São Paulo, terça-feira, 10 de maio de 2005

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MÍDIA

Caso Blair abalou jornal americano

Comitê propõe reformar "Times" por credibilidade

PEDRO DIAS LEITE
DE NOVA YORK

Ainda sob efeito do escândalo Jason Blair, o repórter que inventava histórias, um comitê interno do "New York Times" elaborou um relatório de 16 páginas para tentar aumentar a credibilidade do jornal para seus leitores.
Intitulado "Preservando a confiança dos nossos leitores", o documento afirma que o jornal tem de reduzir ao mínimo o número de citações "off the records", em que a fonte da informação não é identificada, e aumentar o contato entre os leitores e repórteres. O texto do relatório está disponível na internet (www.nytco.com).
O uso de fontes "em off" é bastante comum em reportagens sobre política ou segurança, em que a pessoa que passou a informação teme represálias.
A comissão afirmou que repórteres e editores devem fazer pressão para que o entrevistado dê as declarações abertamente. Quando isso não for possível, a obrigação do jornal é fornecer o maior número de dados possível sobre a origem da informação: qual o interesse de quem a passou, como a teria obtido e a que área está relacionado o informante.
Sobre maior abertura do jornal a contestações de fora, uma das recomendações da comissão é a de que os textos colocados no site do jornal tenham o e-mail dos repórteres e editores responsáveis pelas matérias, mas com uma espécie de filtro para evitar spams e mensagens agressivas.
Além disso, o jornal deve criar uma coluna, provavelmente quinzenal, em que o editor-executivo, um dos cargos mais altos da hierarquia da empresa, discutirá os problemas do jornal.
Entre os jornais mais influentes e tradicionais do mundo, o "Times" teve a credibilidade abalada com o escândalo Blair. Em 2003, descobriu-se que ele inventava reportagens, descrevia minuciosamente locais aonde jamais estivera e copiava entrevistas de outros veículos sem citar a fonte.
O caso teve ampla repercussão e desencadeou uma onda de demissões no "Times" -que atingiu até o então editor-executivo, Howell Raines- e processos semelhantes de revisão de critérios e troca de profissionais em vários outros periódicos americanos.
Formada por 19 integrantes, entre jornalistas do "Times" e consultores externos, a comissão estabeleceu diretrizes para tentar combater erros no jornal.
À semelhança da seção "Erramos", da Folha, O "Times" mantém um espaço fixo que, em 2004, publicou cerca de 3.200 correções de reportagens. Para a comissão, todos no jornal devem ser responsáveis por erros (repórteres, redatores e editores). Um sistema mais rígido de checagem, em que o repórter confirme com a fonte a informação antes e após a publicação, também foi recomendado.


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