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Saldo de reformas sociais é contraditório
NICHOLAS TIMMINS
DO "FINANCIAL TIMES"
"Julguem-nos depois de 10
anos de sucesso no governo.
Pois um dos frutos será o fato
de que haverá mais igualdade
social no Reino Unido."
Foi o que disse Peter Mandelson, então o braço direito de
Tony Blair, pouco depois que o
Partido Trabalhista assumiu o
poder, 10 anos atrás. Será que
esse objetivo foi atingido? A
resposta mais resumida e mais
severa é "não".
Sessenta anos atrás, foi o Partido Trabalhista que fundou
boa parte do sistema de bem-estar britânico moderno. Os
trabalhistas estabeleceram um
sistema de seguro social que
cobriria os cidadãos ao longo de
toda a vida, expandiram o ensino público e criaram o Serviço
Nacional de Saúde, gratuito.
Mas o trabalhismo moderno,
reformulado de maneira tão radical por Tony Blair e Gordon
Brown, seria quase irreconhecível para a liderança do movimento em 1945.
O "novo trabalhismo" veio a
aceitar que a riqueza precisa
ser criada antes que possa ser
distribuída ou gasta. Tributação excessiva é anátema. Os
trabalhistas aceitaram que os
dias da indústria nacionalizada
são coisa do passado, que as leis
trabalhistas mais severas quanto a greves não serão alteradas e
que a força de trabalho precisa
ser flexível. O novo trabalhismo
é fã do mercado financeiro e
considera que o futuro do Reino Unido envolve uma economia flexível e de alta capacitação profissional.
Em resumo,
aceitou boa parte do programa
de mudanças que Margaret
Thatcher colocou em vigor
quando os conservadores governaram, nos anos 80 e 90.
Mas dizer apenas que a igualdade não cresceu na sociedade
britânica, nos últimos 10 anos,
seria um veredicto inadequado.
O Partido Trabalhista introduziu mudanças tão abrangentes quanto -ou possivelmente
mais abrangentes que- as adotadas na era Thatcher, em áreas
como saúde, educação, programas de bem-estar social, promoção do emprego e habitação.
As mudanças na maneira como
os serviços públicos são prestados estão mais próximas da
ideologia conservadora do que
da velha ideologia trabalhista, e
um governo trabalhista teve
mais facilidade para implementá-las do que uma administração conservadora teria.
Os trabalhistas introduziram, por exemplo, anuidades
nas universidades -limitadas a
3.000 libras-, idéia que os conservadores não conseguiram
pôr em prática. Nos programas
de seguro-desemprego, os trabalhistas adotaram requisitos
muito mais severos para a concessão de benefícios.
Saúde, educação
Mas o Reino Unido quase duplicou seus dispêndios reais
com o Serviço Nacional de Saúde (SNS), com o objetivo de
corrigir décadas de investimento insuficiente e equiparar
os gastos à média européia. Isso
fez com que caísse o tempo de
espera nos hospitais e clínicas.
Mas há a impressão de que o
SNS ainda não viu benefícios
compatíveis com os gastos.
Na habitação, o Reino Unido
-como os EUA e boa parte da
Europa- viu uma disparada
nos preços dos imóveis que excluiu muitos compradores de
primeiro imóvel do mercado.
Isso causou pressão sobre o setor de locação social britânico.
Menos gente pode, hoje, abrir
mão dos aluguéis subsidiados
para comprar um imóvel. O resultado é que alguns dos conjuntos residenciais públicos de
maior porte se transformaram
em um "propulsor de polarização social e geográfica", em lugar de se tornarem "uma forma
de superar essas divisões", de
acordo com John Hills, da London School of Economics.
Os trabalhistas reduziram a
pobreza, no entanto, com um
programa cujo objetivo era eliminar a pobreza infantil. Créditos tributários baseados no nível de renda também foram
adotados para elevar a renda
dos trabalhadores de baixo salário. O total de crianças abaixo
da linha da pobreza foi reduzido de 4 milhões em 1997 para
3,3 milhões, hoje.
Quanto à educação, o governo se esforçou por evitar uma
queda no nível de serviço, que
poderia levar as pessoas mais
prósperas a optar por não receber serviços públicos, o que
criaria, na prática, um sistema
de duas classes. Quanto a isso
eles obtiveram sucesso, até o
momento. "O setor privado mal
cresceu, apesar do imenso aumento da renda do país nos últimos dez anos", aponta Lorde
Adonis, ministro das Escolas.
O resultado líquido das tendências é que as pessoas que estão na parte inferior da pirâmide de renda se saíram melhor
do que as pessoas que estão nas
camadas médias. Se ignorarmos os 10% mais ricos e os 10%
mais pobres, a igualdade de fato
cresceu no Reino Unido. Mas,
caso essas duas categorias sejam computadas, a desigualdade de renda piorou ligeiramente, "em larga medida porque as
rendas dos mais ricos continuaram a subir muito mais do
que as dos demais grupos", diz
Mike Brewer, do Instituto de
Estudos Fiscais.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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