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O TERCEIRO DIA
EUA dizem investigar o caso e afirmam ter assumido controle do espaço aéreo afegão
Ataque norte-americano mata 4 funcionários da ONU
DA REDAÇÃO
No dia em que propagandearam ter dominado os céus do Afeganistão, os EUA sofreram um
golpe em sua guerra de propaganda no combate ao terror: a ONU
(Organização das Nações Unidas)
divulgou que quatro de seus funcionários foram mortos nos ataques norte-americanos de anteontem.
São os primeiros casos confirmados de civis mortos na ação
militar, que começou domingo e
prosseguiram ontem. Até então,
todas relações de vítimas civis haviam sido confirmadas apenas
pelo governo do Taleban, que diz
que 35 pessoas já morreram.
A informação das mortes dos
civis foi divulgada por Stephanie
Bunker, porta-voz das Nações
Unidas, que disse que os quatro
mortos eram afegãos que trabalhavam para a ONU na Consultoria Técnica Afegã, escritório que
supervisionava as operações de
retiradas de minas no país. "Pedaços de seus cadáveres ainda serão
recuperados sob os escombros",
afirmou a porta-voz.
O prédio do escritório, localizado a leste de Cabul, foi destruído
por um míssil, e outros quatro civis foram feridos. A porta-voz da
ONU, em entrevista coletiva em
Islamabad (Paquistão), pediu
proteção aos civis afegãos.
O secretário-geral da ONU, Kofi
Annan, definiu as mortes como
"um golpe duro". O governo norte-americano disse só ter selecionado alvos militares, mas informou que investiga se houve desvio em algum míssil lançado por
suas forças.
Supremacia aérea
Em entrevista no quartel-general do Pentágono, o secretário de
Defesa dos EUA, Donald Rumsfeld, afirmou que as ações noturnas realizados até ontem foram
"bem-sucedidas" e criaram condições para atacar o Afeganistão
ininterruptamente, dia e noite.
"Essencialmente, temos superioridade aérea sobre o Afeganistão", resumiu o chefe do Estado-Maior Conjunto dos EUA, general da Força Aérea Richard Myers,
que declarou ainda que mais de
80% dos alvos afegãos foram destruídos.
Myers e Rumsfeld apresentaram fotos de satélite para mostrar
a destruição de campos de treinamento da Al Qaeda, rede internacional controlada por Osama bin
Laden, à base aérea de Shindand,
no oeste do Afeganistão, e a lançadores de mísseis. Questionado se
ainda haveriam pontos a serem
atacados, Rumsfeld declarou:
"Não estamos sem alvos. É o Afeganistão que está".
Casa do líder
Outro local atingido durante os
ataques foi a residência em Candahar do mulá Mohammad
Omar, o líder do Taleban. Segundo Abdul Salem Zair, porta-voz
de Omar, o mulá "está vivo, graças a Deus" e havia deixado a casa
cerca de 15 minutos antes dos
bombardeios.
No terceiro dia de ataques ao
Afeganistão, as cidades de Candahar, Cabul, Jalalabad e Herat voltaram a ser atingidas pelos bombardeiros norte-americanos.
Não houve detalhamento do
número de aviões e mísseis utilizados -no segundo dia, havia sido substancialmente menor do
que no primeiro. O Reino Unido,
assim como anteontem, não tomou parte do ataque.
Em Candahar, alguns ataques
ocorreram antes do anoitecer. Segundo o Taleban, baterias antiaéreas foram disparadas contra dois
aviões dos EUA no final da tarde.
Em Jalalabad, durante os ataques de ontem, um soldado do
Taleban teria dito a um repórter
da agência de notícias "Associated Press": "Estamos cercados pela escuridão. Nossas baterias antiaéreas estão tentando atingi-los
(os aviões dos EUA), mas eles estão voando a uma altitude muito
elevada".
A agência de notícias afegã
"AIP" noticiou, do Paquistão,
ainda que alvos afegãos foram
atingidos nas cidades de Mazar-e-Sharif, Cunduz e Shiberghan, localizadas no norte do país.
Em demonstração de apoio à
ação militar, uma força naval da
Otan foi ao Mediterrâneo Oriental, enquanto o Canadá mobilizou
2.000 homens, navios e aviões. A
França anunciou ainda que possui uma pequena unidade de inteligência atuando em território
afegão.
A China manifestou seu apoio
mais concreto à ação dos EUA ao
fechar temporariamente sua fronteira de 70 km com o Afeganistão,
em virtude dos ataques.
Falta de comida
Outra agência vinculada à ONU,
o Programa Alimentar Mundial,
anunciou que, por causa da "situação caótica" e por razões de segurança, cogita suspender a distribuição de suprimentos de comida no país.
O secretário-geral da ONU, Kofi
Annan, disse que a ação militar
dificulta a entrega de comida aos
civis afegãos que necessitam de
ajuda apenas algumas semanas
antes da chegada do inverno.
"É complicado. Na atual situação, nossos caminhões não conseguem avançar, e os motoristas
têm medo", afirmou Annan.
Ainda ontem, o Fundo Infantil
das Nações Unidas anunciou que
tentará enviar ao Afeganistão suprimentos de emergência através
da fronteira com o Irã.
Segundo os EUA, aviões continuam lançando mantimentos
prontos para consumo sobre as
áreas que concentram maior número de refugiados.
Com agências internacionais
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