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Escritora vê racismo na "importação" de nikkeis
DA REDAÇÃO
Autora de três livros sobre o
país, a escritora nipo-americana
Karen Tei Yamashita, 52, ainda é
uma ilustre desconhecida do público brasileiro. Apenas o romance "Matacão, uma Lenda Tropical", foi traduzido para o português -saiu publicado no mês
passado, pela editora Zipango.
Nos EUA, onde foi lançado em
1990, o livro recebeu o American
Book Award.
Yamashita veio para o Brasil em
meados dos anos 70, onde se casou com um brasileiro e acabou
morando por nove anos. Dessa
experiência saiu o livro "Brazil-Maru", romance histórico sobre
imigrantes brasileiros.
Em 1997, passou seis meses no
Japão conversando e interagindo
com dekasseguis. Um dos resultados é a crônica "As Regras do Círculo K", que consta no livro
"Searching for Home Abroad"
(procurando pelo lar no exterior),
organizado pelo brasilianista Jeffrey Lesser.
Neta de japoneses, Yamashita
mora no seu Estado natal, onde
leciona literatura na Universidade
da Califórnia, em Santa Cruz.
Leia a seguir sua entrevista, concedida à Folha em São Paulo, onde esteve no final de julho para o
lançamento de seu livro.
Folha - Quais as diferenças entre
os nipo-americanos e nipo-brasileiros?
Karen Yamashita - A imigração
para os Estados Unidos foi mais
antiga, meus avós migraram para
os EUA na virada do século 19 para o 20. A comunidade que se formou nos Estados Unidos teve um
outro acontecimento, na Segunda
Guerra Mundial (1939-45). Meus
pais foram mandados para campos de concentração durante a
guerra. Quando vim para cá, nos
anos 70, as pessoas lá estavam lutando contra os EUA pelas reparações. Aqui as pessoas lutavam
por outro tipo de coisa, havia um
entendimento de uma sociedade
em termos de classe e uma busca
do que é ser brasileiro.
Folha - Como a sra. vê a emigração brasileira para o Japão?
Yamashita - O governo e a sociedade do Japão achavam que seria
melhor trazer pessoas para trabalhar como mão-de-obra que pareciam ou fossem japoneses. Achavam que ia dar certo ter descendente de japonês trabalhando. É
uma coisa racista, simplesmente.
O Japão quer conservar a homogeneidade que tem, ele quer continuar a ser japonês. Aí você traz
um povo que culturalmente fala
português e fala mal japonês, que
parece japonês, mas não é japonês. Um povo criado como japonês, mas na maneira imigrante,
não com valores do Japão atual.
Folha - Mas não há uma troca de
cultura de classe, já que a maioria
trabalha em fábricas?
Yamashita - Há uma troca. Uma
vez, fomos ver a seleção brasileira
jogar no Japão. Nós fomos lá e
conseguimos ingressos para o jogo, mas tinha uns dekasseguis que
não tinham ingresso e... acharam
um jeito. Aí, alguns japoneses se
encostam para ver como é a coisa
e o brasileiro começa a ensinar a
dança da garrafa, sabe? É muito
louco, não é?
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