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Sarkozy não vê polêmica em férias a bordo de iate
Presidente eleito diz que "viagem não custou nenhum centavo a contribuintes"
Para conservador, país precisa de "muitos empresários como Bolloré", dono do barco; França enfrentou terceira noite de protestos
DA REDAÇÃO
O presidente eleito da França, Nicolas Sarkozy, recusou-se
ontem a pedir desculpas por
passar suas miniférias num luxuoso iate pertencente a um
dos homens mais ricos do país,
provocando fortes críticas por
parte da oposição.
Em uma entrevista concedida em Malta para uma rádio um
dia antes de retornar à França,
Sarkozy afirmou que "a viagem
não custou um centavo aos
contribuintes", em resposta à
interrogação do presidente do
Partido Socialista, François
Hollande, se "é a República que
paga" as férias de "bilionário"
de Sarkozy -que durante sua
campanha, apresentou-se como o "candidato do povo" e dos
trabalhadores "que acordam
cedo". O iate pertence a Vincent Bolloré, dono da décima
fortuna da França e de um império que compreende, entre
outras coisas, dois jornais gratuitos, um canal de televisão e
agências de publicidade.
"Eu conheço Bolloré há vinte
anos. Bolloré me convidou ao
seu barco, eu não vejo qual é a
polêmica. Eu não tenho nenhuma intenção de me esconder,
de mentir, de me desculpar",
disse Sarkozy. A oposição criticou o presidente eleito não pelo
fato de ele tirar férias, e sim, pelo "estilo de suas férias".
Fontes próximas a Sarkozy
haviam dito que ele repousaria
num mosteiro no centro da
França.
De acordo com Dominique
Reynié, professor do Instituto
de Ciências Políticas de Paris,
Sarkozy "quis mandar uma
mensagem aos franceses" ao
escolher um luxuoso iate como
local de descanso: mostrar que
ele é o líder de uma "direita que
não tem vergonha e, ao contrário, fica feliz" por ter sua imagem associada à riqueza.
Na entrevista, Sarkozy disse
esperar que a economia francesa "tenha muitos empresários
como Bolloré" e outros famosos proprietários de marcas de
luxo ou grupos de comunicação, porque "são capazes de investir e criar empregos".
"Não é vergonhoso ter trabalhado duro, ter criado um grande grupo de investimentos, ter
dado emprego às pessoas", disse Sarkozy, defendendo os milionários do país e mais uma
vez evocando o "mérito", que
defendeu durante campanha.
Por sua vez, Bolloré disse estar
"honrado de receber Sarkozy e
a família" e confirmou que as
despesas da viagem foram pagas por ele.
Anteontem, a mulher do roqueiro francês Johnny Hallyday -que causou controvérsia
no país quando, no ano passado, anunciou que estava de mudança para a Suíça para fugir
dos altos impostos franceses-
disse que o casal voltará a morar na França devido à vitória
de Sarkozy. Em sua campanha,
o conservador afirmou que reduziria os impostos se eleito.
Protestos e greve
Ontem, a França enfrentou a
terceira noite de protestos desde a eleição de Nicolas Sarkozy.
De acordo com o ministro do
Interior, François Baroin, 200
veículos foram queimados e 118
pessoas, detidas. "[Os protestos] têm uma clara motivação
política e estão ligados à extrema esquerda", afirmou. Desde
que Sarkozy foi eleito, mais de
1.300 carros foram queimados.
"Nós estigmatizamos Bush e
Berlusconi, mas Sarkozy não
será melhor. Eu votei, mas
nunca militei na minha vida. O
que me faz sair às ruas é a indignação", disse um estudante de
cinema que protestava em Paris. Ontem, foram anunciadas
as primeiras sentenças para os
detidos desde domingo, que variavam de alguns meses de prisão a trabalhos comunitários.
Estudantes de um dos campi
da Universidade Paris 1 (Sorbonne) votaram ontem por greve discente e bloqueio do prédio para protestar contra Sorkozy e as reformas prometidas
durante sua campanha, chamadas por eles de "anti-sociais".
Com agências internacionais e "Financial Times"
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