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ÁSIA
Premiê busca anuência popular para privatizar estatais
Eleição deverá dar a Koizumi carta branca para fazer reformas no Japão
MARCELO NINIO
DA REDAÇÃO
O Japão se encaminha para eleger mais uma vez o mesmo partido que governou o país - salvo
um lapso de dez meses- nos últimos 50 anos, mas o desejo geral é
de reforma. Segundo pesquisas, o
Partido Liberal Democrata
(PLD), do premiê Junichiro Koizumi, deve conquistar na eleição
deste domingo uma sólida vitória,
com boas chances de chegar à
maioria parlamentar com suas
próprias forças, algo que não
acontece desde 1990.
Se as urnas confirmarem os
prognósticos, será a vitória do ímpeto reformista de Koizumi, um
amante de Elvis Presley de 63
anos e proeminente topete grisalho que se tornou a face da modernidade na política japonesa
desde que assumiu o poder, em
2001, e subverteu a mentalidade
vigente com sua obsessão por encolher o papel do Estado.
"Koizumi é uma figura totalmente nova no cenário japonês,
com seu foco nas reformas e nos
eleitores urbanos e modernos. Essa inquietação balançou as estruturas do país", disse à Folha Kentaro Fukumoto, da Universidade
Gakushuin, em Tóquio. Além disso, para Fukumoto, a recuperação
econômica, embora ainda tímida,
principalmente a queda nos índices de desemprego, deu ainda
mais força a sua popularidade.
No centro da campanha está a
proposta de privatizar o sistema
postal do país, um colosso financeiro do qual faz parte o maior
banco do mundo, com US$ 3 trilhões em depósitos. Rejeitada no
mês passado pelo Senado com a
ajuda de 22 governistas, a iniciativa é tão crucial para Koizumi que
o levou a antecipar as eleições.
A guerra eleitoral foi travada em
duas frentes: uma contra os rebeldes de seu partido, anti-reformistas ferozes. Numa jogada brilhante de marketing, o premiê convocou figuras populares, como um
chef famoso e a miss universitária
de Tóquio para disputar os votos
com os rebeldes da velha guarda.
Na outra frente está o principal
opositor, o Partido Democrata do
Japão (PDJ), que rejeita a privatização dos correios para não melindrar os sindicatos, com quem
tem laços fortes, mas que propõe
uma plataforma reformista até
mais ampla que a de Koizumi.
Para os oposicionistas, colocar a
privatização dos correios como
teste único da capacidade de reforma do Estado é injusto e reducionista. "O PDJ pode até ter razão, mas concentrar suas baterias
em um só tema foi justamente a
grande jogada de Koizumi, pois
simplificou a campanha", disse à
Folha o analista do jornal "Asahi
Shimbun" Hiroshi Hoshi, que
prevê que a eleição será o começo
do fim da hegemonia do PLD.
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