São Paulo, quinta-feira, 11 de janeiro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

análise

Mais tropas não deixam o cenário melhor

RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

A resposta é óbvia: somar 20 mil soldados americanos aos 132 mil hoje no Iraque não trará a vitória nem a curto nem a médio prazo. E a longo prazo o que importa não é o número de tropas mas sim a estratégia política capaz de fazer iraquianos sunitas e xiitas viverem em paz no mesmo país -de preferência não hostil ao Ocidente.
Mesmo porque apenas uma parte das tropas novas deverá ser empregada em combate. A maioria servirá para treinar tropas iraquianas e guardar as enormes instalações que os EUA criaram no país, principalmente em Bagdá.
É irônico que Bush tenha tomado agora essa medida, depois de invadir e ocupar o país do Oriente Médio com uma estratégia minimalista. Não deixa de ser uma maneira de mostrar algum tipo de decisão, embora seja exatamente oposta à retirada gradual das tropas sugerida por um relatório de um grupo de estudos bipartidário.
Mas também vai contra o que pensam muito dos militares americanos, para quem a questão da insurgência é cada vez mais sentida como algo que precisa ser resolvido politicamente. Mais soldados americanos só acirrariam os ânimos dos "nativos".
A maior ironia é que, durante a Guerra do Vietnã, políticos e militares tinham opiniões diversas. O general que comandou o esforço americano no Vietnã durante a maior parte do tempo, William Westmoreland, sempre pedia mais tropas argumentando que estava "vendo a luz no final do túnel". Chegou a ter mais de meio milhão de soldados ante de a torneira fechar. Mas, assim como agora, apenas uma fração dessa tropa serviu na linha de frente. Para cada soldado de fuzil na mão, havia uns cinco "pilotando" escrivaninhas ou limpando banheiros na retaguarda.
Comparar Iraque com Vietnã agora faz sentido, apesar de ainda serem situações bem distintas.
Na Indochina, os EUA tentavam defender um aliado de um vizinho comunista bem armado e da bem organizada guerrilha que ele apoiava. A União Soviética e a China davam importante apoio aos vietnamitas insurgentes.
Já no Iraque o "inimigo" é a própria cisão interna do país, que nunca, aliás, chegou a ser uma nação-Estado coerente, graças à divisão entre etnias e grupos religiosos, mantidos juntos à força pela ditadura de Saddam Hussein.
No Vietnã havia recrutamento da população. Já o Exército voluntário de hoje sofre para conseguir tropas novas, exigindo cada vez mais que a sua reserva imediata, a Guarda Nacional, entre em operação, mesmo correndo o risco de violar os regulamentos que deixam claro que ela não pode ser usada no exterior tempo demais (suas unidades só podem ser mobilizadas por 24 meses a cada cinco anos).
Nesse contexto, não se pode esquecer a dimensão política. Para os impacientes eleitores americanos, guerra é algo que deve acabar rápido.


Texto Anterior: Frases
Próximo Texto: Economia caótica faz do Iraque poço sem fundo
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.