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Família de brasileira
processará governos
THIAGO REIS
DA AGÊNCIA FOLHA
A família da mineira Benilda
Caixeta, 55, que está desaparecida
após a passagem do furacão Katrina por Nova Orleans (EUA),
diz que irá processar os governos
americano e brasileiro pela falta
de informações.
"Por enquanto nós estamos só
em busca de notícias dela. Estamos aguardando, mas, se não vier
nada em um determinado período, nós vamos entrar com uma
ação para nos favorecer, contra o
governo americano e também
contra o brasileiro, porque no Itamaraty não se fala coisa com coisa", afirma o representante comercial Iraci Carlos Caixeta, 45,
um dos nove irmãos de Benilda.
Benilda nasceu em Patos de Minas, a 417 km de Belo Horizonte.
Foi há 28 anos aos EUA buscar
tratamento para uma doença que
a deixou, aos poucos, tetraplégica.
Lá, trabalhava como voluntária
em um hospital da cidade devastada pelo furacão. Locomovia-se
numa cadeira de rodas e morava
sozinha numa casa adaptada à
sua deficiência. Desde a mudança,
veio apenas duas vezes ao Brasil.
O irmão, que conseguiu falar
com Benilda pela última vez sete
horas antes da passagem do furacão, disse que ela não saiu da cidade -pois já não conseguiria sozinha-, mas que se abrigaria em
casa e ligaria em pelo menos três
dias. Já se passaram 12.
A família havia feito um "pacto"
de não atender mais à imprensa.
Ontem, em entrevista à Folha,
Iraci quebrou o acordo. Disse que
preferia assumir a responsabilidade para que os outros irmãos
não fossem mais incomodados.
"Minha família não tem estrutura para mais nada. Está uma encheção de saco total. Não temos
mais sossego. Estamos sendo alvos de notícia e não temos notícia
de como ela está. Isso está nos deixando ainda mais angustiados."
Segundo ele, até agora nenhuma informação foi divulgada.
"Buscamos amigos dela lá. Tentamos de todas as maneiras. Passamos mais de 20 e-mails. Para todo
lugar em que se podia encontrar
ajuda passamos e-mails, mas não
se consegue uma resposta. Já procuramos a Cruz Vermelha, a embaixada, o consulado americano."
Questionado se algum dos irmãos pretende viajar aos EUA para procurar Benilda, diz: "Essa
não é a melhor coisa no momento. Mas se falarem que indo lá resolve-se o problema, não vai um
só, vão os nove [irmãos]".
Itamaraty
A assessoria de imprensa do Itamaraty disse que "não mede esforços" para localizar as vítimas
brasileiras e que "compreende a
apreensão" das famílias. Afirmou
que, no entanto, a ação está limitada pelas terríveis condições da
área atingida, e que age em coordenação com o governo dos EUA.
Até ontem, o órgão contabilizava 99 solicitações de busca por
brasileiros desaparecidos, sendo
que 76 pessoas já haviam sido localizadas pelos consulados.
Já a Embaixada dos EUA no
Brasil, procurada pela reportagem, não ligou de volta.
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