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ESTRATÉGIA
Saudita revelou em seu discurso astúcia instintiva que faz dele um inimigo formidável
Bin Laden utiliza mídia moderna para propaganda
JUDITH MILLER
DO "THE NEW YORK TIMES"
Com seu turbante e jaqueta camuflada, seu árabe floreado e promessas severas de terror continuado contra os EUA, Osama bin
Laden revelou em seu discurso a
astúcia instintiva que tem feito
dele um inimigo formidável.
Essa foi, na verdade, a quarta
conclamação por jihad, ou guerra
santa, mas esse apelo se diferenciou de maneira importante dos
anteriores. Em primeiro lugar foi
a elevação do sofrimento do Iraque e, especialmente, da Palestina, como as causas principais de
sua indignação justa.
Além disso, o discurso gravado,
transmitido por um canal árabe
popular via satélite e retransmitido repetidamente pela CNN e por
outras redes, deu ao exilado saudita sua plataforma mais visível
para desabafar um rosário de injustiças amplamente divididas
pelo mundo árabe. Sua escolha de
divulgação foi hábil: oficiais reclamaram hoje que a Al Jazeera, a rede de TV árabe, havia obedecido
as instruções de Bin Laden para
adiar a transmissão do discurso
até depois do início dos bombardeios no Afeganistão.
Esse uso da mídia moderna para fazer sua propaganda se encaixa perfeitamente no que se tornou
atualmente uma tática familiar de
Bin Laden: voltar a tecnologia
moderna do Ocidente contra este.
O "timing", da mesma forma,
foi concebido para negar ao presidente Bush um monopólio da mídia para sua declaração de guerra
contra o terrorismo. Logo depois
que os seguidores de Bin Laden
sequestraram aviões dos EUA e
jogaram-nos contra os seus símbolos de poder econômico e militar, Bin Laden roubou o trovão da
mídia de Bush. Alguns jornais
árabes até publicaram fotos dos
dois homens lado a lado nas suas
primeiras páginas.
Perversamente espelhando a divisão que Bush fez do mundo entre aqueles que apoiavam os EUA
na rejeição ao terrorismo e aqueles que estavam contra eles, Bin
Laden também dividiu as pessoas
em "fiéis" que estão do seu lado e
naqueles que se opõem a ele, os
"infiéis". O que parecia zombaria
deliberada do apelo de Bush deixou algumas pessoas em Washington preocupadas. "Estou um
pouco perturbado que sua assessoria de imprensa seja tão boa
quanto a nossa", lamentou um
oficial.
Enquanto uma vasta maioria de
muçulmanos está repelida e horrorizada pelos métodos da Al
Qaeda, disse Nawaf Obaid, um
analista saudita, "o discurso sugere que ele tem o dom de atingir o
âmago das reclamações que o homem árabe comum na rua tem
contra seu respectivo governo, especialmente na Arábia Saudita".
Seja a sua evocação da Palestina,
sua promessa de acabar com os 80
anos de "humilhação e desgraça"
que os muçulmanos têm sofrido
desde a queda do império otomano, ou seu desejo de recriar o califado, o império muçulmano que o
arabista Bernard Lewis diz que foi
baseado por meio milênio no Iraque, as palavras de Bin Laden têm
ressonância perturbadora entre
muitos muçulmanos.
O primeiro apelo de Bin Laden
por uma guerra santa, lançado em
1992, conclamou os crentes a matar soldados norte-americanos no
Chifre da África, Somália e, é claro, na Arábia, a guardiã dos dois
lugares mais sagrados do islã, afirmou David Schenker, pesquisador no Instituto de Política do
Oriente Médio em Washington.
Não houve menção à Palestina.
A "fatwa" (decreto religioso) de
1996, um documento de 40 páginas, citava a opressão dos palestinos por Israel, mas a condenação
foi enterrada em uma lista infindável de reclamações palestinas
contra os EUA e injustiças sofridas por muçulmanos na Bósnia,
Kosovo, Tchetchênia, Somália,
Caxemira, Filipinas, Tadjiquistão
e Eritréia, para citar alguns.
Uma chamada às armas de três
páginas, publicada em fevereiro
de 1998, se concentrava primeiramente na condição dos muçulmanos na península arábica, depois nos iraquianos e, finalmente,
não nos palestinos, mas na "ocupação" da Jerusalém sagrada.
Mas enquanto essa declaração
de guerra, pela recém-formada
Frente do Mundo Islâmico, por jihad contra judeus e participantes
das Cruzadas foi assinada pelos líderes de grupos militantes do Paquistão, Bangladesh e Egito, entre
outros, não houve signatários de
grupos militantes palestinos.
Na busca por justificar assassinato em massa e alinhar seu terrorismo com a causa palestina, Bin
Laden entende -e, dizem antigos associados, até inveja- o
apelo. Bin Laden está tentando
expandir sua base terrorista, diz
Daniel Benjamin, um ex-oficial da
Casa Branca na administração
Bush, que está escrevendo um livro sobre terror religioso.
Cada "fatwa" é mais selvagem e
ambiciosa que a última, dizem os
experts. Enquanto as opiniões anteriores alvejaram soldados norte-americanos na África e no golfo, o último chamado por jihad
acusa e alveja todos os norte-americanos. Regozija-se no "horror
de norte a sul e leste a oeste" que
foi infligido por aqueles que ele
elogia como "muçulmanos de
vanguarda".
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