São Paulo, sábado, 10 de agosto de 2002

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GUERRA AO CIGARRO

O prefeito Michael Bloomberg faz lobby para aprovar lei municipal mais dura contra o tabaco

NY quer banir fumo em bar e restaurante

SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK

O prefeito de Nova York, Michael Bloomberg, afirmou ontem que pretende conseguir com que o cigarro seja proibido em todos os bares e restaurantes da cidade. O anúncio foi o terceiro golpe seguido numa semana especialmente ruim para a indústria norte-americana do tabaco.
Segundo a legislação municipal atualmente em vigor, que é de 1995, somente restaurantes com menos de 35 lugares permitem o consumo de cigarro em seu interior, o que engloba cerca de 13 mil lugares. A lei libera ainda o consumo em bares de restaurantes e em bares que não sirvam refeições.
Com a proposta de lei de Bloomberg, a ser apreciada na semana que vem pela Câmara Municipal, a distinção acaba. Seus assessores afirmaram que há dias ele vem fazendo lobby com os representantes municipais.
"Se fosse um funcionário de um bar onde é permitido fumar, em oito horas de trabalho você teria inalado o equivalente à fumaça de meio maço de cigarros", disse o prefeito ontem em entrevista.
"Por que nos preocupamos tanto com o nível de amianto no ar e não damos a mínima para o de fumaça?", questionou.
Bloomberg aproveita a maré positiva gerada pela vitória na queda-de-braço que vinha mantendo com a Associação Estadual de Restaurantes de Nova York, que era uma das últimas opositoras à proibição. A entidade capitulou depois de concluir pesquisa em que 76% de seus associados se dizem a favor da medida.
"Somos contra o endurecimento da atual lei, já bastante dura, mas vamos examinar a nova proposta de lei com cuidado", desconversou Charles Hunt, da associação, que se vale de outro estudo para mudar de opinião.
Segundo apurou o Grupo de Pesquisas de Interesse Público de Nova York e o Instituto do Câncer de Roswell Park, o fato de um restaurante não permitir que se fume em seu interior não afeta seu faturamento total.
Uma lei parecida com a proposta de Bloomberg foi aprovada pela Assembléia Estadual de Nova York no começo do ano, mas não chegou a entrar na pauta de votação do Senado do Estado, por pressão do governador George Pataki, que achou "radicalismo" incluir bares e pequenos restaurantes na medida antitabagista.
Atualmente, 394 cidades norte-americanas contam com algum tipo de lei que dificulta o consumo de cigarro em restaurantes, 89 delas abrangendo também os bares. Entre 50 Estados, Califórnia e Delaware têm legislação específica para bares e restaurantes; Maine, Utah e Vermont, apenas para os restaurantes.

Outros golpes
Anteontem, o governo municipal já havia divulgado que as vendas de cigarro na cidade caíram quase 50% em julho, primeiro mês em que os novos impostos sobre o tabaco entraram em vigor, passando de US$ 0,08 por maço para US$ 1,50.
Hoje em dia, o nova-iorquino é o que paga mais pelo hábito de fumar, com preços variando de US$ 5 a US$ 7,5 (cerca de R$ 15 a R$ 23) por maço, dependendo da marca. O novo imposto também foi uma proposta vitoriosa de Bloomberg.
Ainda no começo da semana, a Suprema Corte da Califórnia definiu que os consumidores daquele Estado podem processar a indústria do tabaco local por fraude e negligência. A decisão foi baseada em evidências de comportamento impróprio por parte dos fabricantes de cigarros.
Atualmente, há na Califórnia 65 casos envolvendo ex-fumantes e seus familiares contra a indústria de cigarros. Segundo representantes dos fabricantes, a vitória dos autores em apenas três desses casos pode significar um desembolso de mais de US$ 153 milhões em indenizações.



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