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Policiais e militares imprimem recordação do Katrina na pele
DO ENVIADO ESPECIAL A NOVA ORLEANS
No terceiro andar de um hotel
sem luz a três quadras da principal rua do que restou de Nova Orleans, Reese Purcell, 40, torna indelével para algumas pessoas a
experiência de estar na cidade
destruída depois do furacão Katrina. Os braços inteiramente cobertos por desenhos revelam sua
profissão: ele é um tatuador.
Purcell, como muitos que ainda
estão em Nova Orleans, ficou para
proteger sua loja, na rua Canal, tomada por caminhões de redes de
TV e carros da polícia, que montou sua central hotéis da rua.
Os turistas bêbados se foram, os
músicos são poucos, mas Reese
tem novos clientes, os policiais e
militares. Desde a passagem do
furacão, ele conta já ter feito 12 tatuagens, e só uma não foi em forças de segurança. Os pedidos são
monotemáticos e têm o nome de
uma mulher, Katrina.
"A maioria até agora pediu dragões, com um Katrina 2005 embaixo, mas um outro queria só a
palavra e um pequeno furacão, na
perna", diz o tatuador.
Numa cidade sem energia, sem
água e sem telefone, a cobrança
não é em dinheiro. "Peço um
pouco de comida, uísque e só o dinheiro para repor o material depois que tudo isso acabar", conta,
ao lado de três amigos e uma garrafa de Jack Daniels pela metade.
A ordem do prefeito Ray Nagin
para deixar a cidade parece não
assustar o grupo. Além deles, havia mais cinco "hóspedes" no hotel, que ontem à tarde estavam a
andar pela cidade. "Eles não podem nos tirar daqui, é contra a
Constituição", afirma Ed Keyes,
41, que é quem tinha as chaves do
hotel e se tornou uma espécie de
segurança informal do lugar. Sem
camiseta e com um boné onde se
lê "segurança", ele diz que ficou
para proteger o local, onde antes
prestava serviços de eletricista.
"Aqui é seco e temos comida,
não há por que sair", fala Melissa
Evans, 20. "O prefeito diz que todos têm de sair, mas todo mundo
já está descontente, e a última coisa que eles querem é a imagem de
velhinhos sendo arrancados à força de suas casas na TV", diz Reese.
Mas com a cidade imunda, muitas partes sob a água e a total falta
de estrutura, por que não sair?
"Esse país é uma democracia, temos uma lei dos direitos, e é nosso
direito morar onde quisermos.
Essa ordem [de evacuação] é fascista", fala Reese, que não crê que
a polícia vá tirá-los de onde estão.
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