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MERCOSUL
Presidente argentino se diz ofendido e não vai a encontro com colega paraguaio sobre Oviedo
Menem cancela encontro com Macchi
CLÓVIS ROSSI
do Conselho Editorial
A crise entre dois dos sócios no
Mercosul (Argentina e Paraguai)
só fez crescer de intensidade ontem, exatamente o dia em que os
presidentes dos dois países deveriam se encontrar e emitir comunicado conjunto que sinalizaria o
final do confronto.
Mas o presidente argentino,
Carlos Menem, preferiu cancelar
o encontro com seu colega paraguaio, Luis González Macchi, alegando que "as acusações contra a
investidura presidencial (argentina) por parte de alguns funcionários do governo paraguaio foram
muito duras e, enquanto não
houver uma retificação, não há
possibilidades de uma reunião".
A irritação de Menem está voltada, em especial, para declarações do senador Luis Alberto
Mauro, segundo as quais Menem
e o ex-general paraguaio Lino
Oviedo (asilado há cerca de seis
meses na Argentina) seriam "sócios em negociatas ocorridas na
empresa binacional Yaciretá".
O senador pertence ao Encontro Nacional, um dos partidos da
coligação governante, e preside a
comissão parlamentar que investiga o assassinato do vice-presidente Luis María Argaña.
Oviedo, a sombra por trás do
trono no governo Raúl Cubas, durante o qual ocorreu o crime, é
acusado pelo novo governo paraguaio de ser o mandante.
Não é apenas um parlamentar
que acusa Menem. O ministro da
Defesa, Nelson Argaña, filho do
político assassinado, também tem
dito que Menem protege Oviedo.
Como consequência do conflito, o Paraguai chamou de volta
sua embaixadora em Buenos Aires, gesto que, como é de praxe, a
Argentina imitou.
Anteontem, no entanto, os ministros do Interior dos dois países
haviam combinado um esquema
que permitiria superar a crise. Pelo acordo, a Argentina confinaria
Oviedo na Patagônia (extremo
sul, no que, segundo o jornal "La
Nación", seria o prelúdio de sua
ida para a Venezuela), o Paraguai
deixaria de fazer acusações a Menem e os dois presidentes selariam o entendimento com uma
reunião ontem, em Posadas.
Menem já estava a caminho do
aeroporto quando resolveu suspender a viagem, oficialmente
porque as partes não se puseram
de acordo a respeito dos termos
do comunicado conjunto.
"A Argentina mantém sua posição, e o Paraguai, a sua, mas as
conversações prosseguem de forma cordial", disse o chanceler paraguaio, José Félix Fernández.
O desentendimento político
ocorre exatamente quando o
Mercosul está mergulhado na
mais grave crise desde que foi
criado.
A raiz da crise não tem nada a
ver com questões políticas, mas
com desentendimentos comerciais entre Brasil e Argentina.
O governo brasileiro reagiu fortemente à tentativa argentina de
impor restrições às importações
brasileiras. O grau de desacordo
fica claramente evidenciado pelo
fato de que os dois sócios, em vez
de resolver a crise por meio dos
mecanismos do próprio Mercosul, estão discutindo parte das divergências em um organismo
multilateral, a OMC (Organização
Mundial do Comércio).
É justamente nesse ambiente
carregado de tensões comerciais
que ocorre a crise política envolvendo Argentina e Paraguai, o
que só traz mais incertezas.
Mesmo que, enfim, Argentina e
Paraguai retomem os termos do
acordo negociado por seus ministros do Interior, uma solução definitiva das pendências (políticas
ou comerciais) só se dará após as
eleições argentinas marcadas para o dia 24 de outubro.
Com agências internacionais.
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