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análise
Mais tropas não deixam o cenário melhor
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
A resposta é óbvia: somar 20 mil soldados americanos aos 132 mil hoje no
Iraque não trará a vitória
nem a curto nem a médio
prazo. E a longo prazo o
que importa não é o número de tropas mas sim a estratégia política capaz de
fazer iraquianos sunitas e
xiitas viverem em paz no
mesmo país -de preferência não hostil ao Ocidente.
Mesmo porque apenas
uma parte das tropas novas deverá ser empregada
em combate. A maioria
servirá para treinar tropas
iraquianas e guardar as
enormes instalações que
os EUA criaram no país,
principalmente em Bagdá.
É irônico que Bush tenha tomado agora essa
medida, depois de invadir
e ocupar o país do Oriente
Médio com uma estratégia
minimalista. Não deixa de
ser uma maneira de mostrar algum tipo de decisão,
embora seja exatamente
oposta à retirada gradual
das tropas sugerida por
um relatório de um grupo
de estudos bipartidário.
Mas também vai contra
o que pensam muito dos
militares americanos, para quem a questão da insurgência é cada vez mais
sentida como algo que precisa ser resolvido politicamente. Mais soldados
americanos só acirrariam
os ânimos dos "nativos".
A maior ironia é que, durante a Guerra do Vietnã,
políticos e militares tinham opiniões diversas. O
general que comandou o
esforço americano no
Vietnã durante a maior
parte do tempo, William
Westmoreland, sempre
pedia mais tropas argumentando que estava
"vendo a luz no final do túnel". Chegou a ter mais de
meio milhão de soldados
ante de a torneira fechar.
Mas, assim como agora,
apenas uma fração dessa
tropa serviu na linha de
frente. Para cada soldado
de fuzil na mão, havia uns
cinco "pilotando" escrivaninhas ou limpando banheiros na retaguarda.
Comparar Iraque com
Vietnã agora faz sentido,
apesar de ainda serem situações bem distintas.
Na Indochina, os EUA
tentavam defender um
aliado de um vizinho comunista bem armado e da
bem organizada guerrilha
que ele apoiava. A União
Soviética e a China davam
importante apoio aos vietnamitas insurgentes.
Já no Iraque o "inimigo"
é a própria cisão interna
do país, que nunca, aliás,
chegou a ser uma nação-Estado coerente, graças à
divisão entre etnias e grupos religiosos, mantidos
juntos à força pela ditadura de Saddam Hussein.
No Vietnã havia recrutamento da população. Já
o Exército voluntário de
hoje sofre para conseguir
tropas novas, exigindo cada vez mais que a sua reserva imediata, a Guarda
Nacional, entre em operação, mesmo correndo o
risco de violar os regulamentos que deixam claro
que ela não pode ser usada
no exterior tempo demais
(suas unidades só podem
ser mobilizadas por 24
meses a cada cinco anos).
Nesse contexto, não se
pode esquecer a dimensão
política. Para os impacientes eleitores americanos,
guerra é algo que deve acabar rápido.
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