São Paulo, quinta-feira, 10 de outubro de 2002

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Protesto não é golpe, afirma organizador

ROGERIO WASSERMANN
DA REDAÇÃO

O ex-prefeito de Caracas Antonio Ledesma, um dos organizadores da manifestação de hoje contra o governo, nega que a marcha tenha objetivo golpista. Para ele, o presidente Hugo Chávez busca semear o medo na população com as acusações de conspiração e a militarização de Caracas.
"Quanto mais nos ameaçam, mais se levantam os ânimos. Por sorte, estamos canalizando isso por uma via pacífica", disse Ledesma ontem em entrevista à Folha, por telefone, de Caracas.
Segundo ele, os organizadores esperam 1,5 milhão de pessoas na manifestação de hoje, número maior do que houve na megamanifestação de 11 de abril, que antecedeu o golpe contra Chávez.
Naquela ocasião, houve distúrbios que terminaram com 17 mortos e dezenas de feridos. A oposição acusa chavistas pelas mortes, mas o governo diz que elas ocorreram em confrontos, e que os tiros partiram tanto de simpatizantes do presidente como de opositores.

Folha - Os distúrbios ocorridos em 11 de abril podem se repetir amanhã [hoje]?
Antonio Ledesma -
Essa idéia só está na cabeça dos chavistas porque eles se deitam e se levantam com o fantasma da violência rodeando suas almas. Essa militarização de Caracas, mais que proteger a população, quer amedrontar os venezuelanos. Não estão conseguindo, pois, quanto mais nos ameaçam, mais se levantam os ânimos. Por sorte, estamos canalizando isso por uma via pacífica.

Folha - Existe um golpe de Estado sendo tramado, como declarou o presidente Chávez no domingo?
Ledesma -
O presidente está tão nervoso que vê golpistas por todos os lados. A oposição prima por um princípio fundamental da democracia. Nós caminhamos muito longe de qualquer aventura golpista. Aqui o único golpista é Chávez, que tentou derrubar um governo democrático em 4 de fevereiro de 1992. Isso todos os venezuelanos sabem, e acho que também sabem vocês no exterior.

Folha - Qual o objetivo da marcha?
Ledesma -
O objetivo fundamental é condenar uma vez mais os assassinatos de 11 de abril. Passados quase seis meses, ainda não houve uma investigação séria para determinar os responsáveis por esse massacre. Em segundo lugar, queremos exigir a convocação de eleições antecipadas. Esse é o lema principal da marcha, eleições o mais rápido possível. Para que, pela via democrática, possamos solucionar essa terrível crise política pela qual passamos.

Folha - Pela atual Constituição, o mandato de Chávez vai até 2007. Que argumentos legais existem para encurtar esse mandato?
Ledesma -
Temos uma crise que não será resolvida com demoras. Portanto estamos pedindo um referendo, como autoriza a própria Constituição. Um referendo consultivo até dezembro, para que o povo se expresse, para dizer se quer ou não quer que Chávez continue à frente do poder.


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