São Paulo, sábado, 10 de setembro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

PERIGO DOMÉSTICO

Segundo estudo, que entrevistou 224 mil, um terço dos adultos possui revólveres, rifles ou espingardas em casa

Crianças com arma no lar são 1,7 mi nos EUA

MARILYN ELIAS
DO "USA TODAY"

Cerca de 1,7 milhão de crianças americanas convivem em suas casas com armas de fogo carregadas e destravadas. A constatação é da maior pesquisa já realizada sobre armas de fogo guardadas em casa nos EUA, cujos resultados foram divulgados na terça-feira no periódico online "Pediatrics" (www.pediatrics.org).
James Mercy, pesquisador do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), e sua colega Catherine Okoro analisaram as pesquisas conduzidas com 224 mil adultos pelos departamentos de Saúde de 50 Estados americanos e do Distrito de Colúmbia no ano de 2002.
De acordo com o relatório do CDC, um terço dos adultos possui revólveres, rifles ou espingardas em casa. A variação entre os Estados é grande em termos da porcentagem de adultos que guardam armas de fogo em casa e de quantos adultos que têm crianças em casa guardam suas armas carregadas e destravadas. Os Estados que apresentam a maior proporção de adultos com crianças em casa e que deixam suas armas destravadas e carregadas são o Alabama, Alasca, Arkansas, Idaho, Wyoming e Montana.
Dezoito Estados têm leis sobre a maneira correta de guardar armas de modo a limitar o acesso das crianças a elas, diz Jon Vernick, co-diretor do Centro de Política e Pesquisas com Armas da Escola de Saúde Pública da Universidade Johns Hopkins, que fica no Estado de Maryland. No entanto as leis variam de rigidez e quanto à idade das crianças incluídas em seus dispositivos, afirma o pesquisador.
Vernick explica que não se sabe muito sobre até que ponto essas leis realmente são aplicadas. "Elas são excelentes, e nós precisamos que mais estados as adotem. Freqüentemente, porém, parece que as leis só começam a ser respeitadas quando já é tarde demais -quando uma criança ou adolescente já atirou nela mesma ou em outra pessoa."
De acordo com Vernick, dois estudos mostram que as mortes acidentais provocadas por armas de fogo e os suicídios entre adolescentes diminuem nos Estados que possuem essas leis. Outro estudo, esse publicado neste ano, sugere que adolescentes e crianças apresentam menor probabilidade de atirar neles mesmos ou em outras pessoas nas casas em que armas destravadas ou carregadas são guardadas em local separado da munição.
O relatório da "Pediatrics" diz que, de 1.400 crianças e adolescentes mortos por disparos em 2002, 90% estavam em casa quando isso aconteceu.
"É um problema assustador", afirma Michael Barnes, que é o presidente da Campanha Brady para a Prevenção da Violência com Armas de Fogo, um grupo que faz lobby pelas restrições ao porte de armas.
A pesquisa sobre famílias que guardam armas em casa pode subestimar o número de crianças que têm acesso a armas de fogo, diz Mercy, do CDC, já que a tendência das mulheres é subestimar a presença de armas em suas casas, conforme demonstram estudos passados. Cerca de 60% dos participantes na pesquisa eram mulheres.
Barnes afirma que o número de pessoas que possuem armas de fogo diminuiu nos últimos dez anos porque a população americana é cada vez mais urbana e menos adultos praticam a caça.
Andrew Arulanandam, porta-voz da NRA (National Rifle Association of America, o lobby americano pró-armas de fogo), negou-se a comentar leis específicas, mas disse que "a triste realidade é que não se pode impor a responsabilidade por lei". Para Arulanandam, a educação é a melhor maneira de reduzir os acidentes com armas de fogo, e a NRA promove muitos programas educacionais. "As crianças são por natureza curiosas e sempre vão procurar objetos que não devem pegar. Cabe aos pais garantir que as armas de fogo sejam guardadas em local seguro."


Tradução de Clara Allain

Texto Anterior: Iraque sob tutela: Britânico protesta há mais de 1.500 dias
Próximo Texto: Violência: Nos EUA, indígenas são maior alvo de violência sexual
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.