São Paulo, sábado, 10 de setembro de 2005

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Família de brasileira processará governos

THIAGO REIS
DA AGÊNCIA FOLHA

A família da mineira Benilda Caixeta, 55, que está desaparecida após a passagem do furacão Katrina por Nova Orleans (EUA), diz que irá processar os governos americano e brasileiro pela falta de informações.
"Por enquanto nós estamos só em busca de notícias dela. Estamos aguardando, mas, se não vier nada em um determinado período, nós vamos entrar com uma ação para nos favorecer, contra o governo americano e também contra o brasileiro, porque no Itamaraty não se fala coisa com coisa", afirma o representante comercial Iraci Carlos Caixeta, 45, um dos nove irmãos de Benilda.
Benilda nasceu em Patos de Minas, a 417 km de Belo Horizonte. Foi há 28 anos aos EUA buscar tratamento para uma doença que a deixou, aos poucos, tetraplégica.
Lá, trabalhava como voluntária em um hospital da cidade devastada pelo furacão. Locomovia-se numa cadeira de rodas e morava sozinha numa casa adaptada à sua deficiência. Desde a mudança, veio apenas duas vezes ao Brasil.
O irmão, que conseguiu falar com Benilda pela última vez sete horas antes da passagem do furacão, disse que ela não saiu da cidade -pois já não conseguiria sozinha-, mas que se abrigaria em casa e ligaria em pelo menos três dias. Já se passaram 12.
A família havia feito um "pacto" de não atender mais à imprensa. Ontem, em entrevista à Folha, Iraci quebrou o acordo. Disse que preferia assumir a responsabilidade para que os outros irmãos não fossem mais incomodados.
"Minha família não tem estrutura para mais nada. Está uma encheção de saco total. Não temos mais sossego. Estamos sendo alvos de notícia e não temos notícia de como ela está. Isso está nos deixando ainda mais angustiados."
Segundo ele, até agora nenhuma informação foi divulgada. "Buscamos amigos dela lá. Tentamos de todas as maneiras. Passamos mais de 20 e-mails. Para todo lugar em que se podia encontrar ajuda passamos e-mails, mas não se consegue uma resposta. Já procuramos a Cruz Vermelha, a embaixada, o consulado americano."
Questionado se algum dos irmãos pretende viajar aos EUA para procurar Benilda, diz: "Essa não é a melhor coisa no momento. Mas se falarem que indo lá resolve-se o problema, não vai um só, vão os nove [irmãos]".

Itamaraty
A assessoria de imprensa do Itamaraty disse que "não mede esforços" para localizar as vítimas brasileiras e que "compreende a apreensão" das famílias. Afirmou que, no entanto, a ação está limitada pelas terríveis condições da área atingida, e que age em coordenação com o governo dos EUA.
Até ontem, o órgão contabilizava 99 solicitações de busca por brasileiros desaparecidos, sendo que 76 pessoas já haviam sido localizadas pelos consulados.
Já a Embaixada dos EUA no Brasil, procurada pela reportagem, não ligou de volta.


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