São Paulo, quinta-feira, 10 de outubro de 2002

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VENEZUELA

Oposicionistas querem eleições antecipadas; presidente diz que "Forças Armadas e povo estão em alerta" contra golpe

Marcha opositora exige hoje saída de Chávez

Kimberly White/Reuters
Membros da Guarda Nacional patrulham rua de Caracas na véspera de marcha contra Chávez


DA REDAÇÃO

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, e membros da oposição trocaram ontem acusações e insultos, na véspera de uma marcha contra o governo. Caracas viveu ontem um clima de agitação e tensão, com mobilização de tanques e soldados nas ruas.
A marcha pretende pedir a realização de um referendo para chamar eleições antecipadas ainda neste ano. O mandato de Chávez vence em 2007. A oposição quer dar um prazo de dez dias a Chávez para apresentar uma saída institucional à atual crise política.
"A oposição anuncia uma marcha. Mas não deve se equivocar achando que vai nos atropelar, que vai dar um golpe por trás da marcha", advertiu Chávez em um discurso para militares da reserva. "As Forças Armadas estão alertas, e o povo está alerta."
No fim de semana, Chávez acusou a oposição de tramar um golpe para tirá-lo do poder. Nos últimos dias, agentes do governo realizaram buscas em casas de opositores suspeitos de conspiração, incluindo oficiais militares.
"Não há força na Terra que possa parar nossa revolução", afirmou o presidente. Em 11 de abril, Chávez foi tirado do poder por um golpe cívico-militar, mas retornou dois dias depois, graças à ação de simpatizantes civis e militares leais a ele. O principal temor agora é a repetição dos distúrbios ocorridos no dia do golpe, em manifestação contra o governo que deixou pelo menos 17 mortos e dezenas de feridos.

Prazo
O presidente da Fedecámaras, principal associação empresarial do país, Carlos Fernández, um dos organizadores da marcha de hoje, disse que a oposição dará a Chávez um prazo até o dia 21 para encontrar uma saída para a crise e dar uma resposta ao pedido de eleições antecipadas.
"Se não houver uma resposta em dez dias, automaticamente se ativarão as outras ações que têm de ser levadas a cabo", afirmou Fernández. "A marcha não é para derrubar ninguém", disse.
A Fedecámaras e a CTV (Confederação de Trabalhadores da Venezuela, principal central sindical) anunciaram uma greve geral conjunta para este mês, ainda sem data definida. A Fedecámaras pediu ontem às empresas filiadas que liberem seus funcionários para participar da marcha sem descontar o dia de trabalho.
Para Fernández, se houver violência durante a marcha, ela será "provocada pelo governo, porque é o governo que quer que haja enfrentamentos na sociedade".
Em meio a rumores de golpe e de uma possível declaração de estado de sítio, as Forças Armadas intensificaram a segurança em Caracas, incluindo o deslocamento de tanques para proteger o palácio presidencial de Miraflores, no centro da cidade. O destacamento de blindados se propõe a "reforçar a segurança do palácio presidencial", segundo o inspetor do Exército, general Melvin López Hidalgo, por conta de "investigações dos órgãos de segurança do Estado que detectaram fatos considerados de conspiração".
Efetivos da Guarda Nacional e da polícia militar foram destacados na última semana para patrulhar as ruas de Caracas por causa de uma greve da Polícia Metropolitana, subordinada ao prefeito da região metropolitana de Caracas, Alfredo Peña, adversário político de Chávez.
Os opositores a Chávez, incluindo dezenas de oficiais militares que participaram do golpe de abril, afirmam que o presidente está implementando na Venezuela um regime comunista no estilo cubano. "Isto é uma ditadura disfarçada de democracia", afirmou o general Enrique Medina, um dos oficiais dissidentes. Ele e outros dois militares acusados pelo golpe de abril foram beneficiados ontem por uma decisão da Justiça que suspendeu os conselhos militares que os investigavam.


Com agências internacionais

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