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Ex-inimigo dos EUA, Ortega volta ao poder
Sandinista que governou Nicarágua nos anos 80 toma posse prometendo moderação e reconciliação
GREG BROSNAN
DA REUTERS, EM MANÁGUA
Daniel Ortega, que liderou o
país durante a Guerra Fria, voltou ontem ao poder na Nicarágua, o que dará ao presidente
Hugo Chávez, da Venezuela,
um novo aliado esquerdista em
sua campanha para afastar a
América Latina dos EUA.
Ortega, que tomou o poder
pela primeira vez depois da revolução de 1979 e comandou
um governo marxista por 11
anos, em meio a uma brutal
guerra civil que opunha seus
sandinistas aos guerrilheiros
"contra" apoiados pelos EUA,
conseguiu uma notável reviravolta em sua carreira política ao
vencer a eleição de novembro.
Ainda que tenha abandonado
muitas das políticas econômicas radicais adotadas nos anos
80, alegando ter aprendido com
seus erros, ele continua socialista. Aos 61, promete respeitar
a propriedade privada e o livre
mercado, ainda que pretenda
combater a pobreza. Ele prega a
reconciliação, e deixou o marxismo de lado, substituindo-o
pela religião. Com isso, conquistou os líderes da igreja e alguns de seus antigos rivais.
"Nosso compromisso é trabalho, paz e reconciliação", disse Ortega na véspera da posse.
Mas sua vitória eleitoral ainda representa um revés para
Washington em uma região onde a influência norte-americana está em declínio, já que os
eleitores mais pobres, que não
foram beneficiados pelas reformas que promoveram a abertura dos mercados, nos últimos
anos vêm optando por líderes
esquerdistas alinhados com o
venezuelano Chávez.
Expectativa
A Radio Sandino, que apóia o
Partido Sandinista, de Ortega,
estava tocava ontem canções
folclóricas revolucionárias, e o
comércio de suvenires com a
imagem de Che Guevara em
um mercado perto da praça onde deve ser conduzida a posse
de Ortega era intenso. Centenas de policiais estavam presentes para garantir a segurança, alguns armados com fuzis
de assalto e posicionados sobre
os edifícios decadentes da área.
A Nicarágua é o segundo
mais pobre entre os países
americanos, e os partidários de
Ortega esperam que ele lance
programas de educação e saúde, como os que criou no começo dos anos 80, antes que a
guerra civil e o embargo norte-americano dilapidassem a economia nicaragüense.
"Acredito que tudo vá mudar.
Minha mãe conta que a educação era gratuita. Agora, se você
não tem dinheiro, não estuda",
disse Marisela Davila, 20, vendedora de roupas.
Ortega insiste em ter boas relações com os EUA, mas seus
aliados mais próximos na América Latina são Chávez, o ditador cubano, Fidel Castro e Evo
Morales, presidente da Bolívia.
Outro inimigo dos EUA, o presidente iraniano Mahmoud
Ahmadinejad, deve visitar Manágua nos próximos dias.
Embora Ortega deva confiar
pesadamente na assistência venezuelana, um importante assessor do novo presidente disse
que ele não seguiria cegamente
as políticas de Chávez. "Nós
respeitaremos completamente
a propriedade privada, a liberdade empresarial e a economia
de mercado", disse Jaime Morales, ex-líder dos contra que
posteriormente se reconciliou
com Ortega e se elegeu como
vice-presidente em sua chapa.
Embora a elite endinheirada
da Nicarágua tema novo colapso econômico e o ressurgimento das tensões com Washington, muitos oponentes dizem
que concederão o benefício da
dúvida ao líder sandinista.
"Deus deu a Ortega uma
chance de corrigir os danos que
ele causou à Nicarágua", disse
Jairo Valle, 37, eleitor do Partido Liberal e dono de uma loja
na favela de Ciudad Sandino.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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