São Paulo, quarta-feira, 10 de outubro de 2001

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O TERCEIRO DIA

EUA dizem investigar o caso e afirmam ter assumido controle do espaço aéreo afegão

Ataque norte-americano mata 4 funcionários da ONU

DA REDAÇÃO

No dia em que propagandearam ter dominado os céus do Afeganistão, os EUA sofreram um golpe em sua guerra de propaganda no combate ao terror: a ONU (Organização das Nações Unidas) divulgou que quatro de seus funcionários foram mortos nos ataques norte-americanos de anteontem.
São os primeiros casos confirmados de civis mortos na ação militar, que começou domingo e prosseguiram ontem. Até então, todas relações de vítimas civis haviam sido confirmadas apenas pelo governo do Taleban, que diz que 35 pessoas já morreram.
A informação das mortes dos civis foi divulgada por Stephanie Bunker, porta-voz das Nações Unidas, que disse que os quatro mortos eram afegãos que trabalhavam para a ONU na Consultoria Técnica Afegã, escritório que supervisionava as operações de retiradas de minas no país. "Pedaços de seus cadáveres ainda serão recuperados sob os escombros", afirmou a porta-voz.
O prédio do escritório, localizado a leste de Cabul, foi destruído por um míssil, e outros quatro civis foram feridos. A porta-voz da ONU, em entrevista coletiva em Islamabad (Paquistão), pediu proteção aos civis afegãos.
O secretário-geral da ONU, Kofi Annan, definiu as mortes como "um golpe duro". O governo norte-americano disse só ter selecionado alvos militares, mas informou que investiga se houve desvio em algum míssil lançado por suas forças.

Supremacia aérea
Em entrevista no quartel-general do Pentágono, o secretário de Defesa dos EUA, Donald Rumsfeld, afirmou que as ações noturnas realizados até ontem foram "bem-sucedidas" e criaram condições para atacar o Afeganistão ininterruptamente, dia e noite.
"Essencialmente, temos superioridade aérea sobre o Afeganistão", resumiu o chefe do Estado-Maior Conjunto dos EUA, general da Força Aérea Richard Myers, que declarou ainda que mais de 80% dos alvos afegãos foram destruídos.
Myers e Rumsfeld apresentaram fotos de satélite para mostrar a destruição de campos de treinamento da Al Qaeda, rede internacional controlada por Osama bin Laden, à base aérea de Shindand, no oeste do Afeganistão, e a lançadores de mísseis. Questionado se ainda haveriam pontos a serem atacados, Rumsfeld declarou: "Não estamos sem alvos. É o Afeganistão que está".

Casa do líder
Outro local atingido durante os ataques foi a residência em Candahar do mulá Mohammad Omar, o líder do Taleban. Segundo Abdul Salem Zair, porta-voz de Omar, o mulá "está vivo, graças a Deus" e havia deixado a casa cerca de 15 minutos antes dos bombardeios.
No terceiro dia de ataques ao Afeganistão, as cidades de Candahar, Cabul, Jalalabad e Herat voltaram a ser atingidas pelos bombardeiros norte-americanos.
Não houve detalhamento do número de aviões e mísseis utilizados -no segundo dia, havia sido substancialmente menor do que no primeiro. O Reino Unido, assim como anteontem, não tomou parte do ataque.
Em Candahar, alguns ataques ocorreram antes do anoitecer. Segundo o Taleban, baterias antiaéreas foram disparadas contra dois aviões dos EUA no final da tarde.
Em Jalalabad, durante os ataques de ontem, um soldado do Taleban teria dito a um repórter da agência de notícias "Associated Press": "Estamos cercados pela escuridão. Nossas baterias antiaéreas estão tentando atingi-los (os aviões dos EUA), mas eles estão voando a uma altitude muito elevada".
A agência de notícias afegã "AIP" noticiou, do Paquistão, ainda que alvos afegãos foram atingidos nas cidades de Mazar-e-Sharif, Cunduz e Shiberghan, localizadas no norte do país.
Em demonstração de apoio à ação militar, uma força naval da Otan foi ao Mediterrâneo Oriental, enquanto o Canadá mobilizou 2.000 homens, navios e aviões. A França anunciou ainda que possui uma pequena unidade de inteligência atuando em território afegão.
A China manifestou seu apoio mais concreto à ação dos EUA ao fechar temporariamente sua fronteira de 70 km com o Afeganistão, em virtude dos ataques.

Falta de comida
Outra agência vinculada à ONU, o Programa Alimentar Mundial, anunciou que, por causa da "situação caótica" e por razões de segurança, cogita suspender a distribuição de suprimentos de comida no país.
O secretário-geral da ONU, Kofi Annan, disse que a ação militar dificulta a entrega de comida aos civis afegãos que necessitam de ajuda apenas algumas semanas antes da chegada do inverno.
"É complicado. Na atual situação, nossos caminhões não conseguem avançar, e os motoristas têm medo", afirmou Annan.
Ainda ontem, o Fundo Infantil das Nações Unidas anunciou que tentará enviar ao Afeganistão suprimentos de emergência através da fronteira com o Irã.
Segundo os EUA, aviões continuam lançando mantimentos prontos para consumo sobre as áreas que concentram maior número de refugiados.


Com agências internacionais


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