São Paulo, quinta-feira, 10 de outubro de 2002

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EUROPA

Comissão Européia abre caminho para adesão de dez novos membros, o que acarretará grandes desafios econômicos

Histórica, expansão a leste complica a UE

MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO

A Comissão Européia indicou ontem aos 15 países da União Européia que a entrada de dez novos Estados no bloco poderá ser concluída em dezembro, abrindo caminho para uma histórica expansão para o leste, 13 anos após a queda do Muro de Berlim.
Contudo, embora crucial politicamente, a adesão (efetiva em 2004) da Polônia, da Hungria, da República Tcheca, da Eslováquia, da Eslovênia, da Lituânia, da Letônia, da Estônia e de duas ilhas do mar Mediterrâneo, Malta e Chipre, acarretará desafios econômicos vultosos, de acordo com especialistas ouvidos pela Folha.
Ao apresentar o relatório anual sobre a ampliação -no qual também afirmou que a Romênia e a Bulgária poderão aderir ao bloco em 2007-, o presidente do órgão executivo da UE, Romano Prodi, saudou a dimensão histórica da expansão para o leste. "Há 13 anos, Berlim ainda era dividida por um muro de vergonha", disse.
"O muro caiu, e redescobrimos a histórica unidade de nossos povos. Nosso destino é construir nosso futuro em conjunto", declarou Prodi, acrescentando que a ampliação proporcionará a consolidação da democracia, do Estado de Direito e dos direitos humanos em toda a Europa.
"Não podemos desprezar o peso histórico que terá a entrada na UE de países que faziam parte do bloco socialista. Todavia é essencial lembrar que, além dos enormes desafios econômicos, há o referendo irlandês [que ocorrerá em 19 de outubro]. Um "não" da Irlanda ao Tratado de Nice [2000] poderia dificultar a expansão", analisou Anne-Marie Le Gloannec, autora de "Entre Union et Nation: les Etats en Europe".
A Irlanda, cuja população já rejeitou o Tratado de Nice -que prevê a adaptação das instituições européias para permitir as novas adesões- uma vez, é o único país que depende do crivo popular para aprová-lo. Os outros 14 Estados só têm votação no Parlamento.

Desafios econômicos
Como definiu o diário francês "Le Monde", "eles são dez, são pobres e possuem uma grande população agrícola". Exceto Chipre, Malta e Eslovênia, relativamente ricos e com pequena população agrícola, os outros candidatos terão o direito de receber mais fundos da UE do que darão a ela.
Assim, o primeiro grande desafio econômico diz respeito à Política Agrícola Comum. "Os poloneses, por exemplo, deveriam ter direito aos níveis de subvenção dos espanhóis. Mas a população agrícola da Polônia é imensa, o que constitui mais um motivo para que a PAC seja reformada", apontou Xavier Girre, especialista em economia do Instituto de Estudos Políticos de Paris.
"Ademais, os fundos estruturais também deverão ser adaptados à nova realidade, pois a Alemanha, maior financiadora da UE, não quer mais despender tanto. Berlim tem de pensar nos problemas econômicos domésticos, que quase custaram a reeleição ao chanceler [premiê] Gerhard Schröder."
Outra preocupação econômica diz respeito a eventuais choques assimétricos (que atingem apenas um Estado ou uma região da UE) -provocados pela entrada dos novos países. Afinal, a discrepância de preços existente entre eles e os atuais membros poderia afetar duramente alguns mercados.
"Já se fala em criar um prazo de adaptação dois anos. Ademais, os 40 bilhões que deverão ser dados aos dez países entre 2004 e 2006 são muito pouco. Desde 1990, Berlim gastou cerca de 800 bilhões na integração da ex-Alemanha Oriental", indicou Girre.


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