São Paulo, domingo, 10 de julho de 2011

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Plano dos anos 80 pode servir à Grécia

Analistas propõem versão atualizada do Plano Brady, adotado para solucionar crise da dívida latino-americana

Esquema bolado pelo Tesouro dos EUA previa troca de títulos não-pagos por outros com lastro do BC do país


JULIANA ROCHA
DE SÃO PAULO

O impasse da participação privada no resgate à Grécia pode ser resolvido se a Europa adotar uma variante do esquema adotado para resolver a crise latino-americana do final dos anos 1980.
Nos últimos dias, cresceu o coro de analistas por uma versão europeia do chamado Plano Brady. Lançado pelo então secretário do Tesouro americano, Nicholas Brady, em 1989, consistia em trocar contratos da dívida de países que tinham dado calote nos bancos estrangeiros por títulos que seriam honrados pelo governo americano.
"A União Europeia precisa de uma solução ambiciosa. Precisa se comprometer com um Plano Brady para a Europa", disse o jornal inglês "Financial Times" em editorial no domingo passado.
A proposta da França, endossada pela Alemanha, de os bancos trocarem 70% da dívida que vencerá até o fim de 2014 por títulos novos com prazo de 30 anos chegou a ser comparada ao Brady.
Mas especialistas alertam que faltam à ideia do presidente Nicolas Sarkozy características que garantiram o sucesso da reestruturação da dívida da América Latina há 22 anos.
O plano deu certo, entre outras razões, porque os bancos não esperavam mais receber o dinheiro de volta. Na negociação, aceitaram dar um desconto aos países que aderissem e arcaram com uma parte do prejuízo. As dívidas foram reduzidas em cerca de 35%.
Além disso, os títulos Brady tinham grande procura no mercado internacional-ou seja, tinham liquidez- porque eram garantidos pelos Estados Unidos.
Em troca dessa garantia, os países tinham que depositar no Banco Central americano o equivalente a até três anos do valor dos títulos.
Nesse aspecto, existe uma semelhança entre o Brady e a proposta francesa para a Grécia. O governo grego teria que aplicar 20% do dinheiro do resgate privado em títulos europeus classificados como AAA, os mais seguros.

DIFICULDADES
Na Grécia de 2011, diferentemente do Terceiro Mundo de 1989, o sistema financeiro não ofereceu um desconto na dívida do país, que ainda não decretou calote.
Os governos europeus também não ofereceram ainda as garantias dadas na época pelo governo americano. "Se os países da Europa não oferecerem garantias de pagamento aos títulos novos, os bancos não irão aderir à reestruturação", diz o professor de economia da Fundação Getúlio Vargas Antônio Carlos Porto Gonçalves.
Para ele, os bancos poderão aceitar reduzir a dívida se tiverem essa contrapartida dos europeus.
A economista Mônica De Bolle, sócia da Galanto Consultoria, avalia que será difícil chegar a um acordo político nos países europeus para que ofereçam essa garantia aos gregos.
"Se quiserem aplicar o Plano Brady na sua concepção, os governos da França e da Alemanha terão que convencer seus eleitores de que essa é a melhor saída", afirma.


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