São Paulo, Sexta-feira, 10 de Setembro de 1999
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MERCOSUL
Presidente argentino se diz ofendido e não vai a encontro com colega paraguaio sobre Oviedo
Menem cancela encontro com Macchi

CLÓVIS ROSSI
do Conselho Editorial

A crise entre dois dos sócios no Mercosul (Argentina e Paraguai) só fez crescer de intensidade ontem, exatamente o dia em que os presidentes dos dois países deveriam se encontrar e emitir comunicado conjunto que sinalizaria o final do confronto.
Mas o presidente argentino, Carlos Menem, preferiu cancelar o encontro com seu colega paraguaio, Luis González Macchi, alegando que "as acusações contra a investidura presidencial (argentina) por parte de alguns funcionários do governo paraguaio foram muito duras e, enquanto não houver uma retificação, não há possibilidades de uma reunião".
A irritação de Menem está voltada, em especial, para declarações do senador Luis Alberto Mauro, segundo as quais Menem e o ex-general paraguaio Lino Oviedo (asilado há cerca de seis meses na Argentina) seriam "sócios em negociatas ocorridas na empresa binacional Yaciretá".
O senador pertence ao Encontro Nacional, um dos partidos da coligação governante, e preside a comissão parlamentar que investiga o assassinato do vice-presidente Luis María Argaña.
Oviedo, a sombra por trás do trono no governo Raúl Cubas, durante o qual ocorreu o crime, é acusado pelo novo governo paraguaio de ser o mandante.
Não é apenas um parlamentar que acusa Menem. O ministro da Defesa, Nelson Argaña, filho do político assassinado, também tem dito que Menem protege Oviedo.
Como consequência do conflito, o Paraguai chamou de volta sua embaixadora em Buenos Aires, gesto que, como é de praxe, a Argentina imitou.
Anteontem, no entanto, os ministros do Interior dos dois países haviam combinado um esquema que permitiria superar a crise. Pelo acordo, a Argentina confinaria Oviedo na Patagônia (extremo sul, no que, segundo o jornal "La Nación", seria o prelúdio de sua ida para a Venezuela), o Paraguai deixaria de fazer acusações a Menem e os dois presidentes selariam o entendimento com uma reunião ontem, em Posadas.
Menem já estava a caminho do aeroporto quando resolveu suspender a viagem, oficialmente porque as partes não se puseram de acordo a respeito dos termos do comunicado conjunto.
"A Argentina mantém sua posição, e o Paraguai, a sua, mas as conversações prosseguem de forma cordial", disse o chanceler paraguaio, José Félix Fernández.
O desentendimento político ocorre exatamente quando o Mercosul está mergulhado na mais grave crise desde que foi criado.
A raiz da crise não tem nada a ver com questões políticas, mas com desentendimentos comerciais entre Brasil e Argentina.
O governo brasileiro reagiu fortemente à tentativa argentina de impor restrições às importações brasileiras. O grau de desacordo fica claramente evidenciado pelo fato de que os dois sócios, em vez de resolver a crise por meio dos mecanismos do próprio Mercosul, estão discutindo parte das divergências em um organismo multilateral, a OMC (Organização Mundial do Comércio).
É justamente nesse ambiente carregado de tensões comerciais que ocorre a crise política envolvendo Argentina e Paraguai, o que só traz mais incertezas.
Mesmo que, enfim, Argentina e Paraguai retomem os termos do acordo negociado por seus ministros do Interior, uma solução definitiva das pendências (políticas ou comerciais) só se dará após as eleições argentinas marcadas para o dia 24 de outubro.


Com agências internacionais.

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