São Paulo, sábado, 10 de setembro de 2005

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ÁSIA

Premiê busca anuência popular para privatizar estatais

Eleição deverá dar a Koizumi carta branca para fazer reformas no Japão

MARCELO NINIO
DA REDAÇÃO

O Japão se encaminha para eleger mais uma vez o mesmo partido que governou o país - salvo um lapso de dez meses- nos últimos 50 anos, mas o desejo geral é de reforma. Segundo pesquisas, o Partido Liberal Democrata (PLD), do premiê Junichiro Koizumi, deve conquistar na eleição deste domingo uma sólida vitória, com boas chances de chegar à maioria parlamentar com suas próprias forças, algo que não acontece desde 1990.
Se as urnas confirmarem os prognósticos, será a vitória do ímpeto reformista de Koizumi, um amante de Elvis Presley de 63 anos e proeminente topete grisalho que se tornou a face da modernidade na política japonesa desde que assumiu o poder, em 2001, e subverteu a mentalidade vigente com sua obsessão por encolher o papel do Estado.
"Koizumi é uma figura totalmente nova no cenário japonês, com seu foco nas reformas e nos eleitores urbanos e modernos. Essa inquietação balançou as estruturas do país", disse à Folha Kentaro Fukumoto, da Universidade Gakushuin, em Tóquio. Além disso, para Fukumoto, a recuperação econômica, embora ainda tímida, principalmente a queda nos índices de desemprego, deu ainda mais força a sua popularidade.
No centro da campanha está a proposta de privatizar o sistema postal do país, um colosso financeiro do qual faz parte o maior banco do mundo, com US$ 3 trilhões em depósitos. Rejeitada no mês passado pelo Senado com a ajuda de 22 governistas, a iniciativa é tão crucial para Koizumi que o levou a antecipar as eleições.
A guerra eleitoral foi travada em duas frentes: uma contra os rebeldes de seu partido, anti-reformistas ferozes. Numa jogada brilhante de marketing, o premiê convocou figuras populares, como um chef famoso e a miss universitária de Tóquio para disputar os votos com os rebeldes da velha guarda.
Na outra frente está o principal opositor, o Partido Democrata do Japão (PDJ), que rejeita a privatização dos correios para não melindrar os sindicatos, com quem tem laços fortes, mas que propõe uma plataforma reformista até mais ampla que a de Koizumi.
Para os oposicionistas, colocar a privatização dos correios como teste único da capacidade de reforma do Estado é injusto e reducionista. "O PDJ pode até ter razão, mas concentrar suas baterias em um só tema foi justamente a grande jogada de Koizumi, pois simplificou a campanha", disse à Folha o analista do jornal "Asahi Shimbun" Hiroshi Hoshi, que prevê que a eleição será o começo do fim da hegemonia do PLD.


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