São Paulo, terça-feira, 10 de dezembro de 2002

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AMÉRICA LATINA

Oscar Elías Biscet e outros 16 ativistas foram detidos na casa de um deles, segundo Elsa Morejón, mulher de Biscet

Dissidente é preso novamente em Cuba

MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO

O médico e ativista Oscar Elías Biscet, além de outros 16 dissidentes cubanos, foram presos na última sexta-feira, em Havana, quando faziam uma "reunião pacífica de um clube de defesa dos direitos humanos", de acordo com Elsa Morejón, mulher de Biscet.
"Eles foram detidos às 18h30 da última sexta-feira. Faziam apenas uma reunião pacífica do clube de defesa dos direitos humanos que meu marido quer consolidar aqui em Cuba. Não conheço o motivo porque o governo ainda não me disse nada a esse respeito", afirmou Morejón à Folha.
A reportagem da Folha entrou em contato com a Embaixada de Cuba em Brasília, porém não encontrou nenhum funcionário que pudesse falar sobre o assunto. Segundo o governo cubano, que está no poder desde a revolução de 1959, não há presos políticos na ilha. Havana diz ainda que os dissidentes são "contra-revolucionários" pagos por Washington.
Ex-preso político, Biscet, 41, foi libertado em 31 de outubro último após cumprir quase três anos de detenção. Em novembro de 1999, ele foi preso por organizar um protesto público contra o governo e colocar duas bandeiras de Cuba de cabeça para baixo em um evento em sua casa. Em fevereiro de 2000, Biscet foi condenado a três anos de prisão por insulto a símbolos pátrios, desordem pública e incitação à violência.
Depois que foi libertado, o médico generalista criou o Clube dos Amigos dos Direitos Humanos. Foi numa reunião dessa associação que ele foi preso. "Esse clube tem por vocação reunir as pessoas para ensinar-lhes o que são os direitos humanos e como conquistá-los por meio de métodos de luta não-violentos", explicou Biscet à Folha em entrevista na última quarta-feira.
De acordo com Morejón, a nova detenção de seu marido não segue o padrão dos casos anteriores. Todavia ela crê que Biscet não deva permanecer muito tempo encarcerado, visto que "12 das 17 pessoas que foram presas na reunião já estão em liberdade".
"Acredito que Oscar venha a ser libertado em breve porque não cometeu nenhum delito. Debater temas relacionados aos direitos humanos não é um crime. Ademais, no passado, as reuniões realizadas dentro da casa de alguém eram permitidas ou, ao menos, toleradas", apontou Morejón.
Ela também deveria ter participado do encontro, mas não pôde porque teve um empecilho. "Costumo estar presente às reuniões sobre a defesa dos direitos humanos, porém, na última sexta-feira, não pude comparecer por razões pessoais."
Há cerca de 300 presos políticos na ilha, de acordo com organizações não-governamentais cubanas e internacionais. O número de "presos de consciência", aqueles detidos por causa de suas crenças ou do exercício de suas liberdades fundamentais, tem diminuído em Cuba nos últimos anos, segundo a Anistia Internacional. Na prática, "presos de consciência" e presos políticos são a mesma coisa.
Antes de ser preso, em 1999, Biscet dirigia a Fundação Lawton de Direitos Humanos, um grupo opositor -mas tolerado. A fundação fechou após sua condenação. Com o Clube dos Amigos dos Direitos Humanos, ele pretende dar continuidade à sua "luta pela liberdade dos cubanos".


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