São Paulo, sábado, 11 de janeiro de 2003

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VENEZUELA

Presidente ataca TVs, chama empresários de "insensíveis" e pede que militares se preparem para tomar fábricas de alimentos

Chávez ameaça mídia e setor alimentício

DA REDAÇÃO

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, criticou ontem os empresários do país que apóiam a greve geral comandada pela oposição, desde 2 de dezembro, e fez ameaças aos donos de canais de TV e às empresas de alimentos.
Em um discurso em Cojedes (200 km a sudoeste de Caracas), transmitido em cadeia de rádio e TV, ele pediu às Forças Armadas que "se preparem para tomar fábricas e depósitos de alimentos" paralisados pela greve, que vem provocando desabastecimento.
"Vão preparando planos para tomar militarmente as fábricas e depósitos de alimento. Também estou disposto a tomar ações para assegurar a distribuição dos alimentos", disse Chávez. Anteriormente, ele já havia destacado os militares para retomar petroleiros controlados por grevistas e para operar refinarias paralisadas.
Ele acusou ainda as empresas de alimentos que seguem a greve geral de "violentar a Constituição e as leis" e disse que os empresários são "insensíveis". "Não se equivoquem com Hugo Chávez. Eu não permitirei que matem o povo venezuelano de fome", disse.
"Tivemos que gastar bilhões de dólares em importação de alimentos. Por quê? Porque alguns empresários insensíveis deixaram de produzir farinha para pão e mantêm estocados arroz e milho", afirmou.
O presidente da Câmara Venezuelana da Indústria de Alimentos, Rafael Alfonzo, criticou as ameaças de Chávez e disse que o desabastecimento é provocado pela "falta de gasolina", que prejudica a distribuição. Para ele, o presidente, com as ameaças, "está complicando mais as coisas".
Durante seu discurso, Chávez ameaçou ainda os donos de canais de TV. "Ou cumprem a Constituição e as leis ou teremos que fazê-los cumprir... Não vamos continuar permitindo a propaganda de guerra", disse.
Chávez acusa os grandes grupos de mídia de apoiar uma "conspiração golpista" contra ele. Ontem, as principais empresas de comunicação do país anunciaram que apoiarão financeiramente a realização de um referendo sobre seu mandato no dia 2 de fevereiro. O governo é contra a consulta.
Chávez acusou nominalmente o empresário Gustavo Cisneros, um dos mais poderosos da América Latina, a quem chamou de "golpista e fascista". "Ele já disse em algumas partes do mundo que não descansará até que Hugo Chávez esteja fora do poder ou morto. O senhor Cisneros está equivocado. Aqui não se trata de Hugo Chávez, se trata de um povo e de um país que se chama Venezuela", disse. "Nós, os revolucionários, não temos medo de nenhum oligarca, por mais dinheiro que possa ter."
Ele citou especialmente os canais Venevisión, de Cisneros, Radio Caracas Televisión, Globovisión e Televén. "Nós temos sido bastante tolerantes, mas não vamos continuar permitindo a propaganda de guerra que fazem esses quatro canais, os quatro cavaleiros do apocalipse", disse.
Os meios de comunicação do país vêm apoiando a greve geral, convocada para forçar Chávez a aceitar um referendo sobre seu mandato, renunciar ou convocar eleições antecipadas.
Chávez, cujo mandato vence em janeiro de 2007, diz que não renunciará e que cumprirá a Constituição, que só permite a realização de uma consulta popular a partir de agosto, quando seu governo chega à metade.

Explosão
Uma granada explodiu na noite de anteontem na residência do embaixador argelino em Caracas, num ato que o governo chamou de "conspiração contra as instituições" por parte da oposição.
A Argélia havia oferecido à Venezuela o envio de técnicos especializados em petróleo para ajudar a combater a greve geral, que afeta sensivelmente a indústria petroleira. Pedido de ajuda semelhante foi feito pelo presidente Chávez à Pretrobras.
A explosão da granada, no jardim da residência, provocou apenas danos materiais em um carro e feriu um cachorro. Segundo a polícia, ela teria sido atirada do lado de fora da casa. Ninguém se responsabilizou pelo atentado.
"Isso é parte da conspiração contra nossas instituições. Essa é a face golpista da oposição venezuelana", afirmou o chanceler venezuelano, Roy Chaderton.
A explosão ocorreu após várias ameaças de bomba em embaixadas em Caracas. As sedes das representações de Alemanha, Canadá e Austrália foram esvaziadas anteontem após as ameaças.


Com agências internacionais


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