São Paulo, quinta-feira, 10 de maio de 2007

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Blair anuncia hoje quando sai do poder

É o início do fim do mandato do premiê, no poder desde 1997; Gordon Brown deve ser o futuro líder trabalhista e premiê

Atual ministro das Finanças, que não tem opositor de peso dentro do Partido Trabalhista, deve tomar posse no início de julho

DA REDAÇÃO

O premiê britânico Tony Blair deve anunciar hoje a data em que pretende renunciar à liderança do Partido Trabalhista. Depois de meses de especulação, o anúncio marca a contagem regressiva para sua saída do poder, após dez anos. No Reino Unido, o primeiro-ministro é o líder do maior partido da Câmara dos Comuns. Sua renúncia à liderança dá a largada a um período de sete semanas em que os trabalhistas terão que escolher o novo líder, a ser anunciado em 30 de junho.
Gordon Brown, atual ministro das Finanças, deve vencer facilmente a disputa interna e se tornar o novo primeiro-ministro no início de julho.
Há dez anos no comando da economia, o escocês Brown, 56, é o ministro mais longevo do Reino Unido nos últimos 160 anos. Considerado o cérebro do Novo Trabalhismo, Brown sempre foi considerado o sucessor natural de Blair e esperava que o atual premiê lhe passasse o cargo em 2005, ao completar seu segundo mandato.
Quando Blair tentou (e venceu) sua terceira eleição, as disputas de poder entre os dois aumentaram. As brigas entre os dois mereceram páginas e mais páginas na imprensa britânica, assim como o caráter centralizador e briguento de Brown.

Governo "morto-vivo"
No final do ano passado, aumentaram as pressões para que Blair anunciasse sua retirada. Em setembro, Blair disse no congresso anual do partido que seria o seu último como líder. Há meses ele adia a despedida.
O líder da oposição conservadora, David Cameron, acusou ontem Blair de "não entender que o seu tempo acabou". "Ficaremos mais sete semanas com o governo dos mortos-vivos", ironizou.
Quando Blair foi eleito aos 43 anos, em 1997, ele era o mais jovem primeiro-ministro do Reino Unido no século 20. Sob seu comando, o partido esquerdista foi para o centro, aderiu a muitos preceitos de Margaret Thatcher, antecessora de Blair, e ganhou, pela primeira vez, três eleições consecutivas.
Em dez anos de trabalhismo no poder, a economia britânica cresceu mais do que a média dos países da União Européia que adotaram o euro como moeda (Brown foi um dos defensores da manutenção da libra esterlina).
Além do crescimento econômico, o desemprego de 5,5% é o menor entre as cinco maiores economias européias. Ele também conseguiu pôr fim à violência na Irlanda do Norte.
Vários escândalos de corrupção e de financiamento ilegal de campanha, porém, começaram a derrubar sua aprovação.
Desde que passou a apoiar incondicionalmente o presidente americano George W. Bush e participou da invasão do Iraque, sua popularidade jamais passou do teto de 50%. Desde 2005, está abaixo de 40%.
Brown também apoiou a invasão do Iraque e não é tão anti-Bush quanto a esquerda do Partido Trabalhista gostaria. Mas especula-se que ele queira acelerar um prazo para a retirada das tropas do Iraque, como os democratas nos Estados Unidos.

Fim da carreira
Em um gesto simbólico, o anúncio de sua renúncia à liderança do partido será feito por Blair em Sedgefield, distrito pelo qual foi eleito deputado. Não se sabe se ele endossará a candidatura de Brown.
Nas próximas semanas, Blair deve priorizar a defesa de seu legado. Vai acompanhar o início do governo compartilhado entre protestantes e católicos na Irlanda do Norte, que assumiu anteontem.
Em junho, aproveitará a cúpula do G-8 em Heiligendamm, na Alemanha, para pressionar os demais países desenvolvidos a assinarem acordos contra o aquecimento global e de ajuda financeira aos países pobres.
Já como ex-premiê, Blair deve criar uma fundação para promover o diálogo entre as religiões, nos moldes da fundação do ex-presidente americano Bill Clinton.


Com agências internacionais


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