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EUROPA
Comissão Européia abre caminho para adesão de dez novos membros, o que acarretará grandes desafios econômicos
Histórica, expansão a leste complica a UE
MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO
A Comissão Européia indicou
ontem aos 15 países da União Européia que a entrada de dez novos
Estados no bloco poderá ser concluída em dezembro, abrindo caminho para uma histórica expansão para o leste, 13 anos após a
queda do Muro de Berlim.
Contudo, embora crucial politicamente, a adesão (efetiva em
2004) da Polônia, da Hungria, da
República Tcheca, da Eslováquia,
da Eslovênia, da Lituânia, da Letônia, da Estônia e de duas ilhas
do mar Mediterrâneo, Malta e
Chipre, acarretará desafios econômicos vultosos, de acordo com
especialistas ouvidos pela Folha.
Ao apresentar o relatório anual
sobre a ampliação -no qual também afirmou que a Romênia e a
Bulgária poderão aderir ao bloco
em 2007-, o presidente do órgão
executivo da UE, Romano Prodi,
saudou a dimensão histórica da
expansão para o leste. "Há 13
anos, Berlim ainda era dividida
por um muro de vergonha", disse.
"O muro caiu, e redescobrimos
a histórica unidade de nossos povos. Nosso destino é construir
nosso futuro em conjunto", declarou Prodi, acrescentando que a
ampliação proporcionará a consolidação da democracia, do Estado de Direito e dos direitos humanos em toda a Europa.
"Não podemos desprezar o peso histórico que terá a entrada na
UE de países que faziam parte do
bloco socialista. Todavia é essencial lembrar que, além dos enormes desafios econômicos, há o referendo irlandês [que ocorrerá
em 19 de outubro]. Um "não" da
Irlanda ao Tratado de Nice [2000]
poderia dificultar a expansão",
analisou Anne-Marie Le Gloannec, autora de "Entre Union et
Nation: les Etats en Europe".
A Irlanda, cuja população já rejeitou o Tratado de Nice -que
prevê a adaptação das instituições
européias para permitir as novas
adesões- uma vez, é o único país
que depende do crivo popular para aprová-lo. Os outros 14 Estados
só têm votação no Parlamento.
Desafios econômicos
Como definiu o diário francês
"Le Monde", "eles são dez, são
pobres e possuem uma grande
população agrícola". Exceto Chipre, Malta e Eslovênia, relativamente ricos e com pequena população agrícola, os outros candidatos terão o direito de receber mais
fundos da UE do que darão a ela.
Assim, o primeiro grande desafio econômico diz respeito à Política Agrícola Comum. "Os poloneses, por exemplo, deveriam ter
direito aos níveis de subvenção
dos espanhóis. Mas a população
agrícola da Polônia é imensa, o
que constitui mais um motivo para que a PAC seja reformada",
apontou Xavier Girre, especialista
em economia do Instituto de Estudos Políticos de Paris.
"Ademais, os fundos estruturais
também deverão ser adaptados à
nova realidade, pois a Alemanha,
maior financiadora da UE, não
quer mais despender tanto. Berlim tem de pensar nos problemas
econômicos domésticos, que quase custaram a reeleição ao chanceler [premiê] Gerhard Schröder."
Outra preocupação econômica
diz respeito a eventuais choques
assimétricos (que atingem apenas
um Estado ou uma região da UE)
-provocados pela entrada dos
novos países. Afinal, a discrepância de preços existente entre eles e
os atuais membros poderia afetar
duramente alguns mercados.
"Já se fala em criar um prazo de
adaptação dois anos. Ademais, os
40 bilhões que deverão ser dados aos dez países entre 2004 e
2006 são muito pouco. Desde
1990, Berlim gastou cerca de 800
bilhões na integração da ex-Alemanha Oriental", indicou Girre.
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