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Protesto não é golpe, afirma organizador
ROGERIO WASSERMANN
DA REDAÇÃO
O ex-prefeito de Caracas Antonio Ledesma, um dos organizadores da manifestação de hoje contra o governo, nega que a marcha
tenha objetivo golpista. Para ele, o
presidente Hugo Chávez busca
semear o medo na população
com as acusações de conspiração
e a militarização de Caracas.
"Quanto mais nos ameaçam,
mais se levantam os ânimos. Por
sorte, estamos canalizando isso
por uma via pacífica", disse Ledesma ontem em entrevista à Folha, por telefone, de Caracas.
Segundo ele, os organizadores
esperam 1,5 milhão de pessoas na
manifestação de hoje, número
maior do que houve na megamanifestação de 11 de abril, que antecedeu o golpe contra Chávez.
Naquela ocasião, houve distúrbios que terminaram com 17
mortos e dezenas de feridos. A
oposição acusa chavistas pelas
mortes, mas o governo diz que
elas ocorreram em confrontos, e
que os tiros partiram tanto de
simpatizantes do presidente como de opositores.
Folha - Os distúrbios ocorridos
em 11 de abril podem se repetir
amanhã [hoje]?
Antonio Ledesma - Essa idéia só
está na cabeça dos chavistas porque eles se deitam e se levantam
com o fantasma da violência rodeando suas almas. Essa militarização de Caracas, mais que proteger a população, quer amedrontar
os venezuelanos. Não estão conseguindo, pois, quanto mais nos
ameaçam, mais se levantam os
ânimos. Por sorte, estamos canalizando isso por uma via pacífica.
Folha - Existe um golpe de Estado
sendo tramado, como declarou o
presidente Chávez no domingo?
Ledesma - O presidente está tão
nervoso que vê golpistas por todos os lados. A oposição prima
por um princípio fundamental da
democracia. Nós caminhamos
muito longe de qualquer aventura
golpista. Aqui o único golpista é
Chávez, que tentou derrubar um
governo democrático em 4 de fevereiro de 1992. Isso todos os venezuelanos sabem, e acho que
também sabem vocês no exterior.
Folha - Qual o objetivo da marcha?
Ledesma - O objetivo fundamental é condenar uma vez mais
os assassinatos de 11 de abril. Passados quase seis meses, ainda não
houve uma investigação séria para determinar os responsáveis por
esse massacre. Em segundo lugar,
queremos exigir a convocação de
eleições antecipadas. Esse é o lema principal da marcha, eleições
o mais rápido possível. Para que,
pela via democrática, possamos
solucionar essa terrível crise política pela qual passamos.
Folha - Pela atual Constituição, o
mandato de Chávez vai até 2007.
Que argumentos legais existem para encurtar esse mandato?
Ledesma - Temos uma crise que
não será resolvida com demoras.
Portanto estamos pedindo um referendo, como autoriza a própria
Constituição. Um referendo consultivo até dezembro, para que o
povo se expresse, para dizer se
quer ou não quer que Chávez
continue à frente do poder.
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