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O FIM DO NAZISMO
Diante de líderes estrangeiros, entre eles Bush, dirigente russo afirma que URSS foi crucial na Segunda Guerra
Exército soviético libertou Europa, diz Putin
MÁRCIO SENNE DE MORAES
ENVIADO ESPECIAL A MOSCOU
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, declarou ontem, na
praça Vermelha, diante de mais
de 50 líderes estrangeiros que comemoravam o 60º aniversário da
vitória sobre os nazistas na Segunda Guerra, que os principais
responsáveis pelo triunfo foram
os soviéticos.
Em discurso, ele mencionou a
"coragem de todos os europeus
que combateram o nazismo",
mas ressaltou que "os mais cruéis
e decisivos eventos ocorreram em
território soviético". E declarou:
"O Exército Vermelho pôs um
glorioso fim à guerra com a libertação da Europa e a batalha por
Berlim".
"Todos os que combateram o
nazismo venceram a guerra, mas
dezenas de milhões de soviéticos
morreram no conflito... A história
nos ensina que não podemos permitir a ocorrência de outro confronto tão letal e que é preciso
construir relações pacíficas entre
os povos", afirmou Putin no início da cerimônia oficial, que, embora pomposa, teve momentos de
leve descontração.
Seu curto discurso, de cerca de
três minutos, mereceu um discreto cumprimento de George W.
Bush, que se sentou ao lado do colega russo e se tornou o primeiro
presidente americano a acompanhar uma parada militar russa.
Além dele, estavam presentes,
entre outros, os dirigentes dos
países que compuseram o Eixo
derrotado na guerra -Gerhard
Schröder, da Alemanha, Silvio
Berlusconi, da Itália, e Junichiro
Koizumi, do Japão- e integrantes dos Aliados, como o presidente da China, Hu Jintao, e o da
França, Jacques Chirac. Tony
Blair, premiê do Reino Unido
-país que era um dos chamados
"Três Grandes" entre os Aliados,
ao lado de EUA e URSS-, não
compareceu alegando compromissos domésticos.
O final da Segunda Guerra na
Europa é celebrado em 9 de maio
na Rússia porque as autoridades
soviéticas o anunciaram à população nesse dia, visto que o marechal Georgy Zhukov assinou o
documento que pôs fim ao que os
soviéticos chamara de Grande
Guerra Patriótica pouco depois
da meia-noite. No Ocidente, o fim
da Segunda Guerra na Europa é
festejado em 8 de maio. No leste, o
confronto com o Japão só acabou
em agosto de 1945.
Durante seu discurso, Putin evitou mencionar temas controversos, como a ocupação soviética
dos países bálticos (Estônia, Letônia e Lituânia) por mais de 40
anos depois da guerra ou o massacre de poloneses cometido por
forças fiéis a Josef Stálin, ditador
da URSS. "Hoje é um dia de festa
para nossos povos, um dia sagrado", declarou o presidente russo.
"Construímos nossas políticas
com base na liberdade e na democracia para que cada país possa
escolher seu próprio caminho",
enfatizou Putin, que lembrou ainda a importância da "irmandade"
entre os russos e seus vizinhos
mais próximos e membros da Comunidade dos Estados Independentes -que conta com todas as
ex-repúblicas soviéticas menos os
países bálticos.
Putin enfatizou ainda que a
grande ameaça à paz e à estabilidade mundiais não é mais um
confronto entre as grandes potências militares, mas "o terrorismo"
e que todos os Estados devem estar preparados para enfrentá-lo.
Moscou é um dos maiores aliados
dos EUA na guerra ao terror.
A parada militar, que durou
uma hora e foi bastante aplaudida, começou com uma revista às
tropas feita pelo ministro da Defesa russo, Serguei Ivanov, um dos
homens mais influentes da atual
administração do país.
Em seguida, entraram soldados
com uniformes da época da guerra. Depois, foi a vez de veteranos
do conflito e veículos utilizados
nos combates. Aviões da Força
Aérea russa encerraram a apresentação. Entre os cerca de 8.000
convidados que estavam na praça
Vermelha também havia veteranos das guerras do Afeganistão
(1979-89) e da Tchetchênia, que
ainda não acabou. Muitos velhos
soldados não conseguiram conter
as lágrimas.
Também estiveram representados 18 batalhões das Forças Armadas russas atuais. A Rússia tinha, há pouco mais de dez anos,
por volta de 3,3 milhões de homens em suas forças militares.
Hoje o número é de cerca de 1,2
milhão. O Kremlin prepara uma
reforma militar, que, segundo
disse à Folha o general Anatoly
Mazurkevich, chefe do Diretório
de Cooperação Militar Internacional do Ministério da Defesa,
começará a ser aplicada em 2008.
Após o final da parada militar,
os chefes de Estado e de governo
deixaram a praça Vermelha e foram a pé aos jardins de Alexandre, situados ao longo de outro
muro do Kremlin, para colocar
flores no túmulo do soldado desconhecido. Em todo o evento, Putin, Bush e Schröder estavam acompanhados de suas mulheres.
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