São Paulo, domingo, 10 de julho de 2011

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Doença de Chávez vira arma na radicalizada política venezuelana

Oposição não se convence sobre câncer e se refere a tratamento como 'provável cirurgia'

FLÁVIA MARREIRO
DE CARACAS

Com um papel na mão, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, 56, que revelou ter câncer no dia 30, lê sua nova rotina na TV: acordar e dormir cedo -nunca mais telefonemas às 4h para ministros- muito iogurte e descanso.
Chávez discursava para cadetes na Academia Militar.
A versão doente do titã da política da Venezuela desde 1999, porém, não convence totalmente lideranças opositoras, colunistas, internautas no Twitter ou em conhecidos fóruns antichavistas.
"Provável cirurgia" foi a expressão escolhida pelo principal presidenciável da oposição, o governador do Estado de Miranda, Henrique Capriles, para falar das intervenções do presidente.
"Onde está a muleta?", afirmou, questionando o que lhe pareceu uma súbita recuperação do presidente, que em maio anunciou ter sofrido uma lesão no joelho.
O veterano Henry Ramos Allup, do partido Ação Democrática, foi contraditório: "com ou sem câncer", Chávez deve dizer "quanto tempo vital lhe resta".
O juiz do Conselho Nacional Eleitoral, Vicente Díaz, não alinhado ao chavismo, ousou oferecer solidariedade ao presidente e contou ter sido atacado pela própria mãe: "Esse merece [a doença] por todo o mal que fez", disse ela, segundo escreveu Díaz no jornal "El Nacional".
Nos dias prévios ao anúncio de Chávez, ministros se revezavam para desmentir rumores. A governadora chavista Antonia Muñoz respondeu a uma repórter do "El Nacional" que lhe perguntou sobre o tema: "Você é uma vampira. Sua língua terá câncer".
Foram mais demonstrações de que o manejo errático e impreciso do governo a respeito da saúde de Chávez -até agora não se sabe onde é o câncer e qual o seu estágio- voltou a alimentar e expor a debilidade mais evidente da vida política do país: a polarização ou o sequestro da opinião pública por duas grandes minorias.
De acordo com pesquisas recentes, nem o "chavismo duro" nem o antichavismo extremo têm mais de 50% das intenções de voto.
"A polarização não permite lidar com uma situação numa zona cinzenta como a doença de Chávez", diz Saúl Cabrera, do instituto de pesquisas Consultores 21, que aponta a vantagem do governo na situação. Só os governistas sabem qual a gravidade do quadro de Chávez.
"O que fica evidente é que a oposição ainda não tem estratégia para lidar com a liderança do tipo religiosa de Chávez nessas condições. Eles precisam de um discurso moral, que chegue aos pobres", diz Oscar Schammel, do instituto Hinterlaces.


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