São Paulo, quinta-feira, 11 de janeiro de 2007

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Ex-inimigo dos EUA, Ortega volta ao poder

Sandinista que governou Nicarágua nos anos 80 toma posse prometendo moderação e reconciliação

GREG BROSNAN
DA REUTERS, EM MANÁGUA

Daniel Ortega, que liderou o país durante a Guerra Fria, voltou ontem ao poder na Nicarágua, o que dará ao presidente Hugo Chávez, da Venezuela, um novo aliado esquerdista em sua campanha para afastar a América Latina dos EUA.
Ortega, que tomou o poder pela primeira vez depois da revolução de 1979 e comandou um governo marxista por 11 anos, em meio a uma brutal guerra civil que opunha seus sandinistas aos guerrilheiros "contra" apoiados pelos EUA, conseguiu uma notável reviravolta em sua carreira política ao vencer a eleição de novembro.
Ainda que tenha abandonado muitas das políticas econômicas radicais adotadas nos anos 80, alegando ter aprendido com seus erros, ele continua socialista. Aos 61, promete respeitar a propriedade privada e o livre mercado, ainda que pretenda combater a pobreza. Ele prega a reconciliação, e deixou o marxismo de lado, substituindo-o pela religião. Com isso, conquistou os líderes da igreja e alguns de seus antigos rivais.
"Nosso compromisso é trabalho, paz e reconciliação", disse Ortega na véspera da posse. Mas sua vitória eleitoral ainda representa um revés para Washington em uma região onde a influência norte-americana está em declínio, já que os eleitores mais pobres, que não foram beneficiados pelas reformas que promoveram a abertura dos mercados, nos últimos anos vêm optando por líderes esquerdistas alinhados com o venezuelano Chávez.

Expectativa
A Radio Sandino, que apóia o Partido Sandinista, de Ortega, estava tocava ontem canções folclóricas revolucionárias, e o comércio de suvenires com a imagem de Che Guevara em um mercado perto da praça onde deve ser conduzida a posse de Ortega era intenso. Centenas de policiais estavam presentes para garantir a segurança, alguns armados com fuzis de assalto e posicionados sobre os edifícios decadentes da área.
A Nicarágua é o segundo mais pobre entre os países americanos, e os partidários de Ortega esperam que ele lance programas de educação e saúde, como os que criou no começo dos anos 80, antes que a guerra civil e o embargo norte-americano dilapidassem a economia nicaragüense. "Acredito que tudo vá mudar.
Minha mãe conta que a educação era gratuita. Agora, se você não tem dinheiro, não estuda", disse Marisela Davila, 20, vendedora de roupas. Ortega insiste em ter boas relações com os EUA, mas seus aliados mais próximos na América Latina são Chávez, o ditador cubano, Fidel Castro e Evo Morales, presidente da Bolívia.
Outro inimigo dos EUA, o presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad, deve visitar Manágua nos próximos dias. Embora Ortega deva confiar pesadamente na assistência venezuelana, um importante assessor do novo presidente disse que ele não seguiria cegamente as políticas de Chávez. "Nós respeitaremos completamente a propriedade privada, a liberdade empresarial e a economia de mercado", disse Jaime Morales, ex-líder dos contra que posteriormente se reconciliou com Ortega e se elegeu como vice-presidente em sua chapa.
Embora a elite endinheirada da Nicarágua tema novo colapso econômico e o ressurgimento das tensões com Washington, muitos oponentes dizem que concederão o benefício da dúvida ao líder sandinista.
"Deus deu a Ortega uma chance de corrigir os danos que ele causou à Nicarágua", disse Jairo Valle, 37, eleitor do Partido Liberal e dono de uma loja na favela de Ciudad Sandino.


Tradução de PAULO MIGLIACCI

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