro confronto tão letal e que é preciso construir relações pacíficas entre os povos", afirmou Putin no início da cerimônia oficial, que, embora pomposa, teve momentos de leve descontração.
Seu curto discurso, de cerca de três minutos, mereceu um discreto cumprimento de George W. Bush, que se sentou ao lado do colega russo e se tornou o primeiro presidente americano a acompanhar uma parada militar russa.
Além dele, estavam presentes, entre outros, os dirigentes dos países que compuseram o Eixo derrotado na guerra -Gerhard Schröder, da Alemanha, Silvio Berlusconi, da Itália, e Junichiro Koizumi, do Japão- e integrantes dos Aliados, como o presidente da China, Hu Jintao, e o da França, Jacques Chirac. Tony Blair, premiê do Reino Unido -país que era um dos chamados "Três Grandes" entre os Aliados, ao lado de EUA e URSS-, não compareceu alegando compromissos domésticos.
O final da Segunda Guerra na Europa é celebrado em 9 de maio na Rússia porque as autoridades soviéticas o anunciaram à população nesse dia, visto que o marechal Georgy Zhukov assinou o documento que pôs fim ao que os soviéticos chamara de Grande Guerra Patriótica pouco depois da meia-noite. No Ocidente, o fim da Segunda Guerra na Europa é festejado em 8 de maio. No leste, o confronto com o Japão só acabou em agosto de 1945.
Durante seu discurso, Putin evitou mencionar temas controversos, como a ocupação soviética dos países bálticos (Estônia, Letônia e Lituânia) por mais de 40 anos depois da guerra ou o massacre de poloneses cometido por forças fiéis a Josef Stálin, ditador da URSS. "Hoje é um dia de festa para nossos povos, um dia sagrado", declarou o presidente russo.
"Construímos nossas políticas com base na liberdade e na democracia para que cada país possa escolher seu próprio caminho", enfatizou Putin, que lembrou ainda a importância da "irmandade" entre os russos e seus vizinhos mais próximos e membros da Comunidade dos Estados Independentes -que conta com todas as ex-repúblicas soviéticas menos os países bálticos.
Putin enfatizou ainda que a grande ameaça à paz e à estabilidade mundiais não é mais um confronto entre as grandes potências militares, mas "o terrorismo" e que todos os Estados devem estar preparados para enfrentá-lo. Moscou é um dos maiores aliados dos EUA na guerra ao terror.
A parada militar, que durou uma hora e foi bastante aplaudida, começou com uma revista às tropas feita pelo ministro da Defesa russo, Serguei Ivanov, um dos homens mais influentes da atual administração do país.
Em seguida, entraram soldados com uniformes da época da guerra. Depois, foi a vez de veteranos do conflito e veículos utilizados nos combates. Aviões da Força Aérea russa encerraram a apresentação. Entre os cerca de 8.000 convidados que estavam na praça Vermelha também havia veteranos das guerras do Afeganistão (1979-89) e da Tchetchênia, que ainda não acabou. Muitos velhos soldados não conseguiram conter as lágrimas.
Também estiveram representados 18 batalhões das Forças Armadas russas atuais. A Rússia tinha, há pouco mais de dez anos, por volta de 3,3 milhões de homens em suas forças militares. Hoje o número é de cerca de 1,2 milhão. O Kremlin prepara uma reforma militar, que, segundo disse à Folha o general Anatoly Mazurkevich, chefe do Diretório de Cooperação Militar Internacional do Ministério da Defesa, começará a ser aplicada em 2008.
Após o final da parada militar, os chefes de Estado e de governo deixaram a praça Vermelha e foram a pé aos jardins de Alexandre, situados ao longo de outro muro do Kremlin, para colocar flores no túmulo do soldado desconhecido. Em todo o evento, Putin, Bush e Schröder estavam acompanhados de suas mulheres.


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