São Paulo, quarta-feira, 10 de outubro de 2001

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FRONT INTERNO

"Estamos numa situação excepcional", diz o presidente, irritado com vazamentos

Bush restringe acesso do Congresso a informações

MARCIO AITH
DE WASHINGTON

Alegando a necessidade de proteger os militares americanos e dizendo-se irritado com parlamentares que teriam vazado dados secretos para a imprensa, o presidente dos EUA, George W. Bush, decidiu restringir ainda mais o número de pessoas que recebem do governo informações sobre as operações militares.
"A vida de nossos militares está em jogo", disse ontem Bush, ao justificar sua decisão de limitar a um grupo restrito de parlamentares os relatos regulares sobre o andamento da ofensiva militar e das investigações sobre a autoria dos atentados terroristas de setembro.
Tomada na sexta-feira, a decisão de Bush irritou profundamente setores do Congresso americano que apóiam Bush e que se sentem cada vez mais alijados de um processo sobre o qual acreditavam ter o poder constitucional de interferir. "Essa decisão causou enorme preocupação dentro do Congresso", disse o senador republicano John McCain, que perdeu para Bush, no ano passado, a indicação republicana para disputar a última eleição presidencial. "Sentimos que devemos ser informados, e a lei nos autoriza acesso a essas informações."
Bush justificou ontem sua decisão durante audiência com o chanceler (premiê) da Alemanha, Gerhard Schröder. "Sei que causei incômodo no Congresso, mas os parlamentares devem entender que estamos numa situação excepcional e não podemos deixar vazar informações que coloquem nossos militares em perigo"
Também ontem, o presidente notificou formalmente o Congresso americano que enviou, à Ásia Central, tropas para eventual uso em operações terrestres no Afeganistão.
No entanto Bush negou-se a dizer se a decisão pressupõe que os EUA irão promover um ataque por terra. "Não vou responder porque iria beneficiar nosso inimigo", disse o presidente. "Não falo sobre nosso planos militares para o futuro." O secretário da Defesa, Donald Rumsfeld, também se negou a comentar a possibilidade de ataques terrestres contra o país. Indagados, seus assessores dizem que a decisão ainda não está acertada e que o pedido feito ontem ao Congresso é apenas preventivo.
No entanto cresce a sensação de que, para capturar o terrorista saudita Osama bin Laden, principal acusado dos ataques terroristas aos EUA em setembro, será necessário o envio de forças especiais e tropas terrestres regulares.

Restrições
Bush ficara irritado com o vazamento para a imprensa de informações estratégicas que foram divididas com o Congresso nas últimas semanas.
Uma delas relatou a estratégia do Pentágono de promover três ataques noturnos consecutivos de ataques aéreos aos Afeganistão e uma pausa posterior, para avaliar a extensão dos danos.
Outra teria sido o relato, feito pelo senador Tren Lott, líder da minoria republicana no Senado, sobre a ampliação das operações para outros países. Lott disse ter ouvido do subsecretário da Defesa, Paul Wolfowitz, que a probabilidade de o Iraque se tornar um alvo é "provavelmente certa". Segundo Lott, Wolfowitz teria dito: "A vingança é um prato que se come frio. Vamos esperar, executar um plano, ir atrás de nosso primeiro alvo, depois do segundo".
A última informação vazada por membros do Congresso à imprensa informou, na semana passada, que o risco de um novo ataque terrorista nos EUA depois do início da ofensiva norte-americana foi estimado pelo governo em 100%.


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