São Paulo, quarta-feira, 10 de outubro de 2001

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Ataque ao Iraque pode afundar coalizão

DA REDAÇÃO

Analistas árabes consideram que a coalizão militar liderada pelos EUA será despedaçada se houver uma ofensiva ao Iraque.
Washington afirmou anteontem que poderia visar outros países e organizações em sua chamada guerra contra o terror. Há rumores de que o país do ditador Saddam Hussein poderia entrar na mira da Casa Branca.
Especialistas afirmam que uma ofensiva americana contra o território iraquiano ultrajaria os árabes e colocaria em uma situação delicada seus governos aliados no golfo Pérsico, que temem ser vistos por suas respectivas populações como títeres do presidente George W. Bush. A expansão das operações militares na região poderia fomentar a percepção de que se empreende uma guerra contra o islamismo e colocar a população contra os governo.
"Um ataque ao Iraque criaria instabilidade na região toda", disse o omani Seif Maskari, ex-secretário-geral-assistente do Conselho de Cooperação do Golfo.
"Enquanto o Afeganistão permanecer como o alvo, haverá algum tipo de consenso", disse um diplomata. "Se os planos de guerra se ampliarem, os sauditas terão grandes problemas." O governo do berço do islã, a Arábia Saudita, está preocupado com a consequência que a morte de muçulmanos traria.
"A opinião pública árabe não aceitará a ampliação dos ataques a países árabes sem que haja provas tangíveis de seu envolvimento [nos atentados de 11 de setembro"", afirmou Jamal al Suwaidi, do Centro dos Emirados para Pesquisa e Estudos Estratégicos.
"Já há protestos no Egito e em outras partes. Serão ainda mais violentos se o Iraque for atacado", disse Hussein Amin, ex-embaixador egípcio na Argélia.

Desforra cara
"Poderemos descobrir que nossa autodefesa requer mais ações quanto a outras organizações e Estados", escreveu, em seu comunicado ao Conselho de Segurança da ONU, o embaixador americano John Negroponte.
A insinuação de que a operação "Liberdade Duradoura" poderá se voltar contra mais países incomodou o secretário-geral da ONU, Kofi Annan. "A frase que causou apreensão entre os membros, sobre a qual eu também pedi mais detalhes, foi a questão de que eles poderão considerar necessário visar outros grupos e países", disse.
Chanceleres de alguns dos 56 países que integram a Organização da Conferência Islâmica (OCI), entidade que iniciou ontem debates para uma posição unificada quanto à ação militar dos EUA, também manifestaram inquietação e disseram que uma missão irá a Washington para dissuadir Bush de ações contra outros países além do Afeganistão.
Segundo diplomatas e agentes de inteligência, não há provas de que o Iraque esteja envolvido nos atentados. A falta de indícios mais fortes faz a ala mais moderada do governo dos EUA tentar atenuar o impacto de tais declarações.
O secretário de Estado dos EUA, Colin Powell, insiste em que as afirmações mostram somente que todas as possibilidades são consideradas -não seriam uma intenção. Outros altos funcionários, como Paul Wolfowitz, subsecretário da Defesa, porém, não escondem que querem aproveitar a crise para se livrar de Saddam.


Com agências internacionais


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