São Paulo, sábado, 10 de junho de 2006

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ONG russa afirma ter encontrado células de tortura na Tchetchênia

Segundo grupo de direitos humanos, centenas foram mortos na masmorra

ANDREW OSBORN
DO "INDEPENDENT", EM MOSCOU

Um dos principais grupos russos de defesa dos direitos humanos trouxe à tona o que afirma serem provas documentais da existência de um conjunto secreto de celas de tortura e assassinato sob as ruas da capital da Tchetchênia, Grozni.
De acordo com o grupo Memorial, a polícia russa utilizou a masmorra para torturar e matar centenas de pessoas cujos corpos foram despejados em pontos diversos da pequena república, de população majoritariamente muçulmana. As acusações enfraquecem as declarações do Kremlin de que a situação na Tchetchênia estaria se normalizando e implicam as autoridades diretamente no seqüestro ilegal e execução extrajudicial de civis. O grupo Memorial afirma que o local de torturas, situado no porão de uma antiga escola para deficientes auditivos no distrito de Oktyabrskaya, em Grozni, só deixou de ser utilizado no mês passado, com a retirada da unidade da polícia federal russa que ocupava o prédio.

Sem janelas
As celas da masmorra, sem janelas e sem circulação de ar, foram fotografadas e filmadas pelo Memorial, e a organização recolheu depoimentos em primeira mão de pessoas que afirmam ter sobrevivido depois de ser encarceradas no local.
As fotos mostram que as paredes da masmorra são recobertas de pichações de pessoas detidas no local, revelando seus nomes e a época em que estiveram detidas.
"Onde estou? O que está acontecendo comigo? Estou vivo ou não?", é uma das coisas rabiscadas sobre a parede em março deste ano. Em outros casos, as frases pichadas proclamam o amor dos prisioneiros por Alá ou sua ligação com o fundamentalismo islâmico.
O grupo Memorial diz que colheu as evidências justo em tempo, já que, desde então, o prédio que abrigava o porão foi demolido, e as pichações foram apagadas das paredes, numa tentativa grosseira de acobertamento. O que está claro é que o porão foi usado para interrogar suspeitos de colaborar com os rebeldes separatistas que resistem ao governo apoiado por Moscou na república.


Tradução de CLARA ALLAIN

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