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São Paulo, domingo, 10 de agosto de 2003

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Escritora vê racismo na "importação" de nikkeis

DA REDAÇÃO

Autora de três livros sobre o país, a escritora nipo-americana Karen Tei Yamashita, 52, ainda é uma ilustre desconhecida do público brasileiro. Apenas o romance "Matacão, uma Lenda Tropical", foi traduzido para o português -saiu publicado no mês passado, pela editora Zipango. Nos EUA, onde foi lançado em 1990, o livro recebeu o American Book Award.
Yamashita veio para o Brasil em meados dos anos 70, onde se casou com um brasileiro e acabou morando por nove anos. Dessa experiência saiu o livro "Brazil-Maru", romance histórico sobre imigrantes brasileiros.
Em 1997, passou seis meses no Japão conversando e interagindo com dekasseguis. Um dos resultados é a crônica "As Regras do Círculo K", que consta no livro "Searching for Home Abroad" (procurando pelo lar no exterior), organizado pelo brasilianista Jeffrey Lesser.
Neta de japoneses, Yamashita mora no seu Estado natal, onde leciona literatura na Universidade da Califórnia, em Santa Cruz.
Leia a seguir sua entrevista, concedida à Folha em São Paulo, onde esteve no final de julho para o lançamento de seu livro.
 
Folha - Quais as diferenças entre os nipo-americanos e nipo-brasileiros?
Karen Yamashita -
A imigração para os Estados Unidos foi mais antiga, meus avós migraram para os EUA na virada do século 19 para o 20. A comunidade que se formou nos Estados Unidos teve um outro acontecimento, na Segunda Guerra Mundial (1939-45). Meus pais foram mandados para campos de concentração durante a guerra. Quando vim para cá, nos anos 70, as pessoas lá estavam lutando contra os EUA pelas reparações. Aqui as pessoas lutavam por outro tipo de coisa, havia um entendimento de uma sociedade em termos de classe e uma busca do que é ser brasileiro.

Folha - Como a sra. vê a emigração brasileira para o Japão?
Yamashita -
O governo e a sociedade do Japão achavam que seria melhor trazer pessoas para trabalhar como mão-de-obra que pareciam ou fossem japoneses. Achavam que ia dar certo ter descendente de japonês trabalhando. É uma coisa racista, simplesmente. O Japão quer conservar a homogeneidade que tem, ele quer continuar a ser japonês. Aí você traz um povo que culturalmente fala português e fala mal japonês, que parece japonês, mas não é japonês. Um povo criado como japonês, mas na maneira imigrante, não com valores do Japão atual.

Folha - Mas não há uma troca de cultura de classe, já que a maioria trabalha em fábricas?
Yamashita
- Há uma troca. Uma vez, fomos ver a seleção brasileira jogar no Japão. Nós fomos lá e conseguimos ingressos para o jogo, mas tinha uns dekasseguis que não tinham ingresso e... acharam um jeito. Aí, alguns japoneses se encostam para ver como é a coisa e o brasileiro começa a ensinar a dança da garrafa, sabe? É muito louco, não é?



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