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AMÉRICA LATINA
Oscar Elías Biscet e outros 16 ativistas foram detidos na casa de um deles, segundo Elsa Morejón, mulher de Biscet
Dissidente é preso novamente em Cuba
MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO
O médico e ativista Oscar Elías
Biscet, além de outros 16 dissidentes cubanos, foram presos na última sexta-feira, em Havana, quando faziam uma "reunião pacífica
de um clube de defesa dos direitos
humanos", de acordo com Elsa
Morejón, mulher de Biscet.
"Eles foram detidos às 18h30 da
última sexta-feira. Faziam apenas
uma reunião pacífica do clube de
defesa dos direitos humanos que
meu marido quer consolidar aqui
em Cuba. Não conheço o motivo
porque o governo ainda não me
disse nada a esse respeito", afirmou Morejón à Folha.
A reportagem da Folha entrou
em contato com a Embaixada de
Cuba em Brasília, porém não encontrou nenhum funcionário que
pudesse falar sobre o assunto. Segundo o governo cubano, que está no poder desde a revolução de
1959, não há presos políticos na
ilha. Havana diz ainda que os dissidentes são "contra-revolucionários" pagos por Washington.
Ex-preso político, Biscet, 41, foi
libertado em 31 de outubro último após cumprir quase três anos
de detenção. Em novembro de
1999, ele foi preso por organizar
um protesto público contra o governo e colocar duas bandeiras de
Cuba de cabeça para baixo em um
evento em sua casa. Em fevereiro
de 2000, Biscet foi condenado a
três anos de prisão por insulto a
símbolos pátrios, desordem pública e incitação à violência.
Depois que foi libertado, o médico generalista criou o Clube dos
Amigos dos Direitos Humanos.
Foi numa reunião dessa associação que ele foi preso. "Esse clube
tem por vocação reunir as pessoas
para ensinar-lhes o que são os direitos humanos e como conquistá-los por meio de métodos de luta não-violentos", explicou Biscet
à Folha em entrevista na última
quarta-feira.
De acordo com Morejón, a nova
detenção de seu marido não segue
o padrão dos casos anteriores. Todavia ela crê que Biscet não deva
permanecer muito tempo encarcerado, visto que "12 das 17 pessoas que foram presas na reunião
já estão em liberdade".
"Acredito que Oscar venha a ser
libertado em breve porque não
cometeu nenhum delito. Debater
temas relacionados aos direitos
humanos não é um crime. Ademais, no passado, as reuniões realizadas dentro da casa de alguém
eram permitidas ou, ao menos,
toleradas", apontou Morejón.
Ela também deveria ter participado do encontro, mas não pôde
porque teve um empecilho. "Costumo estar presente às reuniões
sobre a defesa dos direitos humanos, porém, na última sexta-feira,
não pude comparecer por razões
pessoais."
Há cerca de 300 presos políticos
na ilha, de acordo com organizações não-governamentais cubanas e internacionais. O número de
"presos de consciência", aqueles
detidos por causa de suas crenças
ou do exercício de suas liberdades
fundamentais, tem diminuído em
Cuba nos últimos anos, segundo a
Anistia Internacional. Na prática,
"presos de consciência" e presos
políticos são a mesma coisa.
Antes de ser preso, em 1999, Biscet dirigia a Fundação Lawton de
Direitos Humanos, um grupo
opositor -mas tolerado. A fundação fechou após sua condenação. Com o Clube dos Amigos dos
Direitos Humanos, ele pretende
dar continuidade à sua "luta pela
liberdade dos cubanos".
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