|
Próximo Texto | Índice
CASO LEWINSKY
Promotor afirma que informações do documento podem servir de base para o impeachment de Clinton
Começa impeachment contra Clinton
CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
de Washington
O promotor independente Kenneth Starr enviou ontem à Câmara
dos Representantes (deputados)
dos EUA relatório de 500 páginas e
36 caixas de documentos com o
que diz serem "informações sólidas e dignas de crédito que podem
constituir base" para o impeachment do presidente Bill Clinton.
O advogado de Clinton, David
Kendall, afirmou que o relatório
contém "só alegações da promotoria (...) e nenhuma base para impeachment". Kendall protestou
por não ter tido, como pedira a
Starr, a chance de ler o relatório
antes de seu envio ao Congresso.
Esta é a segunda vez neste século
e a terceira na história que se inicia
processo de impeachment contra
um presidente dos EUA.
Em 1868, Andrew Jackson escapou de perder o mandato por um
só voto no Senado. Em 1974, Richard Nixon renunciou antes de o
plenário da Câmara votar o seu
impeachment.
O presidente da Câmara e principal líder da oposição, Newt Gingrich, ordenou à polícia do Congresso que trancasse os documentos numa sala, onde ficarão até o
plenário da Câmara decidir como
vai proceder em relação ao processo de impeachment de Clinton.
Essa resolução deve ser tomada
hoje ou amanhã. Entre os pontos
que o plenário vai resolver está a
divulgação do relatório de Starr,
ou partes dele, ao público.
O plenário deve, então, atribuir à
Comissão de Justiça da Câmara a
missão de determinar se há bases
para acusar o presidente de comportamento que justifique seu
afastamento do cargo. Para isso, a
comissão pode conduzir audiências públicas e intimar pessoas para que testemunhem. O processo
pode levar meses, embora não haja
prazo legal para sua conclusão.
O presidente da Comissão de
Justiça da Câmara é Henry Hyde,
representante do 6º distrito eleitoral do Estado de Illinois, Meio-Oeste do país. Hyde, 74, advogado,
católico, viúvo, moderado, visto
como um dos parlamentares mais
honestos do país, foi eleito pela
primeira vez em 1974, após a renúncia de Richard Nixon.
Ao final desse processo, a comissão enviará ao plenário seu parecer
sobre a conveniência de enviar o
processo de impeachment ao Senado. Se a Câmara assim decidir, o
processo seguirá para o Senado, a
quem caberá a decisão final para o
caso, que precisa ser tomada por
maioria de dois terços.
Assessores de Clinton continuavam a trabalhar ontem junto a lideranças do Congresso a possibilidade de o presidente ser punido
com uma censura parlamentar,
sob o argumento de que essa seria
uma fórmula que pouparia o país
do martírio de meses de indecisão.
Um só presidente dos EUA recebeu censura parlamentar: Andrew
Jackson, em 1834, por ter dissolvido o Banco dos EUA, instituição
estatal que, dizia, monopolizava o
setor financeiro do país. O Congresso anulou a censura em 1837.
Mas a opção pela censura parece
encontrar pouco apoio entre parlamentares da oposição e mesmo
do governo. A cada dia, mais e
mais discursos são ouvidos no
Congresso em condenação a Clinton e em defesa do prosseguimento do processo de impeachment.
Ontem, foi o de Robert Byrd, um
dos mais respeitados senadores do
Partido Democrata, do governo.
Byrd, 80, que representa o Estado
de Virgínia Ocidental no Senado
desde 1959, disse que "muitos dos
erros que Nixon cometeu estão
sendo cometidos de novo".
Poucos parlamentares, nenhum
do governo, têm defendido a condenação de Clinton. Quase todos,
inclusive Newt Gingrich, afirmam
ser necessário ler o relatório de
Starr antes de tomar uma decisão.
Mas parece crescer no Congresso
um consenso em torno da necessidade de levar adiante o processo de
impeachment para verificar a solidez das acusações contra Clinton e
as reações da opinião pública.
Caberá, primeiro à Câmara, e,
talvez, depois ao Senado julgar se o
comportamento do presidente foi
suficientemente ilegal ou imoral
para justificar o seu afastamento, o
que nunca aconteceu nos EUA.
Próximo Texto | Índice
|