São Paulo, Terça-feira, 10 de Agosto de 1999
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ANÁLISE
Fracasso lembra Gorbatchov

JAIME SPITZCOVSKY
Editor de Mundo


O Boris Ieltsin de 1999 lembra o Mikhail Gorbatchov de 91. No começo da década, o pai da perestroika protagonizava a batalha perdida de tentar salvar a falida URSS da extinção. Ieltsin, o capitão da ofensiva mortal contra o império soviético, promove agora a sua batalha perdida: tentar fazer o seu sucessor.
Ieltsin, por traços de personalidade, nunca permitiu a ascensão de um herdeiro. Sempre que um político ameaçava fazer-lhe sombra, afastava-o. Foi o que fez com Ievguêni Primakov, demitido do cargo de premiê quando as pesquisas colocavam-no como o político mais popular da Rússia.
A pressão da opinião pública ainda conta pouco num país recém-democratizado como a Rússia. Ieltsin, filho político do sistema que destruiu (o soviético), se embebe numa dose cavalar de autoritarismo e, na tradição dos czares e dos dirigentes comunistas, governa encastelado no Kremlin.
Ieltsin não se preocupou em construir um partido político. Pensou que a ""Família", como é conhecido o grupo de familiares e assessores que o cercam, cuidaria de tudo. Fracassou. Na era pós-Ieltsin, a Rússia talvez se liberte de cicatrizes deixadas por séculos de czarismo e de poder soviético.


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