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Bush ameaça Coréia do Norte com sanções
Conselho de Segurança condena a explosão atômica anunciada por Pyongyang; EUA não confirmaram que houve teste
Para analistas, Casa Branca aposta na diplomacia por falta de opção, já que EUA estão envolvidos em outras duas frentes de guerra
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
A comunidade internacional
condenou firmemente o anúncio do teste nuclear feito pela
Coréia do Norte na noite de domingo, que faria daquele país o
nono Estado a possuir armas
dessa natureza no mundo. A
reação foi liderada pelo presidente norte-americano, George W. Bush, e o Conselho de Segurança da Organização das
Nações Unidas (ONU), no primeiro teste do novo secretário-geral da entidade, o sul-coreano Ban Ki Moon.
"Os Estados Unidos condenam este ato de provocação",
disse Bush. "Mais uma vez, a
Coréia do Norte desafiou a comunidade internacional, e a comunidade internacional vai
responder", afirmou o presidente logo pela manhã, para
depois dizer que seu país "continua comprometido com a diplomacia" e "continuará a proteger" seus interesses.
Alguns analistas consideraram a reação da Casa Branca
branda ao reforçar a via diplomática e insistir na pressão
multilateral, principalmente
via Conselho de Segurança da
ONU. O motivo seria a falta de
opções de Bush, já envolvido
em duas frentes, o Iraque e o
Afeganistão, que ameaçam sair
do seu controle.
"A administração de Bush
merece uma reprimenda particular" pelo teste, disse o presidente do Conselho Independente de Relações Exteriores,
Gary Samore. "Eles tinham expectativas que não eram realistas sobre o que poderia ser alcançado via pressão. A habilidade dos EUA de constranger a
Coréia do Norte é limitada, especialmente no meio de uma
guerra no Iraque."
Já o Conselho de Segurança
da ONU repudiou o anúncio do
teste, mas analisava até a conclusão dessa edição a proposta
levada pelo embaixador dos
EUA, John Bolton, de embargo
militar e sanções financeiras e
econômicas ao país. Reino Unido e França se mostraram favoráveis com algumas restrições
ao pacote, que encontrou resistência da China, principal aliado da Coréia do Norte, e indiferença da Rússia.
O principal ponto da proposta é a inspeção internacional de
toda mercadoria que entrar e
sair do país. O temor dos EUA é
que a Coréia do Norte exporte
armas e tecnologia nuclear para grupos terroristas. Outros
itens defendidos por Bolton
numa reunião a portas fechadas incluem o bloqueio do acesso do país ao sistema financeiro
internacional e a proibição do
comércio de itens de luxo.
"Eu não vi nenhum defensor
da Coréia do Norte naquela sala", disse Bolton num intervalo
da reunião. "Ninguém defendeu o teste. Ninguém chegou
nem perto de defendê-lo." O
Conselho de Segurança (CS) é
formado por 15 países, mas
apenas EUA, França, Rússia,
Reino Unido e China têm poder
de decisão.
O anúncio norte-coreano
chegou dois dias depois de o CS
ter avisado que a Coréia do
Norte sofreria "conseqüências
severas" se seguisse em frente
com seus planos.
Se confirmada a realização
do teste, a Coréia do Norte será
o nono membro do chamado
"clube nuclear", formado por
EUA, Rússia, França, China,
Reino Unido, Índia, Paquistão e
Israel -o último não confirma
que possua armas nucleares e
nunca anunciou testes.
Ato de guerra
Em outro flanco, funcionários graduados do governo
Bush que não quiseram se
identificar declararam a jornalistas norte-americanos que
uma frota militar poderia ser
deslocada à península Coreana
e, num segundo momento, inspecionar toda embarcação que
saísse do país.
A ação naval é considerada
ato de guerra e, por esse motivo, pouco provável de ser levada a cabo. Um dos motivos são
as crescentes dúvidas levantadas pela comunidade de inteligência de que o teste nuclear
tenha mesmo acontecido. Na
avaliação de alguns órgãos, a
explosão seria mais um ato de
propaganda. O próprio Bush foi
cuidadoso: "Ainda estamos trabalhando para confirmar a afirmação da Coréia do Norte".
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