São Paulo, segunda-feira, 10 de outubro de 2011

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Nova regra de casamento chacoalha a China

Em caso de separação, imóvel fica só com quem registrou a propriedade; a medida prejudica mais as mulheres

Mudança deve provocar impacto na vida de milhões de casais, já que o índice de divórcio no país está em alta

FABIANO MAISONNAVE
DE PEQUIM

Por amor ou por dinheiro? A clássica pergunta e uma reinterpretação da Lei do Casamento pela Corte Suprema chinesa estão fazendo muitos noivos do país adiarem o enlace e até se separarem.
A controvérsia não para de crescer desde a implantação da nova regra, há dois meses.
O motivo é que agora a Justiça só reconhece o comprador original como proprietário do imóvel onde vive o casal -em geral o noivo ou o pai do noivo. Antes, o imóvel era considerado propriedade conjunta em caso de divórcio.
A mudança é mais criticada por mulheres do que homens. Para elas, a Justiça deixou de reconhecer a contribuição feminina ao casamento, já que muitas deixam de trabalhar para cuidar da casa.
"A nova lei é ridícula, oferece uma excelente oportunidade para o homem ter um caso amoroso e trair a família. As mulheres que carregamos o filho e a família temos menos garantias", disse a internauta de pseudônimo Amor Púrpura, num fórum do site qq.com. "A mudança seguramente foi feita por homens", disse outra, Estrela da Floresta.
Já os que defendem a reinterpretação afirmam tratar-se de uma proteção contra mulheres que planejam dar o golpe do baú. "Algumas mulheres querem que os seus maridos provem o quanto as amam colocando o nome na certidão de propriedade. É egoísta", rebateu o usuário Sem Cicatriz, no fórum, em referência à multiplicação de casos de mulheres que passaram a exigir a inclusão do nome no registro do imóvel antes do casamento.
Mas há casais que estão de acordo. Juntos há cerca de um ano, o analista de seguros Wang Shung, 28, e a maquiadora Shi Yang, 27, acreditam que a mudança será benéfica. "É uma forma de evitar mais dor na separação, pois soluciona a disputa de forma clara", diz ele. Os dois planejam comprar um imóvel no ano que vem -com a propriedade para ambos.
Shi, porém, diz que sua posição não é a mais comum. Ela conta que a mudança fez com que algumas amigas adiassem o casamento. "Quando um homem propõe casamento, 80% das mulheres exigem casa e carro. Quase todos os maridos concordam. Eu discordo, só quero viver o resto da vida com ele."
Seja como for, a mudança deve mexer com a vida de milhões de chineses, dado que a taxa de divórcio sobe quase no ritmo da economia do país, desde o início do século.
Só no ano passado, houve 2,7 milhões de divórcios -aumento de 8,5% em relação a 2009, segundo o Ministério de Assuntos Civis. O crescimento ainda é mais alto nas duas mais importantes metrópoles, Pequim (39%) e Xangai (38%).
A tendência continua neste ano: foram 465.357 divórcios no primeiro trimestre - 17% a mais do que no mesmo período de 2010. Ainda assim, o matrimônio continua sendo uma experiência quase universal, englobando 98% da população adulta.
Alheia à explosão dos divórcios em Pequim, Shi defende que os noivos deveriam pensar mais no matrimônio do que na separação. "Casamento não é sobre propriedade, trata-se de buscar a felicidade. Se o imóvel é o tema mais importante, então é melhor não se casar."


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