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MÍDIA
Caso Blair abalou jornal americano
Comitê propõe reformar "Times" por credibilidade
PEDRO DIAS LEITE
DE NOVA YORK
Ainda sob efeito do escândalo
Jason Blair, o repórter que inventava histórias, um comitê interno
do "New York Times" elaborou
um relatório de 16 páginas para
tentar aumentar a credibilidade
do jornal para seus leitores.
Intitulado "Preservando a confiança dos nossos leitores", o documento afirma que o jornal tem
de reduzir ao mínimo o número
de citações "off the records", em
que a fonte da informação não é
identificada, e aumentar o contato entre os leitores e repórteres. O
texto do relatório está disponível
na internet (www.nytco.com).
O uso de fontes "em off" é bastante comum em reportagens sobre política ou segurança, em que
a pessoa que passou a informação
teme represálias.
A comissão afirmou que repórteres e editores devem fazer pressão para que o entrevistado dê as
declarações abertamente. Quando isso não for possível, a obrigação do jornal é fornecer o maior
número de dados possível sobre a
origem da informação: qual o interesse de quem a passou, como a
teria obtido e a que área está relacionado o informante.
Sobre maior abertura do jornal
a contestações de fora, uma das
recomendações da comissão é a
de que os textos colocados no site
do jornal tenham o e-mail dos repórteres e editores responsáveis
pelas matérias, mas com uma espécie de filtro para evitar spams e
mensagens agressivas.
Além disso, o jornal deve criar
uma coluna, provavelmente
quinzenal, em que o editor-executivo, um dos cargos mais altos
da hierarquia da empresa, discutirá os problemas do jornal.
Entre os jornais mais influentes
e tradicionais do mundo, o "Times" teve a credibilidade abalada
com o escândalo Blair. Em 2003,
descobriu-se que ele inventava reportagens, descrevia minuciosamente locais aonde jamais estivera e copiava entrevistas de outros
veículos sem citar a fonte.
O caso teve ampla repercussão e
desencadeou uma onda de demissões no "Times" -que atingiu até o então editor-executivo,
Howell Raines- e processos semelhantes de revisão de critérios e
troca de profissionais em vários
outros periódicos americanos.
Formada por 19 integrantes, entre jornalistas do "Times" e consultores externos, a comissão estabeleceu diretrizes para tentar
combater erros no jornal.
À semelhança da seção "Erramos", da Folha, O "Times" mantém um espaço fixo que, em 2004,
publicou cerca de 3.200 correções
de reportagens. Para a comissão,
todos no jornal devem ser responsáveis por erros (repórteres, redatores e editores). Um sistema
mais rígido de checagem, em que
o repórter confirme com a fonte a
informação antes e após a publicação, também foi recomendado.
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