São Paulo, terça-feira, 10 de dezembro de 2002

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IMPASSE

Chávez ordena que Exército assuma setor afetado por greve; principal companhia aérea anuncia adesão à paralisação

Tropas venezuelanas ocupam refinarias

Daniel Aguilar/Reuters
Soldado conversa com motorista que tenta abastecer carro em Caracas, onde houve filas em postos, mercados e bancos


DA REDAÇÃO

Soldados da Guarda Nacional venezuelana ocuparam ontem centros de distribuição de combustível em Caracas e em outras regiões do país numa tentativa do governo Chávez de retomar o controle sobre a produção e a distribuição de petróleo, prejudicadas por uma greve geral iniciada no último dia 2. A indústria petrolífera responde por cerca de 80% das exportações venezuelanas.
Moradores de Caracas e outras cidades faziam filas em postos de gasolina, supermercados, farmácias e bancos ontem, por causa dos efeitos da greve oposicionista.
"Não tenho uma gota de gasolina e não vejo solução a curto prazo", disse a advogada Luisa Elena Castro num posto de Caracas. A greve geral, convocada por oposicionistas com o objetivo de forçar o presidente Hugo Chávez a convocar um referendo sobre sua permanência no poder, cortou a produção de petróleo pela metade e praticamente paralisou a exportação do produto. Ontem, funcionários do Departamento do Tesouro e do serviço de alfândega aderiram à paralisação.
A Venezuela é o quinto maior produtor mundial de petróleo. Cerca de 15% do petróleo importado pelos Estados Unidos é originário do país.
O general Wilfredo Silva, encarregado pelo presidente Chávez de garantir a produção e a distribuição de petróleo, afirmou que a Guarda Nacional assumiu controle do centro de distribuição de Guatire, em Caracas, para garantir a oferta na capital. Soldados também tomaram centros petrolíferos em outros Estados. Mas analistas acham que os militares não têm qualificação para garantir a operação de refinarias, o estoque e a distribuição do produto.
A greve geral, que entrou ontem em sua segunda semana, é o maior desafio ao presidente Hugo Chávez desde abril último, quando ele sobreviveu a um golpe. Em outras três paralisações realizadas desde dezembro de 2001, o setor petrolífero não havia sido atingido. O petróleo é responsável por cerca de 50% do PIB venezuelano.
"Eles não vão conseguir quebrar a PDVSA (estatal petrolífera), eles não vão conseguir pará-la", disse Chávez no domingo.
O aprofundamento da crise venezuelana continuou tendo impacto no mercado mundial de petróleo, já preocupado com a possibilidade de um ataque dos Estados Unidos ao Iraque. Ontem, o preço do barril de petróleo subiu 40 centavos de dólar e atingiu o preço de US$ 27,33 por barril.
Chávez, um ex-militar que tentou chegar ao poder com um golpe de Estado em 1992 e seis anos depois foi eleito com ampla maioria, tem enfrentado oposição de grupos descontentes com seu governo, entre eles a Fedecámaras (maior entidade empresarial) e a Confederação dos Trabalhadores da Venezuela (CTV).
Os líderes da oposição, apoiados principalmente pelas classes média e alta, exigem a realização de um referendo sobre a continuação de Chávez no poder. Desde a última sexta-feira -quando três pessoas morreram durante manifestação em praça de Caracas- setores da oposição passou a exigir a renúncia do presidente e a convocação de eleições no início do próximo ano.
Chávez, no entanto, afirma que a Constituição não permite a realização de referendo antes de agosto de 2003. E rejeita renunciar. Durante o fim-de-semana, milhares de simpatizantes do presidente -que ainda é popular entre os mais pobres- foram às ruas para apoiá-lo.
Nas últimas semanas, o secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), o colombiano César Gavíria, tem tentado obter uma solução negociada, mas ele ainda não obteve sucesso. Ontem, o governo dos EUA apoiaram a iniciativa de Gavíria. "Continuamos a apoiar o processo de diálogo", disse o porta-voz da Casa Branca, Ari Fleischer.
Durante o primeiro semestre deste ano, a economia venezuelana encolheu 7%, e a inflação já atingiu 30%. Por enquanto, a subida dos preços do petróleo no mercado mundial tem ajudado o governo a equilibrar suas contas, mas, agora, essa fonte de recursos parece estar comprometida com a greve no setor petrolífero.
A principal companhia aérea da Venezuela, a Aeropostal, anunciou a adesão à greve ontem e disse que irá suspender 60 vôos.

Com agências internacionais


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