São Paulo, quinta-feira, 10 de maio de 2007

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Sarkozy não vê polêmica em férias a bordo de iate

Presidente eleito diz que "viagem não custou nenhum centavo a contribuintes"

Para conservador, país precisa de "muitos empresários como Bolloré", dono do barco; França enfrentou terceira noite de protestos

DA REDAÇÃO

O presidente eleito da França, Nicolas Sarkozy, recusou-se ontem a pedir desculpas por passar suas miniférias num luxuoso iate pertencente a um dos homens mais ricos do país, provocando fortes críticas por parte da oposição.
Em uma entrevista concedida em Malta para uma rádio um dia antes de retornar à França, Sarkozy afirmou que "a viagem não custou um centavo aos contribuintes", em resposta à interrogação do presidente do Partido Socialista, François Hollande, se "é a República que paga" as férias de "bilionário" de Sarkozy -que durante sua campanha, apresentou-se como o "candidato do povo" e dos trabalhadores "que acordam cedo". O iate pertence a Vincent Bolloré, dono da décima fortuna da França e de um império que compreende, entre outras coisas, dois jornais gratuitos, um canal de televisão e agências de publicidade.
"Eu conheço Bolloré há vinte anos. Bolloré me convidou ao seu barco, eu não vejo qual é a polêmica. Eu não tenho nenhuma intenção de me esconder, de mentir, de me desculpar", disse Sarkozy. A oposição criticou o presidente eleito não pelo fato de ele tirar férias, e sim, pelo "estilo de suas férias".
Fontes próximas a Sarkozy haviam dito que ele repousaria num mosteiro no centro da França.
De acordo com Dominique Reynié, professor do Instituto de Ciências Políticas de Paris, Sarkozy "quis mandar uma mensagem aos franceses" ao escolher um luxuoso iate como local de descanso: mostrar que ele é o líder de uma "direita que não tem vergonha e, ao contrário, fica feliz" por ter sua imagem associada à riqueza.
Na entrevista, Sarkozy disse esperar que a economia francesa "tenha muitos empresários como Bolloré" e outros famosos proprietários de marcas de luxo ou grupos de comunicação, porque "são capazes de investir e criar empregos".
"Não é vergonhoso ter trabalhado duro, ter criado um grande grupo de investimentos, ter dado emprego às pessoas", disse Sarkozy, defendendo os milionários do país e mais uma vez evocando o "mérito", que defendeu durante campanha. Por sua vez, Bolloré disse estar "honrado de receber Sarkozy e a família" e confirmou que as despesas da viagem foram pagas por ele.
Anteontem, a mulher do roqueiro francês Johnny Hallyday -que causou controvérsia no país quando, no ano passado, anunciou que estava de mudança para a Suíça para fugir dos altos impostos franceses- disse que o casal voltará a morar na França devido à vitória de Sarkozy. Em sua campanha, o conservador afirmou que reduziria os impostos se eleito.

Protestos e greve
Ontem, a França enfrentou a terceira noite de protestos desde a eleição de Nicolas Sarkozy. De acordo com o ministro do Interior, François Baroin, 200 veículos foram queimados e 118 pessoas, detidas. "[Os protestos] têm uma clara motivação política e estão ligados à extrema esquerda", afirmou. Desde que Sarkozy foi eleito, mais de 1.300 carros foram queimados.
"Nós estigmatizamos Bush e Berlusconi, mas Sarkozy não será melhor. Eu votei, mas nunca militei na minha vida. O que me faz sair às ruas é a indignação", disse um estudante de cinema que protestava em Paris. Ontem, foram anunciadas as primeiras sentenças para os detidos desde domingo, que variavam de alguns meses de prisão a trabalhos comunitários.
Estudantes de um dos campi da Universidade Paris 1 (Sorbonne) votaram ontem por greve discente e bloqueio do prédio para protestar contra Sorkozy e as reformas prometidas durante sua campanha, chamadas por eles de "anti-sociais".


Com agências internacionais e "Financial Times"


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