São Paulo, sábado, 10 de junho de 2006

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Número de refugiados é o menor desde 1980, diz ONU

Relatório mostra, porém, que houve aumento de deslocados em seus próprios países

Segundo comissário, situação ocorre devido a fronteiras mais vigiadas após 11/9; há 2 milhões de refugiados internos na Colômbia


ALEXANDRA MORAES
DA REDAÇÃO

O número de refugiados no mundo é o mais baixo desde 1980, segundo relatório do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados divulgado ontem. São 8,4 milhões de pessoas. Aumentou, no entanto, a quantidade de deslocados internos -pessoas que são obrigadas a fugir de suas casas por causa de conflitos armados ou por outras situações de violência, mas permanecem em seus próprios países.
No final de 2005, quando os dados foram recolhidos, eram 6,6 milhões de deslocados internos, 800 mil a mais do que o registrado em 2004.
A Colômbia é o país que tem o maior número de pessoas nessa situação -são 2 milhões, quase um terço do total de deslocados internos reconhecidos pela ONU em todo o mundo.
"O aumento de deslocados internos tem muito a ver com o endurecimento das fronteiras depois do 11 de Setembro, que diminuiu o número de refugiados reconhecidos como tal. Os trâmites ficaram mais complicados", diz o representante do Acnur no Brasil, Luis Varese. "Esse é um problema. Não temos que confundir o refugiado com o terrorista."
Houve diminuição de deslocados internos na Rússia, na Libéria e nos países balcânicos, mas "ainda há milhões vivendo como refugiados dentro de suas próprias fronteiras", declarou o alto comissário António Guterres, citando como exemplo a região sudanesa de Darfur, Uganda e a República Democrática do Congo (ex-Zaire).
O Acnur registrou alta no número de pessoas de interesse do comissariado, passando de 19,5 milhões para 20,8 milhões no mundo. Esse número inclui refugiados, pessoas em busca de asilo, repatriados, deslocados internos e apátridas, além dos classificados apenas como "pessoas de interesse". Mulheres são 49%, e 44% do total tem menos de 18 anos.
O total de pessoas de interesse, que exclui os demais grupos de atenção do Acnur e engloba aqueles que não são refugiados nem pedem asilo -muitas vezes por medo de perseguição-, mas que precisam de proteção internacional, também teve aumento. Eram cerca de 600 mil no começo do ano passado, mas o número cresceu 58% e, no fim de 2005, chegou a 960 mil.

América do Sul
O crescimento ocorreu sobretudo na Venezuela, onde o número, segundo a ONU, saltou de pouco mais de 26 mil para 200 mil pessoas de interesse.
Além disso, houve a inclusão do registro de colombianos no Equador, hoje cerca de 250 mil.
Grandes repatriações -ocorridas em países como Somália, Afeganistão, Angola e Libéria- contribuíram para a queda no total de refugiados. Ao todo, 1,1 milhão de pessoas retornaram a seus países de origem no ano passado.
"A repatriação é a solução duradoura favorita, pois é um indicador de que o conflito desapareceu ou está em situação melhor", diz Varese. "A pedra angular da repatriação é a voluntariedade."

Afeganistão
O Afeganistão é a principal origem de refugiados registrados pelo Acnur: ainda há 1,9 milhão fora do país, espalhado por 72 outras nações.
Mas quase 7 milhões já retornaram, em um processo que vem desde o fim do regime Taleban.
Paquistão e Irã ainda são os países que mais receberam refugiados -no fim de 2005, abrigavam 21% de todos os deslocados do mundo, de acordo com as Nações Unidas.
Mas ambos experimentaram queda no número de asilados, em conseqüência da repatriação, principalmente de afegãos. No Paquistão, a diminuição foi de 16%; no Irã, 32% de todos os refugiados voltaram para casa.
Entre os países de asilo, só Chade e Quênia tiveram aumento significativo no número de pessoas recebidas -15,5 mil e 11 mil, respectivamente.
A maior parte dos refugiados, 64%, ganhou o status como parte de um grupo ameaçado. Desses, 80% são africanos.


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